- Considerando os 833 fundos de ações listados, somente 7% entregaram rentabilidade positiva ao acionista no acumulado do ano, de acordo com levantamento da TC/Economatica
- Nos fundos multimercados, o cenário é distinto. Com a renda fixa atrativa, diante das sucessivas altas na taxa Selic, boa parte dos ativos ficaram em alta no primeiro semestre
- Na outra ponta, entre os 106 fundos imobiliários que fazem parte do Índice de Fundos Imobiliários (IFIX), 55,7% registraram lucro. Veja os ranking
O primeiro semestre do ano foi marcado pela intensa volatilidade na bolsa de valores. Diante do conflito entre Rússia e Ucrânia e da alta global na curva da taxa de juros, a pressão foi sentida nos fundos de ações. Considerando os 833 fundos listados, somente 7% entregaram rentabilidade positiva ao acionista no acumulado do ano, de acordo com levantamento da TC/Economatica.
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O Vitreo Canabidiol FIA, fundo de cannabis que cravou a maior queda no período, foi penalizado por investir em “ativos exóticos”. De acordo com os especialistas de mercado, em um momento de aversão ao risco o investidor tende se expor menos e buscar segurança.
Nos fundos multimercados, o cenário é distinto. Com a renda fixa atrativa, diante dos sucessivos avanços na taxa Selic (a taxa básica de juros da economia), atualmente em 13,25%, boa parte dos ativos ficaram em alta no primeiro semestre. Dos 1.438 listados, 70,7% (o equivalente a 1.017), entregaram lucro no período. O levantamento considerou apenas os fundos com cem ou mais cotistas.
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“Como muitos fundos multimercado têm como meta bater o desempenho do CDI (Certificados de Depósito Interbancário, o principal parâmetro do mercado), ficou um pouco mais ‘fácil’ graças ao aumento do spread (diferença entre o preço de compra e venda) na renda fixa”, diz Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil.
Vale destacar, porém, que os fundos de multimercados não estão alocados somente na cesta da renda fixa. As estratégias navegam em ativos e setores diferentes. “O nível de volatilidade pode ser muito maior, a depender dos ativos negociados”, afirma Alves.
Entre os fundos multimercados que investem em criptoativos, por exemplo, o Vitreo Cripto Nft Fc FI Mult Ie registrou o pior resultado do ranking semestral da categoria, com queda superior a 70%.
Entre os 106 fundos imobiliários que fazem parte do Índice de Fundos Imobiliários (IFIX), 55,7% registraram lucro. O IFIX acumula leve alta de 0,12% no ano. No entanto, entre os FIIs que oscilaram mais de 10%, para baixo ou para cima, há mais fundos no vermelho.
Dados de maio da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro (Anbima), mostram que a indústria de fundos de investimento apresentou saída líquida de R$ 64 bilhões, saindo de um patamar de R$ 94 bilhões para os atuais R$ 30 bilhões. Em 2021, o saldo acumulado até maio era de R$ 206,1 bilhões.
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“Este resultado foi influenciado pelos resgates líquidos das três principais classes do setor: renda fixa, multimercados e ações”, diz o relatório da Ambima.
Confira os dez fundos de ações, imobiliários e multimercados que tiveram o pior retorno do semestre:
Os 10 fundos de ações que mais caíram no semestre
Fundos | Rentabilidade (em %) |
Vitreo Canabidiol FIA Ie | -56,23 |
Genial Ms Us Growth Fc FIA Ie | -54,73 |
Global Insight Fund Dolar FIC FIA Ie | -52,72 |
Ms Us Advantage Dolar Adv Fc FIA Ie | -51,86 |
Vitreo Metaverso Acoes FIA Bdr Nivel I | -49,63 |
M Us Advantage Advisory Fc FIA Ie | -48,28 |
Zenith Hayp FIA | -47,11 |
Itau Index Blockchain Acoes Fx Ie Fc | -43,16 |
Ms Global Opportunities Adv Fc FIA Ie | -42,56 |
M Global Opp 30 Dolar Adv Fc FIA Ie | -42,31 |
*Fonte: TC/Economatica
Entre os fundos de ações, a maior queda foi do Vitreo Canabidiol FIA Ie, fundo que investe em cannabis e teve baixa de 56,23% no semestre. De acordo com Alves, o fundo possui uma tese de longo prazo e com poucos ativos rodando com geração de caixa, o que prejudica o desempenho no atual cenário de instabilidade.
