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Construtoras pagam dividendos? 3 empresas passam a integrar novo índice da B3

Embora seja um setor cíclico, analistas enxergam potencial de pagar proventos nos próximos 3 anos

Construtoras pagam dividendos? 3 empresas passam a integrar novo índice da B3
Foto: Envato Elements

Uma nova carteira do Índice de Dividendos da B3 (IDIV) entrou em vigor nesta semana e deve permanecer até o começo de maio. Conhecido por reunir ações que se destacam no pagamento de proventos, o índice possui agora um total de 50 papéis, contra 51 da composição anterior.

Chama a atenção o fato que as novas integrantes do IDIV são majoritariamente do setor de construção e incorporação, segmento que não é muito perene na distribuição de dividendos. Companhias como Mitre (MTRE3), Cury (CURY3) e Even (EVEN3) entraram no índice, além da fabricante de ônibus Marcopolo (POMO4).

Bons ventos para as construtoras?

Para o analista Gabriel Duarte, da Ticker Research, a entrada de construtoras no IDIV está relacionada a um ciclo de mercado que deve beneficiar o segmento, diante da queda dos juros. Segundo o analista, conforme a Selic cair, o mercado de construção ficará mais aquecido e os resultados dessas empresas podem melhorar, favorecendo o pagamento de proventos.

“Acredito que 2024 será um bom ano para receber dividendos dessas empresas, embora não seja um setor interessante para quem quer fazer buy and hold (comprar e manter no longo prazo)”, avalia Duarte.

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As companhias já estão entregando um dividend yield (retorno em dividendos) moderado aos investidores. Em 2023, Mitre, Cury e Even apresentaram yields de 12,5%, 4,3% e 3,7%, respectivamente, destaca o analista.

Identificar quanto tempo deve durar um ciclo positivo na construção civil não é tarefa simples. Duarte explica que, pelo consenso de mercado, ciclos costumam durar entre três e cinco anos. É mais ou menos esse o período em que as companhias fazem lançamentos, vendem imóveis e geram caixa para então começar a construir, entregar o empreendimento e receber o restante do valor devido. O estoque também influencia muito nessa geração de caixa.

Para Duarte, bons dividendos podem ser esperados do setor de construção em 2024 e 2025 – que é quando as empresas devem ter um forte fluxo de caixa circulando. A partir de 2026, a expectativa do analista é que o ciclo mude, iniciando o período de construção dos empreendimentos, que implicaria dividendos menores por conta dos gastos destinados às obras.

Daniel Nigri, fundador e analista da Dica de Hoje Research, cita que as empresas de construção que ingressaram no IDIV são companhias que também apresentaram uma valorização muito forte em 2023, em consequência acabaram tendo uma negociabilidade maior. “Quando uma empresa aumenta sua negociação, acaba tendo mais possibilidade de integrar índices”, observa.

Para Nigri, a visão do setor também é positiva e tem como cenário base que as construtoras distribuam dividendos elevados nos próximos 3 anos. Mas, faz a ressalva, tudo vai depender da taxa de juros e a melhora do cenário macroeconômico.

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Apesar disso, Nigri considera que é uma boa estratégia o investidor ter posição em algumas construtoras. “Pode acontecer de ser um voo da galinha, se os juros subirem ao invés de cair. Mas a expectativa é de juros baixos, inflação controlada e empresas de construção pagando dividendos fortes por algum tempo”, aponta.

Quem deixou o IDIV?

Entre as companhias que deixaram o Índice de Dividendos estão: Copel (CPLE3), Trisul (TRIS3), B3 (B3SA3), Marfrig (MRFG3) e Randon (RAPT4). Contudo, a Copel ainda segue representada no IDIV por meio das ações preferenciais CPLE6.

Embora as empresas tenham sido excluídas do índice, Duarte esclarece que não significa que são empresas ruins ou que não pagam dividendos. “Estas empresas apenas não figuraram entre as maiores pagadoras de dividendos da bolsa nos últimos 36 meses, um dos critérios do IDIV”, observa.

A B3, bolsa de valores, explicou ao E-investidor que o motivo destas companhias terem saído do IDIV estaria relacionado ao item 5.2 da metodologia do índice.

Este estabelece que serão excluídos os ativos que “estiverem, em ordem decrescente de dividend yield, classificados acima dos 44% do total de ativos elegíveis”.

Como funciona a metodologia do IDIV?

O Índice de Dividendos conta com alguns critérios para que uma ação faça parte da sua cesta de ativos. São estes: estar presente em 95% dos pregões das últimas três carteiras do índice. Não ser considerada Penny stock (ou seja, negociar abaixo de R$ 1).

Os papéis também precisam figurar entre os 33% de ativos com maiores dividend yields nos últimos 36 meses e ter pagado dividendos todos os anos nos últimos três anos.

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As ações não podem ser de empresas que estejam em recuperação judicial, extrajudicial ou algum outro tipo de regime especial de listagem.

Na carteira atual, os maiores pesos do IDIV são: Gerdau (GGBR4) com 5,73% de participação, Copel (CPLE6) com 5,37% e Petrobras (PETR4) com peso de 5,18%.

