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128 fundos de renda fixa perderam do CDI em 20 anos; Você investe neles?

A “pior” aplicação entregou apenas 18,7% da taxa de referência nas últimas duas décadas. Veja a lista completa

128 fundos de renda fixa perderam do CDI em 20 anos; Você investe neles?
Conheça os fundos que ficaram distantes do CDI em 20 anos. Foto: Envato Elements
  • O Certificado de Depósito Interbancário (CDI) é uma taxa bem próxima a de juros Selic, que serve de referência para muitos ativos pós-fixados de renda fixa
  • Geralmente, um bom investimento conservador remunera pelo menos 100% do CDI ou um percentual próximo a isso
  • Contudo, nos últimos 20 anos (fevereiro de 2003 a fevereiro de 2023), 128 fundos de renda fixa renderam menos que o benchmark. Entre eles, 17 não entregaram nem 50% do CDI

Qual é a vantagem de ter um fundo de renda fixa que em duas décadas não consegue entregar nem 19% do CDI? O Certificado de Depósito Interbancário (CDI) é uma taxa bem próxima à Selic, juro que serve de referência para muitos ativos pós-fixados de renda fixa.

Geralmente, um bom investimento conservador remunera pelo menos 100% do CDI ou um porcentual próximo a isso. Contudo, nos últimos 20 anos (fevereiro de 2003 a fevereiro de 2023), 128 fundos de renda fixa renderam menos que a referência (benchmark). Entre eles, 17 não entregaram nem 50% do CDI.

Os dados foram levantados por Einar Rivero, head comercial do TradeMap. Foram considerados apenas fundos de renda fixa com 100 ou mais cotistas e que não estão atrelados à divida externa.

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O pior fundo em termos de rentabilidade foi o Banrisul Automático FI RF CP, gerido pela Banrisul Corretora, que atingiu apenas 18,7% do CDI nas últimas duas décadas. A aplicação descrita como “renda fixa de curto prazo” apresentou rentabilidade acumulada de 135,3% desde fevereiro de 2003, enquanto a taxa CDI foi de 720,5%.

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O fundo é focado em aposentadoria, destinado a acolher investimentos do Poder Público e entidades de previdência complementar públicas e privadas, assim como outras pessoas jurídicas não financeiras. A carteira é majoritariamente atrelada a títulos públicos federais.

No caso deste produto, criado em 1996, a grande culpada pela performance foram as altas taxas de administração. Apesar de ser um fundo de renda fixa simples e baixo risco, cobrava uma taxa de administração de 7% ao ano até agosto de 2009. Nos anos seguintes, a taxa foi sendo reduzida gradativamente e chegou aos 5,25% ao ano em agosto de 2019. Por fim, em agosto de 2020, a cobrança foi atualizada para 1,6% ao ano – patamar que segue até os dias de hoje.

Para efeito de comparação com as taxas de administração, em 2009 o CDI acumulado foi de 9,8%. Em 2019, de 5,9% (quase equivalente à taxa de administração do fundo), e em 2020, de 2,7%.

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Situação semelhante é vista nos outros quatro fundos de investimento, que completam o ranking dos que mais apanharam do CDI em 20 anos. O Itaú PP RF CP FICFI, da Itaú Asset, possui uma taxa de administração de 1,75% ao ano desde junho de 2020. Em meados de 2016, entretanto, essa taxa era de 5% ao ano. Já em 2003, data do início do recorte, o porcentual cobrado era de 7%.

O fundo é destinado a empresas clientes do Itaú Unibanco e focado em cotas de outros fundos de renda fixa e títulos públicos federais. Teve retorno acumulado de 186% em 20 anos, o que significa 26% do CDI no período.

Seguem no ranking dos piores rendimentos os fundos Santander RF CP Max Fc FI, da Santander Brasil Gestão, e os fundos Bradesco FICFI RF Soma e Bradesco Fc FI RF CP Versátil, da BRAM DTVM. O primeiro é destinado a pessoas físicas e jurídicas e tem atualmente taxa de administração máxima de 1,5% ao ano desde 2020. Em 2013, essa taxa era de 5,5%, e em 2003, de 5%.

