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- Os Fiagros listados na Bolsa brasileira entregaram dividendos de até 25,96% nos últimos 12 meses
- O analista Leonardo Garcia cita alguns Fiagros que acredita devem entregar dividendos de entre 11% e 13% em 2024
A indústria de Fiagros, os fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais, conseguiu entregar dividendos elevados para os investidores no decorrer de 2023. Segundo um levantamento de Leonardo Garcia, analista de Fiagros e FIIs da TRX Investimentos, os Fiagros listados na Bolsa brasileira entregaram dividendos de até 25,96% nos últimos 12 meses, até o fechamento de 28 de novembro (últimos dados disponíveis).
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Dividendos robustos têm atraído cada vez mais os investidores pessoa física. Até outubro, segundo dados da B3, eram 432.609 alocando seus recursos em Fiagros. Em relação ao patrimônio líquido, a indústria tinha alcançado o patamar de R$ 17,1 bilhões também em outubro, com captação de R$ 260,6 milhões no período, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Enquanto a regulação definitiva de Fiagros está em compasso de espera, a indústria se divide basicamente em dois segmentos. Um deles, os Fiagros de terra. Com presença ainda tímida na Bolsa, eles costumam estar mais focados na valorização de longo prazo e remuneram os seus investidores de forma anual.
Porém, a esmagadora maioria dos Fiagros são de papel, ou seja, investem em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), que em boa parte estão indexados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), principal indicador da renda fixa.
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Geralmente, os Fiagros oferecem o rendimento do CDI mais uma taxa de retorno adicional. Por isso, a maioria destes fundos consegue superar a taxa Selic com seus rendimentos. No entanto, algumas carteiras podem também estar indexadas ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ou até mesmo ser híbridas, atreladas a ambos os indicadores.
Embora não haja uma regra que exija o pagamento dos dividendos da mesma forma que nos fundos imobiliários, os Fiagros de CRA costumam pagar dividendos mensais.
Segundo um levantamento da Órama, em novembro o dividend yield (retorno em dividendos) médio da indústria dos Fiagros tipo FII (de papel) foi de 1,13% no mês, até o dia 17 de novembro, equivalente a uma performance de 131% no CDI no mesmo período. Como os dividendos dos Fiagros são isentos de Imposto de Renda (IR), a rentabilidade final representou uma taxa de 1,34% em novembro.
Expectativa para 2024
O analista Leonardo Garcia cita alguns Fiagros que segundo ele devem entregar dividendos de entre 11% e 13% em 2024.
Para Garcia, mesmo com uma Selic menor, próxima a 10% no ano que vem, fundos de gestoras consolidadas, sem histórico de calote ou inadimplência e que possuem boa liquidez na Bolsa, podem se destacar. “Conhecemos a capacidade dos gestores, as carteiras possuem boa relação de risco e retorno e estão bem diversificadas”, avalia.
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Veja a seguir as recomendações do analista.
CPTR11: para quem quer diversificar “fora da porteira”
Garcia explica que o CPTR11, da Capitânia Investimentos, atua dando crédito para empresas que atuam para “fora da porteira” – nome dado a tudo o que acontece fora das propriedades, como atividades logísticas, armazenagem, compra de insumos, distribuição, venda, entre outros.
Desta forma, o fundo não está exposto diretamente ao produtor rural e por isso tem um perfil “high grade”, considerado mais seguro.
Nos últimos 12 meses, o CPTR11 entregou um dividend yield de 17,49% aos investidores. Diante da queda dos juros, o analista espera que a remuneração dos CRAs investidos pelo Fiagro recue, no entanto afirma que existe um beneficio colateral que é uma maior segurança para o investidor. Isso porque quanto menor o CDI, mais barato fica o crédito para o devedor e menor é o risco de inadimplência ou calote para os investidores.
