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Renda fixa local sempre pagou a conta dos fundos de pensão, diz Ísos

Frederico Duarte é um dos fundadores da empresa que busca aproximar gestoras dos fundos privados

Renda fixa local sempre pagou a conta dos fundos de pensão, diz Ísos
Frederico Duarte, da ÍSOS Investimentos. Foto: ÍSOS
O que este conteúdo fez por você?
  • Fundos de pensão são um mercado trilionário, mas ainda têm pouca participação na renda variável e no exterior. Investimentos internacionais correspondem a menos de 1% das carteiras
  • Executivos veteranos do mercado financeiro lançaram empresa que pretende unir gestoras e fundações
  • Em parceria com o BTG, a ÍSOS tem realizado roadshows no Brasil para levar casas de gestão às fundações e apresentar produtos

Com mais de R$ 1 trilhão investidos, os fundos de pensão brasileiros são um filão que chama a atenção das gestoras há muitos anos, mas poucas conseguem abocanhar. O potencial de investimento é ainda maior em ativos no exterior, que hoje representam menos de 1% da carteira dessas fundações, mas poderiam, por lei, chegar a 10%.

Foi de olho nessa janela de oportunidades que três veteranos do mercado financeiro nacional decidiram fundar uma empresa para ajudar a aproximar as casas de gestão a esse mercado.

Os “casamenteiros” são os executivos Frederico Duarte (ex-Plural e Canvas), Heitor de Souza Lima (ex-Franklin Templeton e Schroders), e Gianmarco Gomes (um dos sócios-fundadores da Itajubá e ex-Plural), que lançaram em agosto a ÍSOS Investimentos.

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Em setembro, a empresa deu início a um roadshow, em parceria com o BTG Pactual, para aproximar gestoras internacionais aos fundos de pensão privados. Em entrevista ao E-Investidor, Duarte explicou que a ÍSOS ajuda essas casas a “transitar pelo ambiente” das fundações.

“Quem não é do sistema de previdência ou uma gestora que não tem esses clientes tem mais dificuldade para transitar nesse mercado. É preciso construir uma relação, participar de forma ativa dos eventos. Depois que se tem essa entrada, a casa consegue divulgar produtos, falar de estratégias que existem lá fora”, garante.

Os fundos de pensão possuem hoje cerca de R$ 1,2 trilhão investido, segundo dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Desse total, apenas 12% estão em renda variável. Qual o potencial de crescimento da participação da renda variável nesses portfólios?

Para que os fundos aumentassem a alocação em renda variável, nós precisaríamos ter uma taxa de juros real mais baixa que a meta atuarial dessas fundações, o que ainda não acontece. A gente vai ver uma migração de renda fixa para renda variável com o tempo.

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Se voltarmos a um nível próximo de 2020 em termos de alocação em renda variável dos fundos de pensão (em 2020, o percentual da carteira em renda variável era de 20%), podemos estimar um valor próximo de R$ 30 bilhões para este segmento. Então há espaço para alocação em renda variável? Sim.

Mas por enquanto não está tendo tanto apetite assim. O risco lá fora e a taxa de juros ainda alta são fatores que impactam. Os fundos só vão partir para uma alocação de mais risco quando houver um ambiente mais propício.

O desempenho dos investimentos indexados à Selic, que vem caindo pouco a pouco, continua muito acima da performance do Ibovespa nos últimos 12 meses. Faz sentido aumentar a presença de ações nas carteiras dos fundos de pensão em meio a esse cenário?

A motivação para aumentar a participação em renda variável é a taxa de juros real (Selic menos inflação), que precisa estar abaixo da meta atuarial. Isso porque os salários dos aposentados são reajustados de acordo com o benchmark dos fundos de pensão. Hoje, o mais próximo dessa meta são os títulos atrelados ao IPCA. E mesmo as NTN-Bs (títulos do Tesouro Direto indexados à inflação) longas ainda pagam mais que a meta atuarial.

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Então faz sentido mudar? Não. É óbvio que eu gostaria, mas não faz sentido para as fundações. Quando fará sentido mudar? Quando os juros futuros indicarem que os juros reais vão ficar abaixo da meta atuarial. Se o Focus diz que em 2024 a Selic estará em 9% e a inflação em 5%, então já temos uma taxa real de 4%. A média das metas atuariais dos planos de benefício definido continua próxima de IPCA, mais 4,5%.

