O que este conteúdo fez por você?
- Para os especialistas, sempre é hora de reservar uma proteção contra a volatilidade da economia brasileira
- Incertezas fiscais, pressões inflacionárias e cenário geopolítico de aversão ao risco impactam no câmbio
- Com o dólar caminhando para as máximas histórica, governo passou a correr para tentar acalmar mercado com pacote de corte de gastos
É nos momentos de incerteza quanto ao futuro da economia que o investidor brasileiro busca refúgio no dólar como um porto seguro. O problema é que esse sinal de alerta costuma surgir apenas quando o câmbio já está elevado, como ocorre agora, com a cotação em quase R$ 5,70. O fato novo é que o governo promete um pacote de corte de gastos que poderá reduzir a pressão sobre o câmbio. Diante desse cenário, surge a pergunta: seria o momento de entrar na moeda americana?
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Para os executivos de finanças a resposta mais simples é “sim”, sempre é hora de reservar uma proteção contra a volatilidade da economia brasileira, fazendo aportes graduais e de forma planejada. “Uma estratégia mais eficiente para diversificação em moeda estrangeira é dividir o valor a ser investido ao longo do tempo, o que ajuda a diluir os riscos de flutuações cambiais”, argumenta Fernando Bento, sócio e CEO da FMB Investimentos.
“Portanto, mesmo com o câmbio em alta, manter parte dos investimentos atrelados a moedas fortes pode proteger o portfólio contra movimentos inesperados”, completa.
A cotação da moeda americana é um termômetro importante sobre a percepção dos investidores em relação à economia. Sinaliza como o mercado enxerga o equilíbrio entre o risco e o retorno do país. Atualmente, as incertezas fiscais, pressões inflacionárias e um cenário geopolítico de aversão ao risco, com o mundo buscando proteção em moedas fortes, favorecem a desvalorização do real.
Sinais trocados
A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, observa que o banco central norte-americano, o Fed, iniciou o ciclo de corte de juros, enquanto o BC brasileiro sinaliza que vai manter o processo inverso de alta. “Isso deveria deixar o dólar mais fraco no Brasil, porque é motivo para atrair investimento estrangeiro pelo diferencial de juros”, diz. Segundo ela, isso não está acontecendo pela questão fiscal brasileira, que estaria fazendo mais preço até mesmo em relação ao risco de guerra total no Oriente Médio, um cenário possível que não está se confirmando. “O medo dos investidores é o fiscal, isso gera incerteza e insegurança.”
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Com o dólar caminhando para as máximas históricas da fase da pandemia, o governo brasileiro passou a correr para tentar acalmar o mercado. Nesta semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passou a falar sobre um pacote de corte de gastos, que poderia gerar economia de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões, de forma a melhorar a trajetória da dívida brasileira.
Perspectiva positiva
A notícia é considerada positiva. “A melhora nas contas públicas e a contenção da dívida podem reduzir essa percepção de risco e fazer com que o real ganhe força, diminuindo a necessidade de proteção cambial”, avalia Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos.
Como há, portanto, uma expectativa positiva em relação à moeda brasileira, o investidor precisa ficar atento sobre a diversificação em dólar neste momento, alerta Thamiris Abdala, CEO na Holding SM. “Como a moeda americana já está em um patamar elevado, é preciso ter cautela, pois pode haver uma correção de preços caso o cenário fiscal melhore”, diz.
Para muitos, a tendência de valorização do dólar deve se manter, enquanto o mercado aguarda resultados concretos sobre o pacote do governo. “O que vemos é a tendência de manutenção dessa valorização, até que haja resultados concretos no que tange ao pacote de redução de gastos (a ser) anunciado pelo governo”, diz Douglas Ferreira, head de Câmbio da Planner Corretora. “Só a partir daí será possível ter uma ideia de qual caminho seguir.”
Desconfiança permanece
A expectativa agora é em relação ao que virá no pacote, como será a sua implementação e se ela será suficiente para sinalizar compromisso maior com a responsabilidade fiscal, como pretendem Haddad e Simone Tebet, ministra do Planejamento que também entrou no tema.
Muitas das medidas esperadas pelo mercado tocam em pontos sensíveis da agenda do governo Lula. “A questão da redução de gastos é impactada pela valorização do salário mínimo e dos programas sociais, que o governo não está disposto a abrir mão”, lembra Douglas Ferreira da Planner. Gastos discricionários também são difíceis de mexer, a exemplo de uma revisão de emendas parlamentares.
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Diante desses desafios, profissionais do mercado se mantêm céticos e comprados em dólar. É o caso do especialista em mercado da Star Desk Felipe Sant’Anna. “O discurso do presidente não se alinha ao da sua equipe econômica. Esse filme já foi anunciado, causando ‘frustação’ e ‘surpresa’ ao mercado”, diz ele expondo a sua máxima: “Dolarize hoje ou pague mais caro amanhã.”