O Fiagro que já era conservador se torna ainda um ativo mais seguro, de acordo com o analista. “O fundo tem uma boa diversificação de carteira, liquidez elevada e uma duration (prazo médio para recuperar o valor investido) curta. Os ativos estão 100% adimplentes e a gestora procura por aqueles com perfil high grade e menos risco para os investidores”, pontua.
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Segundo Garcia, atualmente 64% da carteira do fundo possui uma taxa média de CDI mais 4% e os 26% restantes estão indexados a uma taxa de IPCA+9%.
KNCA11: Crédito para grandes empresas
O Fiagro KNCA11, da Kinea Investimentos, é conhecido por acessar grandes empresas do agronegócio, explica Garcia. Klabin (KLBN4), Raízen (RAIZ4) e Minerva (BEEF4) figuram entre os devedores da carteira de ativos. Nos últimos 12 meses, o Fiagro apresentou um dividend yield de 14,28% aos seus cotistas.
Garcia destaca que 73,7% da carteira do fundo remunera a taxa de CDI mais 5,28%, enquanto 25,6% está indexado ao IPCA mais 7,9%. O perfil de risco do Fiagro também é high grade.
“Considerando a solidez do fundo, da gestora e os credores, esperamos que o KNCA11 se mantenha como bom pagador de dividendos em 2024, com distribuições em linha com as registradas neste ano”, afirma Garcia.
RURA11: um dos Fiagros mais diversificados da B3
O Fiagro RURA11, da Itaú Asset, reúne duas recomendações, de Garcia, da Trix – o aplicativo da TRX Investimentos –, e Danilo Carvalho, analista de Fiagros. O fundo entregou um dividend yield de 13,33% nos últimos 12 meses.
Para Garcia, a expectativa é que o RURA11 consiga manter o patamar de ao menos 1% ao mês no próximo ano. A carteira do RURA11 possui uma taxa média de CDI mais 4,2%. O Fiagro também é high grade ou de baixo risco.
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Carvalho destaca que o RURA11 é um ativo diversificado em termo de devedores quanto em distribuição geográfica, atualmente conta com 47. A maior exposição do seu patrimônio a um devedor corresponde a 4,4%.
Apesar de contemplar vários segmentos da cadeia produtiva do agronegócio, o RURA11 concentra boa parte dos seus investimentos no produtor rural, segundo Carvalho, um segmento que embora tenha uma boa margem de lucro, enfrenta desafios de governança e balanços auditados. “Mas a gestão do RURA11 possui profissionais com vasta experiência no agronegócio, gestão de crédito e fundos listados, respaldados por um histórico que contribui com a eficácia da estratégia do fundo”, pontua.
A Itaú Asset, por meio do Itaú BBA, tem forte presença no agro com diversas bases espalhadas em todos os estados do País, por exemplo.
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Garcia destaca ainda a forte capacidade de originação dos CRAs da gestora e o longo relacionamento com empresas do setor, o que auxilia a gestão a ter maior clareza sobre a capacidade de pagamento de dívidas destas. “O portfólio é bem diversificado, mas vai ficar ainda mais após a alocação do montante captado na última emissão de cotas”, diz.
Entre os pontos de atenção, Carvalho cita a falta de transparência que tem incomodado alguns investidores em relação à carteira do fundo, dado que nos relatórios gerenciais não são detalhados com precisão o nome das empresas devedoras. “Isso dificulta a análise e monitoramento das empresas pela maioria dos investidores, embora seja possível obter essas informações por outros meios, muitos desconhecem ou não têm tempo para procurar”, observa.
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A projeção de Carvalho é que o RURA11 entregue dividendos de 11,65% em 2024 – patamar pode mudar a medida que o fundo faz novas emissões e alocações.
Oportunidades setoriais
FGAA11: para quem busca açúcar e etanol
Para quem busca Fiagros focados em algum segmento, Danilo Carvalho recomenda o FGAA11, que investe no setor sucroenergético (açúcar e etanol), embora também tenha uma pequena participação em companhias de outros segmentos.
