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- A reação do mercado à eleição de Trump provocou uma queda no preço dos títulos, o que elevou a taxa de rendimento dos papeis
- O T-Note é considerado a taxa básica do mercado financeiro, servindo como um indicador chave que investidores e analistas monitoram para entender as tendências de juros
- Apesar da aposta em inflação, Trump pode não querer cometer o mesmo erro de Joe Biden, que perdeu popularidade por causa da queda do poder de compra da população
Os títulos do Tesouro dos EUA registraram uma queda acentuada de preços nesta quarta (6), levando os rendimentos a dispararem para as maiores altas em meses. A vitória de Donald Trump nas eleições incentivou expectativas de novas políticas econômicas que podem pressionar a inflação.
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Para o portfolio manager da B.Side, Jonas Chen, o movimento reforça a estratégia de investimentos nos títulos americanos. “Os juros têm se mantido interessantes”, diz, lembrando que no começo do ano a taxa básica do Fed variava de 5,25% a 5,50% ao ano, mas que no atual patamar de 4,75% a 5% se mantém atrativa, especialmente se considerar o passado recente de juros zero.
“Hoje pode-se comprar um papel do governo americano ou de uma corporação, é uma exposição em dólar que ainda rende alguma coisa. Quando os juros eram muito baixos, era só dólar sem ganho de taxa”, considera.
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A reação do mercado à eleição de Trump provocou uma queda no preço dos títulos das Treasuries de 10 anos (T-Notes) que passaram de US$ 99,75 para US$ 98,75 por cada US$ 100 de valor nominal. Com essa desvalorização, o desconto sobre os títulos aumentou, o que elevou a taxa de rendimento. Um salto na manhã desta quarta-feira para 4,475%, em comparação com o nível de fechamento de 4,436% da terça-feira (5), antes do resultado eleitoral.
“O título do Tesouro dos EUA de 10 anos (10-year Treasury note) é a principal referência de rendimento para diversos tipos de financiamento, como empréstimos para automóveis, hipotecas e outras taxas de crédito nos EUA”, explica Adriano Cantreva, sócio da Portofino Multi Family office.
O T-Note é considerado a taxa básica do mercado financeiro, servindo como um indicador chave que investidores e analistas monitoram para entender as tendências de juros e o custo de capital. As flutuações no rendimento desse título impactam diretamente as condições de financiamento para consumidores e empresas.
Preço de títulos oscila com juros
Na prática, o preço do título varia de acordo com o movimento de compra e venda do mercado. Seu valor é calculado como o valor presente de um fluxo de caixa futuro. O título de 10 anos do Tesouro americano paga juros semestrais ao longo desse período. Um papel de US$ 100 emitido hoje pagará US$ 4,40 por ano em duas parcelas semestrais de US$ 2,20 e, ao final, o investidor tem o valor principal devolvido. “Esse é o fluxo de caixa”, explica Cantreva.
Com uma taxa de juros maior, o preço dos títulos cai. O mesmo acontece se o investidor compra um imóvel para aluguel: se o valor pago na compra é mais baixo e o valor do aluguel é o mesmo, seu retorno é maior porque foi pago menos pelo bem. E vice-versa: se paga mais caro, seu retorno diminui. “O preço do título é inversamente proporcional à taxa de juros”, diz.
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No caso dos EUA, o comprador da dívida americana passou a pagar menos pelo título porque prevê que a inflação deverá subir, baseando-se no discurso do candidato Donald Trump de protecionismo e deportação de mão de obra, medidas consideradas inflacionárias.
O partido Republicano já conquistou maioria no Senado e, até esta quarta, estava com boas chances de ganhar também na Câmara, numa “varrida” republicana, ou “republican sweep”. Caso isso aconteça, ampliam as chances de o presidente eleito entregar o que prometeu em campanha.
Trump pode manter cautela com inflação
Apesar disso, Cantreva não acredita na manutenção de medidas inflacionárias por tanto tempo. “Acreditamos que o mercado se estressou demais, então compramos títulos de 30 anos“, diz. Ele afirma que os títulos de 30 anos tiveram uma correção ainda maior em relação aos de 10 anos, chegando a bater 2,5% de queda, contra 1% dos títulos menos longos. “Comprei porque, se houver uma recuperação, o ganho será maior, partindo do princípio de que a situação não seja tão ruim quanto o mercado está considerando.”
Na sua avaliação, Trump não deverá cometer o mesmo erro de Joe Biden, que perdeu popularidade por causa da inflação. “Embora a economia esteja bem, o poder de compra das pessoas caiu. Acreditamos que Trump não cometerá o mesmo erro; ele estará mais atento à inflação”, diz.
Dentro da estratégia de manter investimentos dolarizados, Jonas Chen da B.Side diz que um investidor com um perfil de risco intermediário poderia manter até 15% de sua carteira em dólar com 2/3 disso em renda fixa americana. “Essa questão, no entanto, depende do perfil de cada cliente e não se trata de uma recomendação”, pondera.
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