Na última sexta-feira (19), a Moody´s rebaixou a nota de crédito dos Estados Unidos (Foto: Adobe Stock)
A aversão ao risco voltou a assombrar as bolsas de Nova York com o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos pela Moody´s, uma das principais agências de classificação de risco do mundo Na última sexta-feira (16), a agência retirou a nota máxima do governo americano, rebaixando o país de ‘Aaa’ para ‘Aa1’, devido ao crescimento do déficit orçamentário nos últimos anos e à ausência de medidas para reverter o cenário fiscal do país. A perspectiva para o governo americano também foi alterada, saindo de negativa para estável.
“As sucessivas administrações e o Congresso dos EUA não conseguiram chegar a um acordo sobre medidas para reverter a tendência de grandes déficits fiscais anuais e custos de juros crescentes. Não acreditamos que reduções plurianuais significativas nos gastos obrigatórios e nos déficits resultarão das atuais propostas em consideração”, explica a agência de classificação de risco. A Moody´s acrescentou ainda que, na próxima década, os déficits serão maiores à medida que os gastos com direitos aumentam, enquanto a receita do governo permanece estável.
Ao perder o status ‘Aaa’ pela Moody’s, os Estados Unidos deixam um seleto grupo que inclui a União Europeia, Canadá e Alemanha, juntando-se a países como Áustria e Finlândia, que também são classificados com ‘Aa1’ pela agência. A nova avaliação da agência de ratings elevou as preocupações dos analistas de Wall Street sobre as contas públicas do governo americano. Por volta das 13h40 (de Brasília), os índices acionários S&P 500 e Nasdaq recuavam 0,10% e 0,31%, respectivamente. Dow Jones avançava 0,20%. A sessão reflete o receio dos investidores. O viés negativo também influenciou no desempenho do Ibovespa, principal índice da B3, no início da manhã que recuou 0,25% na sessão de hoje.
O rebaixamento da nota de crédito da Moody´s reforça a percepção do mercado de que o excepcionalismo do americano sofre algumas ameaças. No último dia 15, a XP soltou um relatório em que avalia os desequilíbrios estruturais recentes, especialmente sob o ponto de vista macroeconômico, da maior economia do mundo. A corretora destacou que a dívida pública federal dos EUA cresceu de forma significativa, superando a marca dos US$ 36 trilhões. A elevação é resultado de déficits fiscais recorrentes ao longo dos últimos 50 anos e não há perspectivas de melhoras para no curto e médio prazo para o problema.
“A polarização política em Washington tem impedido a construção de consensos mínimos em torno da necessidade de disciplina fiscal, sustentabilidade do gasto público e racionalidade tributária”, comentou a XP. Paralelo a esse movimento, o mundo sofre também um processo de desglobalização, impulsionada pela pandemia e agravada pelas tensões geopolíticas e pelas tarifas de importação de Donald Trump, presidente dos EUA.
A nova dinâmica força os países a reestruturarem as suas cadeias de suprimento e reduzirem sua dependência do dólar em busca de uma maior soberania nacional. É o caso da China, que tem promovido o uso do yuan em transações comerciais com parceiros estratégicos. “Esse movimento aponta para um sistema monetário mais multipolar — no qual o domínio americano pode ser progressivamente desafiado”, ressaltou a XP.
A nova realidade levanta a hipótese de uma reprecificação mais profunda dos ativos norte-americanos enquanto investidores, governos e bancos centrais exigirem prêmios mais altos para manter alocações expressivas em ativos dolarizados, o que pressionaria os juros e a sustentabilidade da dívida dos EUA. Contudo, a crise fiscal não será suficiente para a perda da liderança mundial do país.
Publicidade
“Os EUA continuam líderes globais em inovação, especialmente nas frentes de tecnologia, inteligência artificial, biotecnologia e transição energética. O ambiente de negócios ainda favorece o empreendedorismo e a mobilização de capital, e não há hoje no mundo um mercado de capitais tão profundo, líquido e confiável”, ressalta a corretora.
Para os brasileiros, ficou arriscado investir nos EUA?
Apesar do estresse dos mercados e dos riscos que pairam no radar, o rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos não altera as recomendações de investimento para os investidores brasileiros. William Castro Alves, sócio e estrategista-chefe da Avenue, explica que a alteração da Moody´s acompanhou as decisões de outras agências de classificação de risco. Em 2011, a S&P Global Ratings puxou a fila do movimento, rebaixando a nota de crédito dos EUA. Em seguida, foi a vez da Fitch Ratings, em 2023.
“Os EUA continuam com um yield (retorno) muito mais interessante do que os outros países que têm uma nota de classificação de risco ‘Aaa’. Os títulos públicos da Dinamarca, por exemplo, possuem um yield de 1,85%, enquanto os títulos americanos pagam 4,5%. É uma diferença muito grande”, explica Castro Alves. Além disso, o risco de um calote do governo americano sobre o pagamento das suas dívidas é quase inexistente, lembram os analistas de mercado. Em termos práticos, Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, avalia que a mudança deve elevar os prêmios que são pagos pelos títulos emitidos nos EUA. “Não acreditamos que esse movimento da Moody´s altere de forma estrutural as perspectivas de risco e retorno para investidores brasileiros (ao investir nos Estados Unidos)”, diz Igliori.
Já a Morgan Stanley recomendou que investidores aproveitem a queda das ações americanas para aumentar as suas alocações e avaliem o momento de correção das bolsas como uma oportunidade interessante de investimento. Segundo Michael Wilson, estrategista de ações do Morgan, o movimento de revisões para cima nas expectativas dos lucros futuros das empresas está ganhando força. “Acreditamos que o progresso contínuo de revisões para cima nas expectativas do lucro por ação será necessário para o S&P 500 romper a marca de 6.100 pontos”, avalia Wilson.