- A legalização das apostas esportivas no Brasil começou em 2018, permitindo a operação de sites de quota fixa que rapidamente se expandiram com apoio de influenciadores e publicidade massiva
- Embora apostar possa ser uma forma de entretenimento para muitos, não é uma estratégia viável para acumular riqueza, analisam os especialistas em finanças
- Especialistas recomendam que, ao invés de colocar dinheiro em jogos de azar, é mais sensato investir em ativos financeiros que proporcionem crescimento a longo prazo
Um jogo com bichinhos, à primeira vista fácil e inofensivo, que dá possibilidade de bons rendimentos, levou o estudante de administração Paulo de Sá, de 28 anos, à inadimplência. Dos R$ 20 mil que tinha na poupança, fruto de uma rescisão de trabalho, praticamente todo o valor foi destinado às apostas esportivas on-line, as chamadas bets, em pouco menos de três meses.
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Depois, vieram saques no cheque especial e até empréstimos. “Caí na propaganda de créditos gratuitos como incentivo inicial. O primeiro prêmio veio rápido, mas pouco tempo depois a coisa começou a dar errado. Quando a gente se dá conta não consegue mais sair. Sempre dizia que era a última partida para eu recuperar os gastos, mas perdia ainda mais”, diz.
Sá é apenas mais um na crescente estatística de brasileiros que cai nessa jogada. Segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), realizada em agosto deste ano, mais de 40 milhões de consumidores realizaram pelo menos uma aposta ou jogo on-line nos últimos 12 meses. Já o instituto Locomotiva revelou que aproximadamente 25 milhões de brasileiros fizeram apostas nos últimos seis meses, e que 20% das pessoas de baixa renda apostam ao menos uma vez por mês.
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A média mensal de gastos com esses jogos, diz o estudo da CNDL, chegou a R$ 186, atingindo R$ 267 nas classes A e B, o que representa quase R$ 2.400 por ano em apostas, muitas vezes perdidas, como no caso de Paulo de Sá. Esses valores, explicam especialistas, se investidos, podem gerar rendimentos promissores, mas, ao contrário, estão sendo drenados por um mercado que, até recentemente, operava sem regulamentação clara.
A legalização das apostas esportivas no Brasil começou em 2018, permitindo a operação de sites de quota fixa que rapidamente se expandiram com apoio de influenciadores e publicidade massiva. No entanto, a falta de regulamentação durante o governo Jair Bolsonaro (PL) resultou na explosão de casas de apostas, muitas com sede no exterior, dificultando o controle. Em 2023, um escândalo de manipulação de resultados de futebol expôs as falhas desse mercado sem fiscalização adequada.
Somente no governo Lula (PT) os esforços para regulamentar o setor ganharam força, com a aprovação de uma nova lei que define regras de taxação e funcionamento das empresas. A legislação abrange tanto apostas esportivas quanto jogos de azar virtuais. De acordo com projeções da Strategy&Brasil, consultoria da PwC, o setor movimentou entre R$ 60 bilhões e R$ 100 bilhões em 2023, representando quase 1% do Produto Interno Bruto (PIB). Com esse volume, o Brasil já se posiciona como o terceiro maior mercado de apostas on-line do mundo.
Ativos financeiros proporcionam crescimento a longo prazo
Embora apostar possa ser uma forma de entretenimento para muitos, não é uma estratégia viável para acumular riqueza, analisam os especialistas em finanças. O risco associado às apostas pode facilmente resultar em perdas acima do esperado, prejudicando o equilíbrio financeiro de uma pessoa e até colocando em risco a estabilidade da família.
Especialistas recomendam que, ao invés de colocar dinheiro em jogos de azar, é mais sensato investir em ativos financeiros que proporcionem crescimento a longo prazo. Investimentos são planejados de acordo com metas específicas, como aumentar o patrimônio, garantir uma aposentadoria confortável ou atingir outras conquistas pessoais. Aplicar o dinheiro em opções como ações, fundos de investimento ou até mesmo em poupança oferece uma estrutura de retorno baseada em análise e estratégia, e não em sorte.
Além disso, ao investir, as pessoas contam com o poder dos juros compostos, que permitem que o dinheiro cresça ao longo do tempo. Com a previsão de um possível aumento de 0,25% na taxa Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), neste mês, o ambiente para investimentos em renda fixa pode se mostrar ainda mais promissor.
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Esse tipo de aplicação, já favorecido por um ciclo de juros elevados, tende a oferecer retornos mais interessantes, especialmente para investidores que buscam segurança e previsibilidade em seus rendimentos. “Estamos no Brasil, o País com taxas de juros historicamente elevadas. Aqui, mesmo o investidor mais conservador consegue retornos que fariam qualquer europeu chorar de inveja”, argumenta a sócia da One Investimentos, Kátia Margareth.
