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Falência do SVB refuta a tese de analistas sobre investir no exterior?

Com tanta turbulência no Brasil, diversificação internacional se via ainda mais necessária. Isso continua?

Falência do SVB refuta a tese de analistas sobre investir no exterior?
Apesar da volatilidade causada pelo SVB, especialistas ainda defendem alocação internacional. (Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Illustration)
  • No início de 2023, com as instabilidades vistas no mercado brasileiro, os investimentos no exterior voltaram ao foco como uma maneira de proteger a carteira de riscos locais
  • Agora, é o mercado americano que está balançando depois da falência do Silicon Valley Bank, o maior banco nos EUA a fechar as portas desde a crise de 2008
  • Mas, segundo especialistas, a diversificação internacional deve seguir no radar; quem já investe lá fora também não precisa mudar a carteira

Desde o início do ano, com a mudança de governo no Brasil e a descoberta de um rombo bilionário nas contas da Americanas (AMER3), diversos analistas voltaram a reforçar a importância de ter investimentos no exterior. Com tantos eventos balançando o mercado brasileiro, a diversificação internacional se via ainda mais necessária como uma estratégia de descorrelacionar parte do portfólio dos riscos domésticos.

O mês de março, no entanto, trouxe um novo fator para a balança: a falência do Silicon Valley Bank (SVB), o maior banco americano a quebrar desde a crise de 2008. Contamos aqui quem era a instituição financeira e, nesta outra reportagem, mais detalhes sobre o que a fez fechar as portas.

Desde a última sexta-feira (10), quando a falência do SVB foi decretada, os mercados americanos sofreram muita instabilidade, com um temor de que a crise respingasse em outras instituições financeiras e gerasse uma corrida aos bancos.

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Nemer Rahal, sócio executivo da Mindset Ventures, explica que a atuação do banco central americano, o Federal Reserve (Fed), conseguiu minimizar os impactos da falência da instituição financeira. Nesta reportagem, explicamos o plano de emergência criado pelo Fed para garantir liquidez no mercado.

“Isso estancou uma eventual crise maior que poderia acontecer no sistema bancário. Não existe nenhuma mudança na recomendação da diversificação e de alocação de recursos nos Estados Unidos”, afirma Rahal.

Quando o assunto é investimentos no exterior, especialistas defendem que a parcela internacional da carteira deve ser uma posição estrutural, ou seja, que se mantenha independentemente do momento.  O tamanho dessa alocação varia de acordo com os objetivos e perfil de risco do investidor. Nessa entrevista, Thiago Salomão, criador do Market Makers, sugere que a dolarização da carteira varie entre 10% a 20%.

E, claro, que seja uma alocação com foco no longo prazo.

A crise no SVB, no entanto, indica uma volatilidade de curto prazo, que deve continuar afetando os preços dos ativos americanos apenas nos próximos dias. “Se o investidor não estiver especificamente alocado no SVB, os impactos são momentâneos”, destaca Ivonsir Coelho, trader da mesa de operações da Alta Vista Investimentos.

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Nesse contexto, até mesmo investidores brasileiros com alocações nos EUA não devem encarar o momento com urgência para fazer grandes mudanças em suas posições. O mercado projeta um cenário mais otimista, de que as medidas do Fed serão suficientes para conter uma crise maior.

“Quem tem uma carteira diversificada, com ativos de qualidade, deve continuar bem alocado já que isso tende a se recuperar ao longo do tempo”, diz Coelho.

Luiz Osório Leão Filho, gestor de estratégias internacionais da SOMMA Investimentos, concorda. O especialista explica que até existem ferramentas para proteger a parcela do patrimônio que está no exterior, como alocação em ativos considerados mais “defensivos” (como os títulos do Tesouro americano ou ações de empresas consolidadas) ou operações em hedge.

Ainda assim, o gestor diz não é o momento de fazer mudanças na carteira. “O mercado está muito incerto, então quem já tem posição no exterior, mantenha”, orienta.

Por onde começar

Na próxima quarta-feira (22) acontece mais uma reunião do FOMC (Federal Open Market Committee), o “Copom” dos Estados Unidos. Com a repercussão da falência do SVB, o mercado mudou o entendimento que tinha até meados de fevereiro, quando esperava por uma alta de 25 pontos-base na taxa de juros do país nesta reunião. Com a necessidade de garantir liquidez ao sistema financeiro americano, a possibilidade de a instituição optar por manter o atual patamar de juros, de 4,5% a 4,75%, ganhou força.

Leia mais: Caso SVB acelera início da queda de juros nos EUA?

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Como contamos aqui, o aperto monetário está causando volatilidade no mercado americano, mas não precisa afastar investidores brasileiros de lá. Segundo os analistas, a diversificação internacional faz sentido independentemente do cenário e há oportunidades no mercado.

A renda fixa americana, por exemplo, é uma alternativa. Como a maior parte desses ativos é prefixada, os títulos sofreram com a marcação a mercado em 2022 e operam com preços descontados e com taxas atrativas. Um cenário que não era visto há muitos anos por lá – por isso, analistas vêm chamando a atenção para a classe.

“Como as taxas de juros estão muito altas no mundo todo, 2023 é um ano preponderante para a renda fixa”, diz Leão Filho, da SOMMA. “Quem vai montar uma posição no exterior agora deve começar na renda fixa com baixo risco de crédito.”

A indicação do gestor é procurar por títulos do próprio Tesouro americano, os bonds, considerados o investimento mais seguro do mundo. Títulos de crédito privado de empresas de qualidade, com boa avaliação de crédito, também podem ser boas opções com rentabilidades mais elevadas para os que tiverem maior apetite ao risco. Veja o passo a passo para investir na renda fixa americana.

Ainda assim, como não existe um ativo único para todos os tipos de investidores, estar atento ao seu próprio perfil de risco será fundamental. Especialmente em um ano de turbulências como 2023.

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“Para aqueles que têm menos aversão a risco e suportam mais volatilidade, podem fazer alocação em mercado de renda variável. E para aqueles que são mais conservadores e buscam um pouco mais de previsibilidade, alguma coisa em renda fixa é interessante também”, diz Nemer Rahal, da Mindset. “Continuamos olhando o mercado com interesse, mas com bastante cautela.”

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