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Chegou a hora de ‘apostar’ na valorização do real contra o dólar?

Especialistas explicam fatores que devem pesar no câmbio nos próximos meses

Chegou a hora de ‘apostar’ na valorização do real contra o dólar?
Foto: Shutterstock
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  • Em 2020, um dos ativos que mais se destacou foi o dólar. A moeda valorizou 30% com a maior busca por proteção, em função da pandemia do coronavírus
  • Já em 2021, o desempenho do ativo está bem mais discreto e algumas baixas são observadas
  • Alguns fundos e bancos estrangeiros parecem mais otimistas com o real no curto prazo

Em 2020, um dos ativos que mais valorizaram com o início da pandemia foi o dólar. A maior busca por proteção, frente às incertezas geradas pelo coronavírus, levaram a moeda americana saltar 30% e passar de R$ 4, em janeiro do ano passado, para R$ 5,19, em dezembro. Já em 2021, o desempenho do ativo está bem mais discreto e algumas baixas são observadas.

No acumulado deste ano a moeda sobe 2,80%, a R$ 5,3. No recorte dos últimos dois meses, entretanto, há queda de 6,5%.

Informações da Reuters mostram que alguns fundos e especuladores dos mercados futuros dos Estados Unidos estariam adotando posições compradas em real (isso significa ‘apostar’ na valorização da moeda) pela primeira vez em quase dois anos, pensando nas expectativas de crescimento econômico do País.

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Bancos estrangeiros, como o Barclays e Citi, também reforçaram a visão positiva para o real no curto prazo, mantendo a recomendação de compra para a moeda brasileira – um cenário pouco provável há alguns meses. Essas informações reforçam uma dúvida: finalmente chegou a hora de apostar a favor do real contra o dólar?

Perspectivas positivas

Para Fábio Guarda, portfólio manager da Galapagos Capital, a resposta para a pergunta é afirmativa. Ele reforça que após a grande aceleração do dólar em 2020, chegou a vez do real. “Os dados de atividade e confiança no Brasil têm surpreendido positivamente. A moeda tende a se fortalecer caso essa tendência continue”, afirma o especialista. “Agora começam a maturar uma série de condições que estavam no radar dos investidores mas, que até o momento, ainda estavam incertas.”

Uma dessas condições que se materializaram nas últimas semanas foi o início do ciclo de alta dos juros. Depois de quase 7 meses mantendo a Selic em 2% ao ano, o Banco Central retomou a trajetória de alta na taxa na reunião de março e elevou a taxa para 3,5% no último encontro, em maio. Até o fim do ano, a expectativa é que a taxa suba para o patamar de 5,5%, de acordo com o Boletim Focus.

“O diferencial de juros real deve voltar a ser mais favorável ao real com os próximos movimentos de alta. Ficava muito barato financiar apostas em outros emergentes vendendo o real. Isso agora não vale mais”, explica Guarda. “As contas externas também ajudam, devemos ter o primeiro superávit estrutural em conta corrente desde 2006.”

Segundo o especialista, o desempenho positivo das contas externas será impulsionado pelo boom de commodities global, o que trará mais dólares para o Brasil e pod favorecer o real. Na visão de Guarda, as principais dúvidas em relação ao coronavírus tendem a se dissipar com o avanço das imunizações, mesmo que o número de casos e mortes ainda seja alto. O fator político também deve ficar em segundo plano em 2021.

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“A vacinação em curso, com mais perspectivas de importação de doses e insumos tira esse assunto das preocupações correntes”, afirma. “O cenário político é sempre desafiador, mas como o dilema do orçamento parece ter ficado no retrovisor, retiramos mais um fator de incerteza da mesa. Temos o debate prematuro sobre eleição, mas esse tema ainda não é pauta recorrente e pode ficar mais para o início de 2022.”

Seria bem plausível, de acordo com Guarda, ver o dólar a R$ 5 no fim do ano. “Há uma série de fatores que podem ajudar o real a ter uma performance melhor no segundo semestre do que observamos nesse início de ano”, afirma.

Já para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o investidor deve se preparar para muita volatilidade nos próximos meses. “Nós temos para o final do ano um cenário de câmbio para R$ 5,35, mas com muita volatilidade, pautado em diversos eventos”, diz.

Volatilidade à vista

Mesmo com as perspectivas positivas para a moeda brasileira, existem alguns fatores importantes a serem levados em consideração nos próximos meses. No lado que pesa contra o real, está o possível agravamento da pandemia do coronavírus no Brasil, com atenção especial também à CPI da covid. A investigação busca elucidar supostas omissões no enfrentamento à pandemia no Brasil.

“A CPI e o impacto dos seus desdobramentos poderão afetar a continuidade das reformas, segurando uma eventual apreciação da moeda brasileira”, afirma Guilherme Ammirabile, assessor de investimentos da iHUB Investimentos.

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Ainda no campo dos fatores domésticos, os riscos fiscais e políticos seguem no radar como dois fatores importantes para o enfraquecimento do real e valorização do dólar. Aliado às questões internas, os temores em relação à elevação da inflação nos Estados Unidos em função dos fortes estímulos à economia jogam o câmbio para baixo. Em março, o Senado norte-americano aprovou um pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão.

Caso a maior injeção de capital nos EUA resulte em uma aceleração da inflação acima do esperado e o Federal Reserve precise subir juros, o rendimento dos treasures, títulos públicos norte-americanos, podem disparar e tirar dólares do Brasil e de mercados emergentes. “Isso enfraquece o real. Os Estados Unidos são considerados o porto seguro do mundo e, quando sobem os juros, atraem mais investidores”, explica Ammirabile.

Como investir

Uma forma de investir na queda do dólar frente ao real é através de fundos de investimentos. No Brasil, entretanto, as opções são limitadas. Segundo o levantamento feito pela Economatica Brasil, há o Trend Short Dólar FI Cambial, que trabalha exatamente com essa estratégia. O produto da XP foi criado em dezembro de 2018 para ampliar as opções dos investidores em relação às perspectivas para o câmbio, com aplicação mínima de R$ 500 e taxa de administração de 0,80%.

O fundo cambial BV Usd Short Cambial FIC também opera com posição vendida em dólar. A aplicação foi criada em agosto do ano passado, com aporte inicial de R$ 1 mil e taxa de administração de 0,85%. “O fundo busca acompanhar a variação do real brasileiro por meio da venda de contratos futuros de Dólar Americano”, afirma a Votorantim Asset, gestora da aplicação, no material de divulgação do produto.

Outra forma é operar diretamente na B3, vendendo contratos futuros de mini-dólar. Isso significa que o investidor vai vender a moeda estrangeira por um preço pré-acordado em um ‘minicontrato’, pensando em recomprá-la em um futuro próximo (também previsto no contrato) por um valor menor.

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É uma operação de alto risco feita no Mercado Futuro, um ambiente virtual dentro da Bolsa de Valores em que são negociados contratos de compra e venda de ativos para datas futuras.”Requer cadastro prévio, depósito de margem [de garantia] e, principalmente, experiência para execução e controle de risco”, afirma Guarda.

*Com Reuters

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