O que este conteúdo fez por você?
- Levantamento da Economatica aponta que existem títulos de dívidas de empresas que pagam até IPCA+10% ao ano
- Analistas ressaltam que esses títulos têm riscos e investidor conservador deve ficar de fora desses ativos
- O investidor também deve tomar cuidado com o prazo de vencimento, quanto mais longe for a data, mais arriscado é o título
As taxas dos títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação com vencimento para 2035 recuaram 0,40 ponto porcentual em apenas uma semana. As taxas do Tesouro IPCA 2035 recuaram de IPCA+6,65% no fechamento da última quarta-feira (3) para IPCA + 6,25% nesta quarta-feira (10). A queda ocorreu após dados da inflação abaixo do esperado, o que trouxe alívio para o mercado.
Leia também
Ao longo da última semana, o governo também anunciou um corte de gastos de R$ 25,9 bilhões, o que também animou a Faria Lima. Nesse sobe e desce, o investidor pode encontrar títulos que pagam muito mais que os ofertados pelo Tesouro Direto – alguns chegam a ter uma taxa de rendimento de IPCA+10% ao ano.
Segundo levantamento feito pela Economatica a pedido do E-Investidor, existem títulos de dívidas de empresas que pagam até IPCA + 10% ao ano. No entanto, o investidor deve entender que esses ativos não possuem a mesma garantia que os papéis do Tesouro Direto. Para Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, se o investidor tiver um perfil mais conservador, o ideal é aportar somente nos títulos do Tesouro e evitar esses investimentos mais apimentados.
Publicidade
“Nos títulos do Tesouro o risco é praticamente zero. Se uma empresa tem a necessidade de colocar a taxa de juro real em 10% ao ano, é porque ela não consegue captar dinheiro de uma forma saudável. Isso mostra também que a companhia não está saudável e que ela precisa de uma taxa muito alta para se financiar”, explica Gala.
Entenda as classificações do títulos de dívidas
Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, também explica que para uma empresa honrar um título de IPCA+10% ao ano o fluxo de caixa dela precisa ser muito equilibrado e, por isso, o ideal é o investidor sempre acompanhar a companhia e ver qual é o rating (classificação) dela. Segundo ele, cada perfil de investidor deve adotar um rating máximo para si.
O especialista recomenda que o investidor conservador aporte em empresas com rating apenas AAA, ou o famoso triplo A. Esse primeiro perfil é composto por empresas de grau elevado de investimentos e que o mercado confia muito. No entanto, a taxa de rendimento acaba ficando próxima à dos títulos do Tesouro. Sendo assim, a recomendação final para quem for aportar é de respeitar seu perfil conservador e fugir de qualquer tentação.
Já para os investidores moderados, a recomendação é de aportes em títulos BBB. Na visão de Corano, as companhias classificadas nessa linha são empresas boas, mais expostas a algumas sazonalidades – mesmo assim elas possuem um risco controlado. De acordo com a classificação da Standard & Poor´s (S&P) e Fitch, companhias da classificação BBB+ até BB são consideradas empresas de grau médio a até grau não especulativo, estando no limite da segurança.
Ainda na visão de Corano, o investidor mais arrojado, aquele que não teme perder dinheiro em busca de bons retornos, pode aplicar em uma empresa com rating de CCC+. Essa classificação é vista pelos demais analistas como muito perigosa, mas Corano afirma que a rentabilidade para quem é muito arrojado compensa. Segundo as empresas de rating, as companhias com classificação CCC+ apresentam um risco substancial de calote.
Veja o título com a maior rentabilidade atrelada ao IPCA
Conforme o levantamento da Economatica, a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) possui uma debênture (CASN23) com vencimento para 16 de julho de 2033, com uma remuneração de IPCA+10,3% ao ano. De acordo com a Fitch, a classificação desse ativo é de BB+(bra). Ou seja, com base na avaliação de Corano, o investidor moderado e o arrojado possuem perfil para essa debênture.
