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Betina Roxo: “Bolsa brasileira ainda tem expectativas favoráveis”

Head de conteúdo digital da XP vê renda fixa atrativa com a Selic, mas reforça importância da renda variável

Betina Roxo: “Bolsa brasileira ainda tem expectativas favoráveis”
Betina Roxo defende carteira de investimentos diversificada - Foto: XP
  • O Copom anunciou, nesta quarta-feira (16), mais um aumento - o nono consecutivo - da taxa Selic, que agora chega ao patamar de 11,75% ao ano
  • Roxo reforça a importância de diversificar a carteira e isso passa por ter ativos de renda variável. “Quando olhamos a bolsa brasileira, apesar de ela ser uma das que mais subiram neste ano, ainda tem expectativas muito favoráveis para ela”, avalia a especialista
  • Embora a guerra entre Rússia e Ucrânia tenha sacudido as economias mundiais, a especialista avalia que o impacto do conflito, mesmo que as perspectivas para a inflação piorem, não mudará a estratégia do BC para a taxa de juros. Para ela, a Selic ainda vai continuar alta por mais tempo

(Isaac de Oliveira, especial para o E-Investidor) – Nesta quarta-feira (16), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou mais um aumento – o nono consecutivo – da taxa Selic, que agora chega ao patamar de 11,75% ao ano. O ajuste, decidido na segunda reunião do colegiado em 2022, veio em linha com o consenso de mercado.

A alta era esperada devido à alta inflação, pressionando a autoridade monetária a elevar os juros básicos do País. No último Boletim Focus, a estimativa para a inflação em 2022 disparou a 6,45%, bem acima do teto da meta, de 5%. O mesmo se viu nas projeções de 2023 (3,7%) e de 2024 (3,15%), que também se afastaram da meta central de 3,25% e 3%, respectivamente.

Para Betina Roxo, head de conteúdo digital da XP, o ganho de atratividade em títulos de renda fixa é “automático”, na esteira do que se vê desde que o BC começou a escalada de alta dos juros, em março do ano passado.

Ainda assim, Roxo reforça a importância de diversificar a carteira e isso passa por ter ativos de renda variável. “Quando olhamos a bolsa brasileira, apesar de ela ser uma das que mais subiram neste ano, ainda tem expectativas muito favoráveis para ela”, avalia a especialista.

Embora a guerra entre Rússia e Ucrânia tenha sacudido as economias mundiais, a especialista avalia que o impacto do conflito, mesmo que as perspectivas para a inflação piorem, não mudará a estratégia do BC para a taxa de juros. Para ela, a Selic ainda vai continuar alta por mais tempo.

“Temos uma estimativa da Selic de 12,75% no final de 2022 e, em 2023, ela deve começar a cair, mas ainda ficará em 8,25%”, diz Roxo.

Ao E-Investidor, a especialista da XP avalia as alternativas na renda fixa e variável, comenta sobre as perspectivas para a bolsa em 2022 e a importância de diversificar os investimentos também fora do Brasil mesmo em momentos conturbados.

E-Investidor – O mercado costuma precificar os fatos com antecedência. Com a confirmação de hoje, o que devemos esperar do cenário atual dos investimentos no Brasil?

Betina Roxo – Desde que vimos a taxa de juros subir, há uma maior atratividade da renda fixa. Então, em um primeiro momento, é automático uma melhora para a renda fixa e menor atratividade da renda variável.

Ainda assim, mesmo com tudo isso que está acontecendo, o mais importante é manter uma carteira diversificada. Porque quando olhamos a bolsa brasileira, apesar de ela ser uma das que mais subiram neste ano, ainda tem expectativas muito favoráveis para ela.

Qual o impacto da guerra da Rússia e Ucrânia na decisão do colegiado?

Roxo – O impacto do conflito, mesmo que as perspectivas para a inflação piorem, não muda muito o plano de voo do BC quanto à taxa de juros, que deve continuar alta por mais tempo.

O mercado vem aumentando suas estimativas para a Selic. Quais são as estimativas da casa para a taxa neste e no próximo ano?

Roxo – Temos uma estimativa da Selic de 12,75% no final de 2022 e, em 2023, ela deve começar a cair, mas ainda ficará em 8,25%.

O BC vem lutando contra a inflação, sem sucesso, por meio de sucessivos aumentos dos juros. Quais ativos de renda fixa vão se beneficiar de mais uma alta?