“Quando o dinheiro fica mais escasso, os investidores ficam mais criteriosos. Ou seja, poucos dão espaço na carteira para ativos exóticos, como em tempos de bonança”, diz Alves. Segundo ele, apesar dos entusiastas do fundo defenderem que a tese sobre esse tipo de ativo continua inalterada, quem não acredita prefere, literalmente, “não pagar para ver” e acaba migrando para ativos mais seguros, como na renda fixa.
Os fundos Genial Ms Us Growth Fc FIA Ie e Global Insight Fund Dolar FIC FIA Ie aparecem na sequência de maiores quedas, com depreciação de 54,73% e 52,72%, respectivamente.
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Luiz Felippo, sócio e analista de fundos da Nord Research, destaca que os três fundos têm boa parte dos ativos dolarizados e que a moeda americana desvalorizou perante ao real em 2022. “Há um movimento de enxugamento de liquidez global. Acho que isso explica boa parte da performance ruim. Há outro ponto: a performance do real. Tivemos uma valorização da moeda que foi importante (nos primeiros meses de 2022) e que prejudicou o desempenho dos fundos durante o período”, avalia.
Os 10 fundos multimercados que mais caíram no semestre
Fundos | Rentabilidade (em %) |
Vitreo Cripto Nft Fc FI Mult Ie | -76,72 |
Vitreo Cripto Smart Fc FI Mult Ie | -76,47 |
Vitreo Coin Nft FI Mult | -69,92 |
Hashdex Ethereum FI Mult | -68,21 |
Vitreo Cripto Defi Fc FI Mult Ie | -67,82 |
Blp Digital 100 FI Mult – Ie | -65,20 |
Vitreo Coin Defi FI Mult | -63,83 |
Vitreo Coin Smart FI Mult | -63,03 |
Trend Cripto Dolar Fc FI Mult | -62,24 |
Vitreo Criptomoedas FICFI Mult Ie | -61,71 |
*Fonte: TC/Economatica
Diante do “inverno cripto”, os fundos multimercados de criptoativos dominaram a lista das maiores quedas. O Vitreo Cripto Nft Fc FI Mult e o Vitreo Cripto Smart Fc FI Mult Ie entregaram prejuízo de 76,72% e 76,47%, respectivamente. Já o Vitreo Coin Nft FI Mult completou a lista, em queda de 69,92%.
“Com o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) subindo os juros, as criptos têm sofrido e isso reflete no desempenho desses fundos”, avalia Felippo.
Na hora de se desfazer de um ativo, o investidor deve avaliar quais estão gerando rendimentos, assim como um imóvel. Ou seja, o que está desalugado é preterido em relação ao que está alugado, por exemplo. “No mercado financeiro, os ‘imóveis desalugados’ são os criptoativos, que são mais voláteis, arriscados e não geram renda. Isso impactou diretamente a performance dos fundos multimercados que operam eles”, diz Alves, da Ação Brasil.
Os 10 fundos imobiliários que mais caíram no semestre
Fundos | Rentabilidade (em %) |
RBR Properties | -23,08% |
XP Properties | -23,08% |
Vinci Offices | -18,78% |
REC Renda Imobiliária | -18,22% |
XP Industrial | -17,87% |
Green Towers | -15,62% |
BC Fund | -10,93% |
BlueMacaw Logística | -10,81% |
BTG Terras Agrícolas | -10,81% |
Hedge Top | -10,29% |
Fonte: Broadcast/Estadão
Entre os fundos imobiliários, o RBR Properties e XP Properties empatam na posição de maior queda. O recuo de ambos foi de 23,08% no acumulado de 2022. Na terceira posição, aparece o Vinci Offices, que amargou prejuízo de 18,78% no período.
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“A queda dos preços dos fundos imobiliários já era prevista em função da alta da Selic”, avalia Alves. Segundo ele, o atual movimento é similar ao que aconteceu entre 2014 a 2016, quando os investidores migraram para a renda fixa em busca de maior rentabilidade na carteira.