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- Na avaliação do sócio e gestor da Iridium, o investidor de pessoa física, em alguns casos, não precifica riscos existentes ou avalia de forma exagerada
- Para ele, um dos motivos para esse comportamento é o excesso de informação que dificulta o processo de análise do investidor comum
O excesso de informação torna mais difícil para o investidor comum a precificação dos riscos na hora de investir. É o que avalia Rafael Selegatto, sócio responsável pela gestão e análise de crédito da Iridium. Para ele, a dificuldade existe porque nem sempre esse investidor tem a capacidade de avaliar a qualidade da informação.
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A ausência desse olhar mais criterioso tem impactos na eficácia dos investimentos porque, em alguns casos, os riscos deixam de ser precificados ou, quando são precificados, ganham um teor de importância desproporcional à realidade. “Não basta apenas buscar a informação. É preciso buscar a informação correta. Ou seja, o estudo é a solução mais antiga e a mais válida até hoje para conseguir precificar os riscos da forma correta”, ressalta o gestor.
No atual cenário macroeconômico, com o ciclo de aperto monetário em diversos países, como nos Estados Unidos e no Brasil, mais as incertezas sobre o desfecho da guerra entre Rússia e Ucrânia, o mercado financeiro está mais volátil, o que exige ainda mais cautela do investidor na hora de investir. Mas nesta missão de identificar os riscos dos investimentos, Selegatto ressalta que, além de avaliar o cenário macroeconômico, o investidor também deve analisar os gestores responsáveis pelo produto, principalmente, quando se trata de fundos imobiliários (FIIs).
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“O primeiro passo é pesquisar as opções. Com certeza o investidor vai encontrar de dois a quatro fundos do mesmo perfil. A partir daí, é interessante olhar o histórico da gestão, o alinhamento que a equipe de gestão tem com o fundo”, destaca.
Selegatto concedeu entrevista ao E-Investidor durante o FII Summit, evento sobre fundos imobiliários realizado em São Paulo (SP), na última quarta-feira (1). O gestor foi um dos convidados para participar do painel “O Grande Ganhador da Pandemia. Uma visão dos fundos de papel”.
Durante a conversa com a nossa equipe, o gestor falou sobre o comportamento do investidor pessoa física na hora de avaliar os riscos de cada investimento e a importância da gestão de FIIs para garantir boa rentabilidade. Confira a entrevista completa!
E-Investidor: Neste momento de estresse do mercado financeiro, você acredita que o investidor de pessoa física aprendeu a precificar melhor os riscos dos seus investimentos?
Rafael Selegatto: O investidor de pessoa física não precifica tanto o risco. Então, na hora que ele vai olhar o que é mais relevante no momento, o mercado precifica mais o retorno positivo, o que chama mais atenção. Como estamos em uma situação de estresse (alta de juros e aumento da inflação) o investidor pessoa física passa a prestar mais atenção aos riscos, mas em alguns casos ele não precifica um risco que existe ou precifica um risco muito maior do que realmente é. Então, acho que podemos ter notícias mais positivas até o fim do ano porque há um exagero da precificação de risco.
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O que o investidor de PF deve fazer na hora de precificar o risco?
Selegatto: A grande solução é buscar o máximo de informação possível. O que acontece é que a gente está vivendo em uma sociedade com muita informação e nem toda informação é correta ou verídica. Então, não basta buscar informação. É preciso buscar informação correta. Ou seja, o estudo é a solução mais antiga e a mais válida até hoje para conseguir precificar os riscos da forma correta.
Os fundos de papel apresentam performances bem acima dos fundos de tijolo e ainda são considerados como investimentos “defensivos” pelo mercado. Mesmo assim, ainda há riscos para essa classe de ativos?
Selegatto: Risco sempre há. Não só em fundos de papel, mas em qualquer investimentos que a gente faz. A questão é que quando você pega fundos que performam há muitos anos, eles já passaram por diversos momentos difíceis de mercado e mesmo assim continuam entregando resultado. As chances desses fundos entregarem resultados são maiores. O risco sempre existe em qualquer tipo de investimento, mas sem dúvida os fundos de papel se provaram resilientes.
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Mas os resultados do passado são garantia de resultados no futuro? O investidor deve olhar só para isso?
Selegatto: Apenas para o passado não, mas os resultados anteriores são bons indicadores. Uma das formas de você analisar o que pode acontecer no futuro é o histórico do investimento. Se o fundo tem um bom histórico, isso é um bom indicativo.
Mas você precisa buscar informações para saber se tudo o que aconteceu no passado tem chances de continuar acontecendo. Olhar o passado, por mais que não seja garantia de retorno futuro, é um indicador relevante assim como buscar informações se algo mudou na gestão do fundo. Em muitos casos, a gestão muda, o que muda completamente o perfil do fundo. Então, pode ser que o histórico do fundo perca relevância.
Quais são as principais características de uma boa gestão de fundos?
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Selegatto: Quando a gente está falando em fundos de CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e fundos de papel a gestão é muito relevante. O primeiro ponto é olhar a equipe. Analisar o histórico dessa equipe e o que já foi feito por ela no passado. Ver qual é a proposta que essa equipe tem para o futuro. Esses detalhes são extremamente relevantes. Não existe uma resposta certa porque cada investidor sabe o que busca. Com certeza, vivemos em um mercado hoje com um leque de opções para todo o tipo de investidor.
Por isso, eu digo que o primeiro passo é procurar um tipo de fundo que ele busca. Com certeza, o investidor vai encontrar dois a quatro fundos do mesmo perfil. A partir daí, é interessante olhar o histórico da gestão, o alinhamento que a equipe de gestão tem com o fundo. O que eu quero dizer com alinhamento? A equipe de gestão aplica o próprio dinheiro no fundo? O gestor está no mesmo risco do investidor? Hoje, com a evolução do mercado de fundos imobiliários, as gestoras estão mais preparadas para receber e atender o investidor do que no passado. O que acontece é que pouquíssimos investidores vão atrás dessas perguntas.
Há a expectativa para que o ciclo de aperto monetário encerre até o fim deste ano. Tendo essa perspectiva, até quando os investidores devem olhar para o fundo de papel?
Selegatto: Historicamente, os fundos de papel performaram bem em todos os momentos, pelo menos, desde quando estou no mercado. Pode acontecer no futuro próximo o fim do ciclo de alta, mas o início do ciclo de baixa ao ponto de jogar para baixo os juros novamente deve demorar mais tempo. A gente deve conviver com níveis altos de juros ainda por muito tempo e os fundos de CRI performam muito melhor do que os fundos de tijolo em períodos de juros alto.
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Mas quando o investidor deve aumentar a sua posição para o fundo de tijolo? Há um percentual da taxa Selic que pode indicar essa mudança para o investidor?
Selegatto: Vai depender do tipo de investidor. Na verdade, se você olhar os fundos de tijolo hoje você vai encontrar excelentes oportunidades porque os mercados estão extremamente estressados e os preços estão descontados. Então, há investidor que entra no mercado de tijolo buscando preços baratos e grandes upsides no futuro.
Mas há investidores que estão mais preocupados com dividendos. Eles estão atentos ao fluxo recorrente mensal do que esse grande upside (potencial de alta) de cota. Então, para esse investidor, os fundos de CRI são mais interessantes. Por isso que eu digo que vai depender do objetivo do investidor.