Roxo – Nesse cenário de aumento de juros e com o Copom sinalizando ficar mais aberto para as próximas reuniões, em vez de sinalizar outra alta de mesma magnitude, vemos que os títulos pré-fixados e os indexados à inflação de prazos curtos se valorizam e os de prazos longos desvalorizam.

Qual é a recomendação para quem quiser diversificar a carteira com ações, considerando os impactos da alta da Selic?

Roxo – Estamos em um momento de stock picking, de entender no detalhe ação por ação antes de investir. Com os juros elevados, as empresas de setores de capital intensivo, como o de tecnologia, por exemplo, acabam tendo um custo maior porque elas fazem dívida para investir e crescer. Neste cenário, fica mais complicado para elas.

Já os bancos e as instituições financeiras acabam se beneficiando dos juros mais altos. Mas é preciso lembrar que investir em renda variável não é algo tão simplista. É importante analisar caso a caso e entender o cenário como um todo.

Há muito capital estrangeiro vindo para a bolsa brasileira, em busca principalmente de ações ligadas a commodities. Onde estão as oportunidades neste setor?

Roxo – No caso do petróleo, vimos que a Petrobras anunciou reajuste mas o desconto em relação à paridade chegou a 60%. Então, mesmo com esse aumento, a paridade ainda não foi atingida por completo. Então ainda tem esse espaço positivo, esse upside para o preço, que ajudaria empresas de petróleo no Brasil. Mas é sempre importante entender se faz sentido ainda ou não montar essa carteira diversificada, com papéis do setor de commodities, e se sim, não concentrar em uma commodity.

Quando olhamos para as commodities agrícolas, achamos também que tem uma oportunidade. Claro que tem toda uma preocupação porque a Ucrânia e a Rússia são muito relevantes. Um ponto sensível é as restrições à exportação feitas pelo governo russo. Embora o Brasil não esteja na lista de países vetados, esse é um ponto que pode impactar a produção mundial de commodities.

No caso doméstico, também é importante monitorar as questões climáticas porque os fertilizantes, altamente utilizados no Brasil, são produzidos com muita expressividade na Rússia e na Ucrânia.

Você falou que há boas perspectivas para a bolsa em 2022. Apesar das condições macroeconômicas difíceis, internas e externas, o que inspira o otimismo?

Roxo – No curto prazo, a volatilidade deve seguir alta. Mas estamos construtivos para a bolsa brasileira, principalmente pela combinação de rotação global de crescimento para valor, pela forte exposição a commodities e pelos múltiplos de entrada muito baixos, que torna a nossa bolsa mais barata em relação às de fora.

Além disso, mais recentemente, iniciou um fluxo de capital saindo da Rússia e migrando para outros emergentes, como o Brasil. Com isso, esperamos uma revisão para cima das estimativas de lucro, tanto por esse fluxo de investidores estrangeiros seguindo em patamares elevados como pelo maior preço das commodities.

Qual é a projeção para o Ibovespa em 2022?

Roxo – Nosso valor justo é de 123 mil pontos para o índice, que depende principalmente desses lucros de empresas e das taxas de juros reais de longo prazo.

Com mais uma crise global nas contas, já passou da hora do investidor brasileiro também ter parte dos investimentos fora do País?

Roxo – Já estamos falando de ter exposição internacional há um bom tempo. Quando veem a bolsa brasileira indo melhor que as bolsas internacionais, as pessoas acabam esquecendo da importância de ter exposição internacional. Mas, quando olhamos o mercado acionário mundial, a bolsa brasileira representa menos de 1%. Se estiver só na bolsa brasileira, você estará fora de 99% das oportunidades do mundo em renda variável. Então faz muito sentido sim ter essa diversificação internacional, ainda mais com a acessibilidade que temos. Hoje tem muitos tipos de investimentos e com muita facilidade.

Mas como internacionalizar a carteira com segurança, considerando que há uma guerra em curso afetando a economia global?

Roxo – Depende muito da classe de ativo. A renda fixa, por exemplo, tem vários segmentos. Investir no crédito de empresas sólidas é uma forma mais conservadora e tem fundos que já fazem isso diretamente, com pessoas especializadas fazendo essa seleção de dívidas. Os títulos de governos são outra opção.

Na renda variável, você também pode tentar mitigar os riscos, escolhendo empresas sólidas – que têm uma margem mais alta que os competidores, endividamento baixo, potencial de crescimento, que são líderes nos setores em que atuam. Empresas como essas, que chamamos de alta qualidade, são opções interessantes. Mas isso não significa que não tenha volatilidade. Ela  ainda deve continuar, dadas as incertezas que temos.

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