Segundo o analista, a gestora já atuava neste segmento antes de lançar o Fiagro, o que é uma vantagem porque conta com uma equipe experiente no agronegócio. Nos últimos 12 meses, o FGAA11 entregou um dividend yield de 16,48%.
Ele destaca que o FGAA11 se concentra em crédito corporativo, investindo em empresas com boa governança, balanços auditados e faturamento entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão. “O portfólio inclui empresas com rating público de capital fechado e empresas de capital aberto como Jalles Machado (JALL3)”, aponta.
Há também empresas sem rating público, o que costuma ser comum quando o fundo participa da própria originação dos CRAs, embora os títulos possam ter uma liquidez menor no mercado secundário.
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Carvalho explica que o FGAA11 usa duas estratégias para melhorar os rendimentos do fundo: a manutenção de títulos de originação própria a longo prazo, aproveitando a remuneração obtida na estruturação de dívida (CRA) e a realização de operações no mercado secundário para ganhos de capital. Dessa forma, o fundo consegue vender os CRAs em condições mais vantajosas.
O analista destaca que o Fiagro tem um perfil de risco middle grade (risco médio), boa liquidez e consistência nos seus rendimentos, superando as taxas do CDI e IPCA nos últimos 12 meses. Para 2024, o analista projeta que o FGAA11 entregue um dividend yield de 11,75%.
EGAF11: insumos e dividendos de CDI+4%
O EGAF11, ativo da Ecoagro, também é outra recomendação de Carvalho para 2024. Nos últimos 12 meses, o fundo apresentou um dividend yield de 18,25%.
A Ecoagro também é conhecida no mercado pela originação dos próprios CRAs e a sua experiência no agronegócio. Desde janeiro, a gestão do EGAF11 passou a ser compartilhada também com a Multiplica, com o intuito de começar a pagar dividendos mensais. “Vejo essa cogestão como positiva porque não resultou em aumento de custo para os cotistas. A parceria adiciona um elemento externo ao grupo Ecoagro, reduzindo possíveis conflitos de interesses”, avalia Carvalho.
O analista explica que o Fiagro está focado no segmento de insumos, atuando principalmente com revendas e cooperativas. “Seu desempenho histórico é sólido e a tese de investimento possui critérios bem definidos, proporcionando ao investidor uma relação confortável de risco e retorno”, pontua.
O EGAF11 paga dividendos mensais e tem como meta distribuir rendimentos de no mínimo CDI mais 4%. O fundo sempre remunera seus cotistas no décimo dia útil do mês para os acionistas que tiverem posição até o quinto dia útil.
Para 2024, a expectativa é que o EGAF11 pague dividendos de 12,50%, calcula Carvalho.
Confira o dividend yield entregue pelos Fiagros nos últimos 12 meses:
Fiagro | VM/VP | Dividend yield últimos 12 meses | Liquidez média diária 1 mês |
FLEM11 | * | * | * |
KOPA11 | * | * | R$ 0,00 |
RZEO11 | * | * | R$ 0,00 |
HGAG11 | 1,00 | 25,96% | R$ 6.309,00 |
VGIA11 | 0,90 | 18,31% | R$ 4.243.513,24 |
EGAF11 | 1,00 | 18,25% | R$ 922.577,03 |
OIAG11 | 0,93 | 17,77% | R$ 321.073,31 |
NCRA11 | 0,96 | 17,76% | R$ 429.541,54 |
CPTR11 | 0,91 | 17,49% | R$ 1.474.354,00 |
GCRA11 | 0,83 | 17,36% | R$ 383.667,74 |
LSAG11 | 1,06 | 17,05% | R$ 76.409,58 |
VCRA11 | 0,87 | 17,05% | R$ 766.922,85 |
FGAA11 | 1,00 | 16,48% | R$ 1.652.671,35 |
AGRX11 | 1,07 | 16,45% | R$ 305.649,35 |