Na quarta e quinta posição estão Cemig (CMIG4) e Petrobras (PETR3) com participação de 5,05% e 4,69% respectivamente.

Veja a seguir a nova composição do IDIV:

Ação Empresa Quantidade teórica Participação (%)
ABCB4 ABC BRASIL 112.596.646 0,5561
ALUP11 ALUPAR 220.759.941 1,4176
AURE3 AUREN 457.679.426 1,2414
BRSR6 BANRISUL 306.453.645 0,8337%
BBSE3 BBSEGURIDADE 545.114.447 3,7383%
BRAP4 BRADESPAR 380.436.831 1,9895%
BBAS3 BRASIL 396.582.449 4,4768%
AGRO3 BRASILAGRO 96.658.494 0,5261%
CXSE3 CAIXA SEGURI 784.356.029 2,062%
CMIG3 CEMIG 546.807.935 1,686%
CMIG4 CEMIG 2.157.902.950 5,0486%
CSMG3 COPASA 285.645.639 1,1922%
CPLE6 COPEL 2.545.307.750 5,374%
CPFE3 CPFL ENERGIA 284.539.416 2,2331%
CMIN3 CSNMINERACAO 1.683.234.625 2,6628%
CURY3 CURY S/A 182.321.209 0,6684%
DIRR3 DIRECIONAL 163.080.575 0,7441%
EGIE3 ENGIE BRASIL 378.173.990 3,4936%
EVEN3 EVEN 288.501.857 0,4821%
FESA4 FERBASA 61.376.958 0,5815%
FLRY3 FLEURY 365.006.180 1,3419%
GGBR4 GERDAU 1.183.245.262 5,7296%
GOAU4 GERDAU MET 1.000.961.394 2,2154%
GRND3 GRENDENE 406.425.647 0,5856%
RANI3 IRANI 155.753.957 0,3466%
ITSA4 ITAUSA 1.332.917.619 2,817%
JBSS3 JBS 673.468.323 3,4189%
JHSF3 JHSF PART 453.565.710 0,5148%
KEPL3 KEPLER WEBER 267.607.296 0,5961%
KLBN11 KLABIN S/A 709.464.733 3,2127%
LAVV3 LAVVI 111.931.968 0,2009%
POMO4 MARCOPOLO 841.869.850 1,2095%
LEVE3 METAL LEVE 80.126.895 0,577%
BEEF3 MINERVA 395.643.098 0,6023%
MTRE3 MITRE REALTY 79.178.852 0,0994%
PETR3 PETROBRAS 590.840.282 4,6937%
PETR4 PETROBRAS 682.191.496 5,1775%
PSSA3 PORTO SEGURO 275.140.721 1,6115%
ROMI3 ROMI 68.313.354 0,1866%
SANB11 SANTANDER BR 499.015.224 3,2848%
CSNA3 SID NACIONAL 910.710.028 3,6489%
TAEE11 TAESA 331.275.965 2,5911%
TASA4 TAURUS ARMAS 103.750.861 0,3213%
TGMA3 TEGMA 48.503.332 0,2796%
VIVT3 TELEF BRASIL 300.540.563 3,2732%
TRPL4 TRAN PAULIST 599.901.324 3,2398%
UNIP6 UNIPAR 70.291.801 1,0971%
USIM5 USIMINAS 780.744.795 1,4781%
VALE3 VALE 284.098.114 4,4698%
WIZC3 WIZ CO 114.089.234 0,1685%
QUANTIDADE TEORICA TOTAL 25.594.104.690 100%

Fonte: B3

Outros índices de dividendos

Desde o final de setembro de 2023, o IDIV não é mais o único índice de dividendos na B3, o Ibovespa Smart Dividendos B3 também reúne boas pagadoras e serve como referência para alguns ETFs (fundos de índice).

A carteira do Ibovespa Smart Dividendos B3 está composta por 21 ativos. Entre os critérios para integrar essa carteira estão: fazer parte do índice Ibovespa e figurar entre as 25% empresas com maior dividend yield (retorno em dividendos) médio ponderado – que leva em conta o valor pago nas últimas três carteiras e outros critérios.

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O dividend yield também é utilizado para ponderar o peso de cada papel na carteira, não podendo nenhum ativo concentrar participação de mais de 20%. As ações não podem ser de empresas que estejam em recuperação judicial, extrajudicial ou algum outro tipo de regime especial de listagem.

Na nova composição, Isa Cteep (TRPL4) passou a integrar o índice IBSD. Já Cyrela (CYRE3) foi excluída da cesta de ativos.

Segundo a B3, a Cyrela saiu do índice IBSD por descumprir o critério 4.2 da metodologia. Este estabelece que a companhia deve “estar dentro dos 25% das empresas elegíveis por liquidez (critério 4.1) com os maiores Dividend Yield Médio Ponderado (DYMP)”. A nova carteira do índice deve vigorar até 03 de maio de 2024.

O Ibovespa Smart Dividendos B3 conta ainda com duas versões: total return ou índice de acumulação, onde os dividendos recebidos das empresas são reinvestidos. E price return, ou índice de distribuição, onde o desempenho do índice não inclui o pagamento de dividendos e caso seja replicado por um ETF, os proventos são recebidos pelos cotistas.