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Investidores pressionam grandes petrolíferas a revelar previsões de longo prazo para o preço do barril

Com impacto da pandemia na demanda, acionistas temem prejuízos financeiros e ambientais

Investidores pressionam grandes petrolíferas a revelar previsões de longo prazo para o preço do barril
(Foto: Jim Young/Reuters)
  • As chamadas Big Oil (gigantes mundiais do setor) usam essa informação para decidir se um recurso será financeiramente viável
  • Nos últimos meses, ativistas e investidores vêm apontando um risco de otimismo exagerado por parte das companhias em seus cálculos sobre o preço futuro do petróleo bruto

(Kevin Crowley e Akshat Rathi/Bloomberg) – A demanda por combustíveis fósseis desabou com a covid-19, levando investidores preocupados com as mudanças climáticas a pressionarem grandes petrolíferas americanas a revelar suas previsões de longo prazo para o preço do barril.

A Exxon Mobil Corp e a Chevron Corp não publicam essas estimativas. Isso impede que os acionistas avaliem com precisão se os planos de investimento das empresas estão alinhados à expectativa de uma transição global rumo às energias limpas. Assim, muitas organizações com participação nessas companhias vêm defendendo que a política de sigilo precisa mudar. Entre os investidores que pedem para ver esses números estão os fundos de pensão dos funcionários do governo do estado de Nova York e dos professores das escolas públicas da Califórnia – além do Ceres, um grupo de Boston que administra cerca de US$ 30 trilhões em ativos.

Enquanto isso, diversas petrolíferas europeias passaram a divulgar previsões de longo prazo, com grande repercussão. Há duas semanas, a BP informou que baixou consideravelmente a previsão de longo prazo para o preço do Brent bruto, numa desvalorização que chega a US$ 17,5 bilhões. No dia 30 de junho, a Royal Dutch Shell anunciou uma depreciação de até US$ 22 bilhões para o segundo trimestre, num momento em que a crise do coronavírus atinge todas as demandas do setor – do petróleo ao gás natural liquefeito (GNL).

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As estimativas de longo prazo são fundamentais. As chamadas Big Oil (gigantes mundiais do setor) usam essa informação para decidir se um recurso será financeiramente viável, e qual seu valor contábil para as empresas.

Nos últimos meses, ativistas e investidores vêm apontando um risco de otimismo exagerado por parte das companhias em seus cálculos sobre o preço futuro do petróleo bruto. Com isso, elas podem acabar apostando em projetos caros, que se mostrariam inúteis – conhecidos no mercado como “ativos encalhados” –, sobretudo num mundo que caminha para combustíveis com baixa emissão de CO2.

“Exxon e Chevron deveriam ser mais transparentes e divulgar suas previsões de longo prazo para os preços, bem como outras informações necessárias para que os investidores avaliem seus planos de transição para energias limpas”, diz Mark Johnson, porta-voz da controladoria de Nova York, responsável por supervisionar o fundo de pensão dos funcionários do estado. “Sem esses dados, não podemos saber se as companhias estão realmente falando sério, ou se seu discurso não passa de uma retórica vazia sobre a ameaça das mudanças climáticas”.

Em uma declaração enviada por e-mail, Sean Comey, assessor de imprensa da Chevron, explicou que a empresa compila “diversos cenários de previsões futuras”, com base em informações de terceiros e análises próprias. “Continuamos tratando esses dados de forma confidencial, pois eles representam um conteúdo sensível que pode ser usado por nossos concorrentes”.

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Já a Exxon avalia seus planos e grandes investimentos com base numa ampla gama de cenários de preço. Em seus relatórios anuais, ela divulga informações sobre o impacto da flutuação nos valores, conforme esclareceu o assessor Casey Norton por e-mail. Norton acrescentou que a Exxon apoia os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. O porta-voz da petrolífera escreveu: “o mundo vai continuar precisando de investimentos consideráveis em líquidos e gás natural”.

O coronavírus colocou a questão do preço futuro do petróleo bruto no centro das discussões do setor. Antes da covid-19, acreditava-se que o pico na demanda pelo produto ainda estava a pelo menos uma década de distância. Mas a doença causou uma queda tão vertiginosa no consumo que algumas pessoas – entre elas Bernard Looney, CEO da BP – têm se perguntado: será que algum dia o uso de combustíveis fósseis vai voltar aos níveis pré-pandemia?

“A principal preocupação dos investidores é o risco de estarem se planejando para um futuro que pode nunca chegar – um futuro de demanda e preços em alta”, explica Andrew Logan, diretor-sênior de petróleo e gás no Ceres.

Em março, durante reuniões com acionistas, tanto a Exxon e quanto a Chevron fizeram projeções de longo prazo para seu fluxo de caixa, considerando um barril cotado a US$ 60 – mais ou menos a média observada nos últimos cinco anos. As projeções, porém, não representam uma previsão de longo prazo para o comportamento dos preços, e não trazem informações sobre o planejamento relativo a mudanças climáticas e possíveis desvalorizações. No momento, o barril de petróleo bruto é negociado a cerca de US$ 40, e a incerteza sobre a recuperação na demanda global só cresce – bem como as dúvidas sobre a capacidade da OPEP de manter a política de cortes na oferta.

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As duas empresas costumam se gabar de que seus novos projetos rapidamente cobrem os custos (que elas alegam ser baixos), o que as tornaria mais competitivas quando comparadas à concorrência. A Exxon, por exemplo, declarou que suas iniciativas na Guiana e na Bacia do Permiano, no oeste do Texas e do Novo México, vão oferecer “retorno de dois dígitos” mesmo com o barril negociado a US$ 40. A história, porém, pode ser diferente para outros produtos da carteira da empresa. Se o barril estivesse cotado a US$ 30, a Exxon seria dona de 60% dos 30 principais ativos de petróleo com margem mais baixa considerando o custo de produção, de acordo com a consultoria Wood Mackenzie Ltd.

Para Brian Rice, um dos gestores do fundo de pensão dos professores do estado da Califórnia – conhecido como Calstrs –, o “sistema de divulgação de informações das petrolíferas americanas se torna um tanto opaco” na falta de previsões de longo prazo para os preços. Ele acrescenta que isso “pode ser frustrante”, e diz que cada vez mais investidores podem exigir esses dados no futuro. Somados, o Calstrs e o fundo de pensão dos funcionários do estado de Nova York administram cerca de US$ 453 bilhões, que incluem ações da Exxon e da Chevron.

Embora nenhuma legislação proíba as empresas americanas de publicarem suas previsões de longo prazo, muitas hesitam em fazê-lo por medo de ficarem sujeitas a processos e acusações de tentar influenciar o preço do petróleo, conforme avalia Ed Hirs, pesquisador de energia na Universidade de Houston.

Para os investidores, o perigo é que as previsões de preço estejam excessivamente confiantes – e esse
problema também pode ser decisivo para o meio ambiente. Diretora de campanha da Union of Concerned Scientists (ou União de Cientistas Preocupados), Kathy Mulvey esclarece que grande parte da areia betuminosa do Canadá – cuja exploração tem um dos mais altos níveis de emissão de CO2 do setor – foi desenvolvida com base numa expectativa de barris acima de US$ 80.

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“Esses projetos têm de ser supervisionados de perto”, afirmou ela numa entrevista recente. “Se algo der errado, eles podem trazer riscos sistêmicos ao meio ambiente”.

(Tradução: Beatriz Velloso)

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