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- Fim das restrições severas da política de covid-zero, pacotes de incentivos fiscais e volta do crescimento econômico. Ao que tudo indica, os motores da economia da China foram ligados mais uma vez
- Por ser o maior parceiro comercial do Brasil, melhora do cenário chinês pode beneficiar algumas empresas nacionais
- Mas, para 2023, jogo político no Brasil será mais relevante do que o cenário internacional, dizem especialistas
Fim das restrições severas da política de Covid-zero, pacotes de incentivos fiscais e volta do crescimento econômico. Ao que tudo indica, os motores da economia da China foram ligados mais uma vez para cumprir a promessa feita pelo presidente do país, Xi Jinping, ao chegar em seu inédito terceiro mandato: levar o gigante asiático à liderança econômica do mundo.
E como principal parceiro comercial do Brasil, a retomada do gigante asiático aumenta as expectativas sobre a economia e o mercado financeiro brasileiro, que em 2023 passará a seguir as diretrizes do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidente da República.
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Uma série de medidas foram anunciadas recentemente pelos membros do Partido Comunista. A principal, reverter a tolerância zero com que o país enfrentava a Covid-19 para, depois de dois anos de pandemia, dar início a um processo de reabertura gradual das atividades. “Era um país que queria eliminar a doença, mas que agora decidiu conviver com ela”, diz Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG.
Outras medidas foram tomadas para tentar suavizar os problemas da construção civil em território chinês, enquanto restrições ao setor de tecnologia e educação foram suavizadas. Um pacote de medidas para retomar o crescimento da economia que muda os prognósticos do mercado em relação à China em 2023.
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Tudo isso em um momento em que as maiores economias do ocidente, como Estados Unidos e Europa, enfrentam um amargo processo de alta nos juros que faz grande parte do mercado precificar uma recessão nas nações mais desenvolvidas no próximo ano. Nesta reportagem, contamos um pouco do que esperar da economia norte-americana em 2023.
“Eles estão mesmo fazendo um movimento grande de mudança na direção, várias coisas que foram feitas nos últimos 12-18 meses estão sendo desfeitas agora. Principalmente depois de um ano tão difícil em termos de preços de ativos. Isso torna a China muito interessante para 2023”, explica Fenolio.
A retomada do Produto Interno Bruto (PIB), porém, ainda deve acontecer de forma gradativa nos primeiros trimestres de 2023. Por hora, espera-se que a liberação das restrições sanitárias gere uma nova onda de Covid por lá. “Até as empresas se acostumarem à nova forma, vai exigir esforço”, afirma Hsia Hua Sheng, especialista em finanças internacionais e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). “O crescimento do PIB em 2023 com certeza vai ser perto da média de 5%, mas a distribuição desse crescimento não vai ser igual ao longo do ano”.
O Brasil vai acompanhar?
Ventos mais favoráveis vindos da China já são percebidos pelo mercado brasileiro há algumas semanas. Em novembro, as primeiras sinalizações de relaxamento das restrições contra a Covid-19 no país fizeram o preço do minério de ferro disparar: uma alta de 24,7% segundo a Ágora Investimentos. Uma injeção de ânimo para as ações ligadas à commodity, que encerraram o mês como destaque, como mostramos nesta reportagem.
Se a melhora na economia chinesa se confirmar, essas companhias podem seguir se beneficiando em 2023, ano em que o Brasil troca os rumos da política ao sair do governo alinhado com os pensamentos da direita de Jair Bolsonaro (PL) para uma guinada à esquerda com Lula. “China crescendo, olho nas exportadoras”, diz Fabio Fares, especialista em análise macro da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.
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Como o gigante asiático é o maior parceiro comercial do Brasil, empresas que fazem negócios e exportam seus produtos para o gigante asiático podem ser as que melhor conseguirão se beneficiar da volta do crescimento chinês. “Vale (VALE3), Suzano (SUZB3), Klabin (KLBN11); empresas que fazem negócios com a China e terão um cenário ainda melhor dado o dólar alto”, destaca Fares.
Mas a volta do crescimento da China pode não ser suficiente, por si só, para garantir um ano de bonanças na Bolsa brasileira em 2023. “Talvez a sensibilidade do Brasil ao crescimento da China não seja tão grande como foi entre 2000 e 2010″, ressalta Fernando Fenolio, da WHG.
À época, o foco da atividade econômica era a construção civil, muito dependente de uma matéria-prima que o Brasil é o grande exportador: o minério de ferro. Dessa vez, entretanto, o crescimento parece estar ligado a outras frentes menos dependente dos produtos brasileiros, como tecnologia.
Fenolio destaca ainda um outro ponto: em 2023, quem vai realmente ditar os rumos do mercado brasileiro será a nova política econômica do terceiro mandato de Lula. Um assunto que vem penalizando a Bolsa neste mês e seguirá no radar assim que o novo governo eleito tomar posse em janeiro.
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“A dinâmica de Brasil será muito mais pautada pelo que vamos fazer em termos de política econômica local do que pelo cenário internacional. Seria pior sem a China, claro, mas a melhora por lá também não vai ser definitiva para o mercado brasileiro”, explica o economista da WHG.
Pacote bilionário em discussão
A agência internacional de notícias Reuters divulgou nesta semana que o governo chinês está preparando um pacote de incentivo à indústria de semicondutores no valor aproximado de 1 trilhão de yuans – equivalentes a cerca de US$ 143 bilhões.
Segundo a Reuters, o plano seria lançar o pacote de incentivos fiscais, um dos maiores em cinco anos, já no primeiro trimestre de 2023. Uma tentativa do gigante asiático de se aproximar da autossuficiência em chips à medida que os Estados Unidos impõem medidas de restrição à exportação dos produtos para a China.
O governo da China não comentou o assunto, diz a Reuters.
O especialista Hsia Hua Sheng, da FGV, desconhece a notícia de que este pacote esteja mesmo sendo preparado. Mas diz que não seria necessariamente uma surpresa, visto que o país tem recursos para oferecer incentivos desse patamar e olha os semicondutores como prioridade.
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“Os EUA e China, além da guerra comercial, têm a guerra tecnológica”, explica Sheng. Nesse cenário de restrição aos chips dos EUA, não resta alternativa para a China se não investir no desenvolvimento dos seus próprios semicondutores”.
Mas o professor ressalta que esse investimento, seja feito ou não por um pacote de 1 trilhão de yuans, demoraria para causar impactos positivos no PIB chinês. “É muito possível que seja na área de tecnologia e semicondutores que a China queira investir mais de um trilhão, mas o efeito disso no PIB é gradual, vai levar cerca de três anos para aparecer”, diz Shang.
Um investimento que, segundo o professor, dificilmente tem a ver com o Brasil. “Investimentos em infraestrutura, que consome commodities, é o que impacta o Brasil”.