Ainda segundo a Abrapp, os investimentos no exterior correspondem a apenas 0,7% da carteira dos fundos de pensão. Por lei, esse percentual poderia chegar a 10%. Por que essa participação não é maior? 

Existem muitas vantagens de investir no exterior, com mais produtos e mercados mais desenvolvidos. Mas nossa legislação acaba sendo mais restritiva. A lei que regulamenta os fundos de pensão determina que as fundações só podem alocar em fundos de gestoras internacionais que tenham mais de US$ 5 bilhões sob gestão, o que dificulta.

Além disso, historicamente, nunca foi muito atrativo para os fundos de pensão porque a renda fixa local sempre pagou a conta, sempre bateu a meta atuarial. Quando começamos a ter uma taxa de juros mais baixa no Brasil, percebemos um certo movimento para produtos lá fora. As fundações se viram obrigadas a diversificar para buscar mais rentabilidade.

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Mas ainda assim hoje as fundações possuem menos de 1% de alocação no exterior. Isso não é diversificação. Vale lembrar que essa é a média.  Normalmente, quem tem mais são os fundos de pensão de multinacionais, como Ericsson, Siemens e IBM, que têm mais familiaridade com o tema.

Quais estratégias vocês usam para convencer as fundações a aumentar a participação lá fora?

Estimular a educação financeira sobre produtos offshore é muito relevante. Temos provocado nosso parceiro de produtos offshore, que é o BTG Pactual, para trazer gestoras de fora e fazer um roadshow pelos fundos de pensão do Brasil, para que possamos levar mais conhecimento sobre esses produtos às fundações. Já há gestoras fazendo um esforço nesse sentido.

Quem não é do sistema de previdência ou uma gestora que não tem esses clientes tem mais dificuldade para transitar nesse mercado. Tem que participar de forma ativa dos eventos. Quando há essa entrada, aí é possível divulgar produtos, falar de estratégias que existem lá fora. Fizemos no final de setembro duas rodadas com uma gestora internacional, a Pictet. O BTG traz a gestora e nós trazemos as fundações para dentro do BTG. Fizemos almoços em São Paulo e no Rio, e expectativa é fazer de novo no final de outubro.

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A ÍSOS calcula que hoje cerca de 70% dos investimentos dos fundos de pensão estejam concentrados em grandes casas gestoras. Quais os benefícios para esses fundos estar em contato com casas de menor porte?

Dos R$ 1,2 trilhão investidos pelos fundos de pensão, R$ 700 bilhões estão em fundos de investimentos e R$ 500 bilhões estão em ativos diretos. Esses 70% estão em cima dos R$ 700 bilhões. A vantagem das casas menores é que o gestor é mais focado, de nicho. Normalmente é alguém que já se provou em grandes casas e hoje tem a sua própria.

Por ser uma casa de nicho, essa gestora consegue focar mais em uma menor quantidade de ativos e ser mais assertiva, o que pode trazer mais resultados. É diferente do bancão, que para minimizar o risco vai diversificar mais.

O conflito no Oriente Médio pode se refletir na escolha dos investimentos por parte dos fundos de pensão?  

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Os fundos de pensão discutem, normalmente nesta época do ano, as políticas de investimento internas para os próximos anos. Nessa análise, existe um estudo chamado ALM, que significa Asset Liability Management, e que vai identificar qual a duration do passivo. Ou seja, qual o tempo médio dos participantes do plano. É isso que vai definir se a carteira precisa ter mais renda fixa ou variável.

Então o cenário externo não é o principal drive de tomada de decisão. O conflito impacta com o desconforto ou desconfiança dos ativos internacionais. Considerando que esse conflito ocorre em uma região produtora de petróleo, pode impactar no preço da gasolina e, com isso, há uma grande probabilidade de que a inflação se mantenha em níveis altos, demorando mais a cair.

Isso impacta diretamente a Selic. Além disso, se os juros nos Estados Unidos se mantiverem altos por mais tempo, os nossos também precisam estar, pois precisamos oferecer um prêmio maior aqui para que o país seja atrativo aos investidores internacionais. Mas nossa missão é ter todos os tipos de produtos para acomodar a demanda da fundação. A gente dança conforme a música. Quando decidimos montar a empresa, sempre nos preocupamos em preencher todos os níveis de risco para a fundação, desde os mais baixos até os fundos de renda variável. Temos parcerias para atuar em todas as frentes.

 

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