Ela faz uma simulação para destacar a diferença entre jogar e investir: com um aporte mensal de R$ 200 investido a uma taxa média de 0,85% ao mês (equivalente a 10,65% ao ano), o valor total investido ao longo de 12 meses seria de R$ 2.400, gerando um saldo final de R$ 2.515. Embora o retorno de R$ 115 possa parecer pequeno a curto prazo, a verdadeira diferença aparece a longo prazo. Com o mesmo aporte mensal durante 10 anos, o total investido seria de R$ 24 mil. Graças ao poder dos juros compostos, o saldo final acumulado chegaria a cerca de R$ 41.353, dos quais R$ 17.353 seriam apenas juros.
Para investidores com um perfil mais moderado, que optam por incluir ativos de crédito privado isentos de imposto de renda, o cenário é ainda mais favorável, segundo Margareth. Nesse caso, a remuneração pode chegar a 120% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), resultando em R$ 2.539 após 12 meses e R$ 46.661 após 10 anos. “No Brasil, até o investidor moderado consegue se dar muito bem — e sem precisar de muita adrenalina”, diz.
Para investidores mais arrojados, Margareth sugere que, mesmo em um país onde o CDI geralmente supera o Ibovespa no longo prazo, é possível buscar retornos ainda mais elevados. Adicionando crédito privado de High Yield — fundo que possui em seu portfólio títulos que possuem um maior risco de crédito — ou ações de empresas com fundamentos sólidos, como lucros consistentes e dívidas controladas, segundo ela, é possível obter rendimentos superiores a 150% do CDI. No entanto, ela alerta: “Não precisa ir com tudo para a renda variável; as taxas de juros já fazem boa parte do trabalho”.
Quanto R$ 2.400 por ano em apostas poderia render se esse valor fosse investido?
- Carteiras conservadoras: segurança em alta
Para os investidores que priorizam a segurança e a estabilidade, as carteiras conservadoras continuam a ser uma escolha atraente, segundo a especialista em fundos e previdência da Manchester Investimentos, Mayara Ranni Sekertzis. “Essas carteiras são compostas principalmente por ativos de baixo risco, como títulos de renda fixa e fundos DI, e são idealmente ajustadas para acompanhar a Selic”, explica.
Atualmente, com a Selic em 10,50% e a possibilidade de alta, as carteiras conservadoras podem oferecer retornos médios de até 12% ao ano. Um aporte anual de R$ 2.400, em uma carteira conservadora, diz ela, pode resultar em R$ 15.246,83 após cinco anos, R$ 42.116,96 em 10 anos, R$ 89.471,32 em 15 anos e R$ 172.925,86 em 20 anos.
Período | Retorno |
5 anos | R$ 15.246,83 |
10 anos | R$ 42.116,96 |
15 anos | R$ 89.471,32 |
20 anos | R$ 172.925,86 |
- Carteiras moderadas: equilíbrio e potencial
Para aqueles que buscam um equilíbrio entre risco e retorno, as carteiras moderadas oferecem uma alternativa interessante. “Essas carteiras combinam renda fixa com ativos de risco, como ações e fundos imobiliários, oferecendo uma expectativa de rendimento entre 10% e 15% ao ano”, explica Sekertzis. Um aporte anual de R$ 2.400 em uma carteira moderada pode gerar R$ 16.181,72 em 5 anos, R$ 48.728,92 em 10 anos, R$ 114.192,99 em 15 anos e R$ 245.864,60 em 20 anos.
Período | Retorno |
5 anos | R$ 16.181,72 |
10 anos | R$ 48.728,92 |
15 anos | R$ 114.192,99 |
20 anos | R$ 245.864,60 |
- Carteiras agressivas: potencial máximo com risco elevado
Para os investidores mais arrojados, que estão dispostos a assumir riscos em busca de retornos maiores, as carteiras agressivas se destacam. “Essas carteiras, com alta exposição à renda variável e, às vezes, criptomoedas, podem oferecer retornos que variam de 15% a 30% ao ano. No entanto, é preciso estar ciente da alta volatilidade e dos riscos associados”, afirma a especialista. Com uma taxa de retorno de 25% ao ano, um aporte anual de R$ 2.400 pode se transformar em R$ 19.696,88 em 5 anos, R$ 79.806,97 em 10 anos, R$ 263.248,41 em 15 anos e R$ 823.067,27 em 20 anos.
Período | Retorno |
---|---|
5 anos | R$ 19.696,88 |
10 anos | R$ 79.806,97 |
15 anos | R$ 263.248,41 |
20 anos | R$ 823.067,27 |
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