Corano também comenta sobre os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA). O título com vencimento para o dia 15 de maio de 2030 tem um rendimento de IPCA+9,79% ao ano. No entanto, o especialista reforça que esse ativo não é recomendado para o investidor mais conservador, aquele que teme perder dinheiro. Já Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos, argumenta que o investidor não deve se aventurar tanto quanto Corano recomendou. Para ele, o investidor arrojado e moderado pode ficar somente entre o duplo A (AA) ou o único A (A). Isso porque o risco é muito alto abaixo do grau A.
“Eu não vejo sentido para o investidor em querer buscar um rating tão arriscado. Atualmente, é possível encontrar debêntures que pagam um juro real acima do pago pelo Tesouro, sendo de 6%. Acho que se o investidor pegar uma debênture incentivada, a qual é isenta de Imposto de Renda (IR), a rentabilidade pode ser muito atrativa. O risco do IPCA+10% ao ano não vale a pena”, afirma Saadia.
Publicidade
Ricardo Matte, sócio fundador e CEO da Vincit Capital, acredita que o investidor deve se propor a um pouco mais de risco. Para ele, o conservador deve aportar em títulos triplo A ou duplo A. Já o moderado pode ir do único A até o triplo B, enquanto o arrojado deve investir até o único B. Ele também não recomenda o investidor ir para ativos de qualquer classificação do nível C pelo fato de eles estarem muito próximos do grau D, o qual a companhia pode pedir moratória ou recuperação judicial e não pagar o valor devido.
“Esses títulos que pagam próximo do IPCA+10% devem ser somente para o investidor arrojado e, ainda assim, eles devem procurar os papéis na classificação B. O ideal é o investidor prestar muita atenção e ver quem é o emissor e como anda a saúde financeira dessa empresa. Seguindo esse caminho, as chances de o investidor ser bem-sucedido são altas”, aponta Matte.
Marcação a mercado pesa sobre títulos que pagam até IPCA+10%
Outro ponto levantado pelos quatro especialistas é que o investidor também deve procurar um título com um vencimento mais próximo e não com uma taxa de vencimento muito longa. Isso porque a chamada marcação a mercado, que impacta a rentabilidade dos ativos ao longo do tempo.
A volatilidade tende a ser maior em investimentos de renda fixa com maior duração, ou seja, que tenham um prazo de vencimento mais longo. Caso o investidor queira resgatar o dinheiro antes do prazo, ele terá de olhar como está essa volatilidade. Se o papel que ele comprou pagava IPCA + 10% quando o investimento foi feito, o ideal é que, no momento do resgate antecipado, ele esteja pagando um juro menor ou um juro igual ao do período investido.
Isso porque, se os juros do mercado estiverem abaixo do valor pago pelo investimento, a tendência é de a pessoa ganhar um prêmio ao vender o seu investimento. O ganho ocorre pelo fato de o mercado pagar a mais para ter um rendimento acima da média. Todavia, se os juros de mercado estiverem acima do que as debêntures, CRI ou CRA pagam para o investidor, ele tende a ter uma perda do valor investido para conseguir resgatar a aplicação.
Publicidade
A perda existe pelo fato de o investidor ter de entregar um certo prêmio para quem for comprar o seu título, que está pagando um juro abaixo da média do mercado. “Ou seja, o ideal é sempre o investidor levar o ativos até o prazo de vencimento”, argumenta Paulo Gala, do Banco Master.
O levantamento a seguir, da Economatica, inclui títulos de dívidas de empresas que podem pagar ou IPCA+10% ao ano, ou um nível próximo ao IPCA + 10%. Vale lembrar que, antes de comprar esses papéis, o investidor deve ter em mente qual o seu perfil e qual seria a melhor data de vencimento para o título.
Outro ponto importante é que a Economatica fez o levantamento apenas para mostrar os ativos de dívida privada que pagam esses juros. A companhia não faz nenhuma recomendação de compra ou venda de títulos. O levantamento também levou em consideração as debêntures disponíveis nos últimos 12 meses.
Publicidade