XPCA11 | 0,98 | 16,09% | R$ 2.038.561,22 |
PLCA11 | 0,88 | 15,92% | R$ 105.971,87 |
RZAG11 | 0,97 | 15,91% | R$ 2.800.527,40 |
JGPX11 | 0,97 | 15,78% | R$ 547.018,59 |
DCRA11 | 0,97 | 15,64% | R$ 188.065,92 |
AAZQ11 | 0,93 | 15,40% | R$ 881.890,75 |
IAGR11 | 0,82 | 14,97% | R$ 75.465,33 |
KNCA11 | 1,02 | 14,28% | R$ 3.198.960,58 |
BBGO11 | 0,87 | 13,88% | R$ 745.139,08 |
SNAG11 | 1,00 | 13,71% | R$ 2.153.586,97 |
RURA11 | 1,08 | 13,33% | R$ 2.834.396,14 |
CRAA11 | 0,99 | 11,30% | R$ 99.750,44 |
GRWA11 | 1,13 | 8,92% | R$ 36.883,33 |
IAAG11 | 1,01 | 7,74% | R$ 17.218,64 |
FZDA11 | 0,54 | 1,87% | R$ 9.157,17 |
FZDB11 | 1,11 | 0,00% | R$ 60.571,02 |
VM/VP = Valor de mercado dividido pelo Valor Patrimonial, métrica que determina se o fundo está caro ou barato
Dados até 28/11/2023
* Fundo não foram negociados nos últimos 12 meses
Nem tudo é dividendo
Embora dividendos sejam muito atrativos para os investidores, analistas alertam que um dividend yield elevado não deve ser o único critério considerado na hora de escolher um Fiagro para investir. A prova disso vem do Fiagro HGAG11, que teve o maior dividend yield nos últimos 12 meses, de 25,96%, mas segundo especialistas consultados pelo E-Investidor, está longe de ser uma boa opção para a carteira.
Garcia explica que o fundo é extremamente concentrado porque possui apenas um CRA no portfólio, um produtor rural de café em Minas Gerais. Os recursos captados pelo Fiagro foram destinados para o reperfilamento de dívidas e capital de giro do produtor. Após as geadas de 2020 e 2021, muitas lavouras de café viram sua produção afetada na região mineira.
Além da concentração, o analista cita que a taxa de performance é elevada e destrói valor para o cotista. O fundo cobra 20% do que superar o IPCA mais 2% ao ano e, na visão de Garcia, esse parâmetro seria muito baixo e pouco usual para fundos de crédito, dado que a maioria de gestoras utilizam IPCA mais 6%. “Além de ser baixo, não faz sentido o fundo cobrar essa taxa com apenas um ativo em carteira”, pontua.
Para Garcia, aparentemente a gestão não consegue originar novas operações que possam agregar valor para o investidor. “Entendemos que existem oportunidades melhores nos Fiagros e os investidores não devem observar apenas o dividend yield”, aconselha.
Bernardo Sanches, especialista em investimentos do Vai pelos Fundos e autor do primeiro livro de Fiagros no Brasil, lembra ainda que o dividend yield de mais de 25% do HGAG11 teve alguns eventos não recorrentes, entre estes, a amortização do patrimônio líquido do fundo. O Fiagro decidiu devolver uma parte do seu patrimônio aos cotistas reduzindo o valor da sua cota de R$ 102,10 para R$ 23,79.
O especialista cita ainda que o fundo sempre teve dividendos muito voláteis, com meses nos quais pagava proventos elevados, seguidos de outros em queda nas distribuições. “O fundo tinha uma oscilação grande de rendimentos porque no passado tinha muito recurso em caixa por conta da Selic elevada e depois aconteceu a devolução de praticamente R$ 76 por cota ao investidor com a amortização”, explica Sanches.
Segundo ele, o HGAG11 até tentou fazer mais uma oferta de novas cotas, mas esta foi cancelada por falta de aderência no mercado. Com ausência de histórico e conhecido pela sua volatilidade, o especialista comenta que fica difícil traçar uma projeção para este Fiagro em 2024, o que o deixa em desvantagem diante dos pares.