O Federal Reserve (Fed), banco central americano, decidiu reduzir as taxas de juros americanas em 25 pontos-base, para o intervalo entre 4,5% e 4,75% em reunião realizada nesta quinta-feira (7) – o segundo ajuste para baixo realizado em 2024. O primeiro, feito no encontro de setembro, representou o primeiro corte nas taxas desde 2020, durante pandemia da covid-19.
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A decisão do Fed não trouxe surpresas ao mercado, que já apostava em uma redução dessa magnitude. Em seu comunicado, a autoridade monetária destaca que a atividade econômica dos Estados Unidos continua se expandindo “em um ritmo sólido” e que, embora a taxa de desemprego venha subindo, “continua baixa”.
Ainda segundo o texto, a inflação “continua um tanto elevada”, apesar de registrar progresso rumo à meta de 2% ao ano. O comunicado pontua ainda que a autoridade segue empenhada em atingir o seus objetivos do duplo mandato para inflação e emprego, e que os riscos para ambos os lados estão “aproximadamente em equilíbrio”, com perspectiva econômica ainda incerta.
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Para Evandro Alonso, CEO do Grupo Kaza, especializado em ativos imobiliários, a redução de juros mostra que o processo de desinflação da economia americana continua em curso, acalmando o mercado e reduzindo as variações de preços dos ativos no exterior. “Isso também significa que o dólar tende a diminuir sua força, abrindo uma oportunidade para investir em ativos nos Estados Unidos, em especial, imóveis, que funcionam como uma estratégia de hedge”, comenta.
Na visão de Victor Furtado, Head de Alocação da W1 Capital, a decisão unânime do Fed mostra clareza na cautela em que a autoridade monetária irá seguir nos próximos cortes. “Com os dados de atividade forte e uma inflação convergindo a meta, é possível que os Estados Unidos alcance o pouso-suave e consiga ter um ritmo tranquilo de cortes até chegar em sua estabilidade”, afirma o analista. O pouso-suave citado por ele significa reduzir a inflação com o menor custo possível para a atividade econômica e o emprego.
Já Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, ressalta uma mudança importante no texto do comunicado do Fed: a exclusão do trecho que citava uma maior confiança de que a inflação caminha à meta de 2% ao ano. “Essas alterações dão um tom mais cauteloso do que o esperado. Por enquanto, acredito que as mudanças são consistentes com cortes de juros não-consecutivos em 2025, mas elas também seriam consistentes com uma pausa no ciclo de cortes”, destaca.
Desde a última reunião, os dados da inflação nos Estados Unidos vieram praticamente em linha com as projeções. A exceção foi o payroll (relatório oficial de emprego) de outubro, divulgado na semana passada, que mostrou a criação de 12 mil vagas no mês, em termos líquidos. Analistas consultados pelo Projeções Broadcast esperavam geração de 70 mil a 180 mil vagas, com mediana de 100 mil. Apesar de ter vindo abaixo das expectativas, o dado não trouxe tantos efeitos para o clima dos mercados em Wall Street, já que foi impactado por fatores atípicos, como furacões e greves.
Além de acompanharem novos dados econômicos, investidores também estiveram de olho nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Com Donald Trump eleito novamente para o comando da Casa Branca a partir de 2025, a percepção do mercado é de que o novo governo será mais estimulativo para a economia, gerando pressões inflacionárias adicionais. Entre as principais propostas do republicano, uma delas inclui a imposição de tarifas sobre as importações, o que, no curto prazo, tende a gerar um aumento da inflação.
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“Além disso, Trump promete redução nos impostos internos, que tende a estimular a atividade e eventualmente pressionar os preços”, afirma a equipe de research do Banco Inter em relatório. “Portanto, o mercado precifica um mundo sob Trump em que a inflação será maior e mais persistente, o que forçará os juros também serem persistentemente mais altos”, complementa.
Outra questão decisiva para a política monetária no governo de Trump será a composição do Senado dos Estados Unidos. O Partido Republicano conquistou maioria na casa, o que deve impulsionar mudanças na direção do Fed daqui para frente. “Com o fim do mandato de Jerome Powell em 2026, uma maioria republicana expressiva poderá favorecer a indicação de um nome menos ortodoxo para liderar a autoridade monetária”, salienta o BTG Pactual em relatório divulgado nesta quinta-feira (7).
Agora o mercado aguarda com dúvida os próximos passos do Fed em 2024. “A ausência de pistas sobre o que pode vir pela frente levantou questionamentos sobre a decisão de dezembro. No momento as apostas estão divididas. Cerca de 65% esperam mais um corte de 0,25 ponto percentual enquanto 35% acreditam que o corte de hoje tenha sido o último do ano”, reforça Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Como a decisão do Fed impacta o mercado brasileiro?
Com os juros menores na maior economia do mundo, investidores globais passam a ter maior apetite por risco, o que pode levar o fluxo de capital americano de volta a mercados emergentes. O aumento do diferencial entre as taxas americana e brasileira também favorece operações de carry trade, aplicação financeira que consiste em tomar dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores – e, assim, lucrar com a diferença. Na prática, isso pode significar mais dólares entrando no País.
Vale lembrar que, na quarta-feira (6), o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a Selic em 0,5 ponto percentual, fazendo a taxa básica de juros brasileira alcançar o patamar de 11,25% ao ano. “O quadro atual é delicado. Inclusive, os dirigentes mencionam que a magnitude do ciclo de cortes e o ritmo vão ser ditados pela convergência da inflação para a meta. Com isso, eles dão a entender que se precisar acelerar vão ampliar o ritmo de redução 0,5 para 0,75 ponto percentual”, afirma Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.
No cenário doméstico, outro foco dos investidores brasileiros é a questão fiscal. Investidores aguardam o anúncio do pacote de corte de gastos do governo. Fontes ouvidas pelo Broadcast Político afirmam que, com a agenda cheia, a cúpula do Congresso Nacional já teria sinalizado a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que nesta quinta-feira (7) seria muito difícil um encontro entre Legislativo e Executivo para tratar sobre o tema.
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Com o mercado à espera das aguardadas medidas de contenção de gastos públicos, o Ibovespa recua 0,50% aos 129.694,79 pontos nesta tarde, enquanto o dólar sobe 0,07% a R$ 5,681, com o mercado também reagindo à decisão de política monetária do Fed. As bolsas de Nova York reagem com instabilidade: Dow Jones opera com baixa de 0,01%, após alternar leve queda e leve alta na sequência da decisão. O S&P 500 e o Nasdaq, por sua vez, aceleram marginalmente alta a 0,64% e 1,39%, respectivamente, após terem, brevemente, perdido fôlego com o anúncio da decisão.