Já os dois fundos da distribuidora do Bradesco são destinados ao público geral, com taxa de administração máxima de 1,5% ao ano sobre o patrimônio líquido total. Em 2004, o Bradesco Soma cobrava até 8,5% de administração e, em 2003, o administrador do Bradesco Versátil recebia até 10% ao ano.

O Banrisul e o Santander não retornaram os questionamentos do E-Investidor. O Itaú preferiu não comentar o assunto, enquanto o Bradesco afirmou que os fundos mencionados não fazem parte da oferta aos clientes.

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“A Bradesco Asset oferece uma plataforma completa de investimentos, composta por produtos variados em tipos de taxa, rentabilidade e graus de risco. Adicionalmente, monitora constantemente a oferta dos seus produtos para assegurar que os clientes tenham as melhores oportunidades de investimentos”, afirma o banco.

O que é um bom fundo de renda fixa?

De acordo com Ana Paula Carvalho, planejadora financeira CFP e sócia da AVG Capital, fundos de renda fixa simples, com gestão passiva, devem ter as menores taxas de administração possíveis. Isto porque a cobrança engole a rentabilidade dessas aplicações, como ocorreu com os cinco fundos citados anteriormente.

Além disso, não há justificativa para cobrar altas taxas quando não existe um esforço proporcional de gestão. “A taxa de administração é o que de fato reduz a rentabilidade. Pense que até pouco tempo atrás alguns fundos com baixa automática cobravam taxas superiores a 5% ao ano, enquanto o CDI estava na casa dos 6% ou 8%. Isso já corroía em muito o ganho do fundo”, afirma Carvalho.

Alexandre Alvarenga, analista de fundos da Empiricus, afirma que um bom fundo de renda fixa deve entregar pelo menos o CDI do período. Na visão dele, se for para receber menos que isso, é mais interessante para o investidor aplicar diretamente em um título público federal atrelado à Selic, como o Tesouro Selic.

Outra opção consiste em aplicar o dinheiro em um Certificado de Depósito Bancário (CDB) de bancos grandes e que rendam próximo ao CDI. “Se você está aplicando em fundos, é porque está buscando seguir o índice ou superá-lo”, afirma Alavarenga. “Não invista em um fundo de renda fixa que renda abaixo do CDI.”

Se o investidor é ultraconservador, o indicado é que invista em um fundo DI simples e que não cobre taxa de administração. Agora, se a ideia é ganhar um pouco acima do CDI correndo pouco risco, o ideal seria investir em um fundo de renda fixa de crédito privado.

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“Procure por bons gestores e estratégias, com histórico bom e que têm perspectiva de entregar rentabilidade acima do CDI com consistência. A taxa de administração também é importante, você não vai querer pagar mais de 3%, mas aqui não é o essencial. O relevante é uma boa gestão”, diz Alvarenga.

*Após a publicação da matéria, o Banrisul enviou um posicionamento ao E-Investidor. Leia na íntegra:

“Os fundos de investimento Banrisul Automático RF e Banrisul Super RF, conforme os seus regulamentos, não têm referenciais atrelados ao CDI. Quanto ao Banrisul Automático FI RF, trata-se de fundo de curtíssimo prazo, restrito a pessoas físicas, com a facilidade de aplicações e resgates automáticos, perfil conservador e liquidez diária, de forma a remunerar os saldos remanescentes em conta corrente. O Banrisul Super FI RF também é um fundo de investimento de curto prazo que possibilita ao investidor a facilidade de resgate automático dos recursos aplicados, quando a movimentação da conta corrente do dia apresentar saldo negativo. Os custos operacionais dos veículos de investimentos são refletidos na taxa de administração desses fundos.

O Banrisul dispõe de portfólio de fundos de investimento diversificado que permitem ao investidor a tomada de decisões de maneira consciente, atendendo seus objetivos e necessidades, com taxas de administração alinhadas ao praticado pelo mercado, conforme as respectivas estratégias de investimento e tickets de entrada de cada produto.”

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