Entender o que é câmbio é essencial para quem deseja trabalhar utilizando alguma moeda estrangeira. Foto: JF Diorio/ Estadão
Em novembro de 2019, o ministro da economia Paulo Guedes declarou que o Brasil teria um novo normal – mas ele não estava falando da pandemia do coronavírus, que em poucos meses derrubaria a bolsa de valores. Com “juros mais baixos e dólar alto”, o País já caminhava para uma conjuntura em que aplicações como os fundos cambiais poderiam ser beneficiadas.
“É bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo”, disse Paulo Guedes após participar do Fórum de Altos Executivos Brasil-EUA (Dida Sampaio/Estadão Conteúdo)
Entretanto, a covid-19 intensificou o processo. Com aumento do risco e da incerteza, e a consequente fuga de investidores para ativos de proteção, como o dólar, a moeda americana saltou 35,91% no semestre, passando de R$4,00, no dia 01 de janeiro, para R$5,46, em 30 de junho. Os fundos cambiais não ficaram para trás e tiveram desempenho parecido: em média, valorizaram 31,67% nos primeiros seis meses do ano, de acordo com o levantamento exclusivo feito pela gestora de investimentos digital Magnetis.
“A maioria dos fundos cambiais seguem quase que perfeitamente o dólar”, explicou Felipe Peixinho, especialista em fundos da Ágora Investimentos. A alta de aplicação no 1º semestre é puxada principalmente pelo mês de março, em que a bolsa foi para o chão e o câmbio se valorizou 16,35%, passando de R$4,47 para R$5,20. Novamente, os fundos seguiram a alta da moeda e subiram cerca de 15% no período.
Em junho, com o dólar mais estável, a valorização média dos fundos cambiais foi bem mais discreta, em 1,02%. De acordo com Lucas Taxweiler, especialista em investimentos de Magnetis, para entregar uma boa performance a aplicação depende quase que exclusivamente do bom desempenho das moedas estrangeiras. “A gestão tem um impacto baixíssimo nesse aspecto”, disse.
De fato, no levantamento, o fundo com melhor performance anual da lista, o BTG Pactual Dólar FI Cambial, possui taxa de administração de 0,10% ao ano. Já o fundo com pior performance (positiva) da lista, Western Asset Câmbio Dólar FIC Cambial, cobra 3,00% ao ano.
No estudo, o único fundo negativo na comparação anual e mensal é o Trend Short Dólar FI Cambial, da XP Vista Asset Management. A aplicação está caindo 24,97% no ano e 1,57% no mês. A explicação estaria justamente na estratégia “short” adotada. “Esse fundo aposta na valorização do real frente à moeda norte-americana, o que não aconteceu no período de análise”, disse Taxweiler.
Ainda é hora de apostar em fundos cambiais?
Na comparação com outros tipos de investimento, a rentabilidade na casa dos 30% dos fundos cambiais se destaca. No 1° semestre do ano, por exemplo, o Ibovespa ainda cai 17,80%, enquanto o CDI, principal referência para a renda fixa, valorizou 1,75%. Mas, ainda é hora de pegar essa alta?
Para Peixinho, o dólar não deve mais se valorizar tanto frente ao real quanto nos primeiros meses do ano, mas ainda assim é importante ter uma fatia da carteira com exposição ao dólar. “Não precisa necessariamente aplicar em um fundo cambial, que segue apenas a moeda”, disse. “Na Ágora temos fundos internacionais que investem em ativos lá fora e que tem exposição à variação cambial.”
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O especialista ressalta que quem tem o objetivo de morar ou estudar fora, por exemplo, ter fundos cambiais na carteira é essencial. “Dessa forma, você não perde poder de compra por conta da flutuação do câmbio”, afirma. A questão da diversificação e proteção também pesaria na escolha de ter ou não fundos cambiais na carteira. “É uma proteção em momentos de incerteza”, conclui.
Essa também é a opinião de Rodrigo Fontana, analista de fundos da Guide Investimentos. “Para todo investidor faz sentido ter pelo menos dois tipos de moedas fortes no seu portfólio”, disse. “Mas o boom do câmbio já passou, na minha opinião.”