- O IPCA foi puxado por itens sob os quais a taxa de juros tem pouco impacto como mecanismo de controle de inflação: alimentos e energia elétrica — que refletiu a mudança de bandeira tarifária frente à seca
- O consenso dos especialistas é de que a taxa básica de juros da economia deve encerrar 2024 cotada a 11,75% ao ano
- Analistas recomendam onde aplicar na renda fixa após dados do IPCA
A inflação de setembro, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 0,44%, ante deflação de 0,02% em agosto, mostram dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (9). Segundo informações do Broadcast, os números vieram dentro do esperado, visto que o mercado aguardava uma inflação de 0,45% para o nono mês do ano.
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De acordo com o Bradesco, o resultado de setembro confirma as principais expectativas do banco para os números de inflação, como alta de alimentação, repasse cambial dentro do padrão histórico e serviços em desaceleração gradual.
“Esse movimento é importante por si só, mas especialmente em um momento em que o crescimento tem surpreendido para cima, com mercado de trabalho aquecido. Nossa expectativa é que o IPCA termine o ano com uma alta de 4,4%. Já a média dos núcleos deve encerrar o ano em 4,0%, muito próxima do patamar atual”, explica a equipe do banco.
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Na visão de Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, a cifra ficou muito próxima das expectativas. Ele diz que é muito importante notar que o IPCA foi puxado por itens sob os quais a taxa de juros tem pouco impacto como mecanismo de controle de inflação: alimentos e energia elétrica — que refletiu a mudança de bandeira tarifária frente à seca.
“Núcleos, difusão e inflação de serviços saíram muito comportados, indicando que haverá pouca pressão adicional nos modelos de juros do BC. Ainda assim, apesar de achar que o BC deveria manter o ritmo de 0,25 ponto porcentual de alta na Selic, acredito que há grande chance de uma aceleração para alta de 0,50 ponto porcentual”, diz o especialista.
Já Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que o número também ficou levemente acima da projeção da Ativa Investimentos de 0,42%. “No final das contas, podemos classificar a divulgação como neutra para a política monetária, visto que o número inicial surpreendeu o mercado para baixo, mas a abertura foi marginalmente mais aguda. Preliminarmente, esperamos que nossas projeções não sejam fortemente alteradas, permanecendo em 4,3% para 2024”, diz Sanchez.
Já Rodrigo Romero, analista chefe da Levante Inside Corp, os dados do IPCA vieram acima do esperado, mas sem surpresas nas principais linhas de impacto. No entanto, ele diz esperar uma melhora do cenário da inflação de alimentos ao longo de 2025. Segundo ele, isso deve acontecer devido à boa estimativa para safra de grãos, mas a inflação de serviços deve continuar sendo o grande desafio, sendo altamente dependente dos próximos passos da política monetária e fiscal.
“Para a próxima reunião, acreditamos em aceleração do ritmo de aumento para 0,50%. O momento é desafiador do ponto de vista da convergência das inflações à meta, especialmente por conta do fiscal expansionista e os reflexos disso no mercado de trabalho e consequentemente na atividade, hoje muito forte.”, argumenta Romero.
O que esperar da Selic até o fim de 2024 após dados do IPCA?
Em linhas gerais, os analistas disseram que os dados do IPCA de hoje não mudam as estimativas de Selic. O consenso dos especialistas é de que a taxa básica de juros da economia deve encerrar 2024 cotada a 11,75% ao ano, a mesma projeção do mais recente boletim Focus.
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Ainda assim, Corleta é o que mais destoa. Na visão dele, seria mais adequado manter o ritmo mais gradual de elevação dos juros, especialmente diante da queda das taxas nos países desenvolvidos. “Mas a maior probabilidade é que Roberto Campos Neto siga a curva e encerre o ano com a Selic em 11,75%”, salienta o sócio da GTF Capital.
Ele também tem um posicionamento um pouco mais diferenciado em relação aos demais em relação ao fim do corte de juros. Para o especialista, a Selic deve encerrar o atual ciclo de corte de juros em até 12,50%, enquanto o restante do mercado estima o fim do ciclo em 12% na reunião de janeiro.
Onde aplicar na renda fixa após dados do IPCA?
Em meio a essas projeções, os analistas dizem em quais modalidades de títulos da renda fixa o investidor deve aportar agora. Para Marcus Labarthe, especialista em mercado de capitais e sócio-fundador da GT Capital, o investidor deve apostar em títulos pós-fixados para acompanhar a alta de juros dos próximos meses. Ele também recomenda investir o dinheiro em títulos atrelados ao IPCA com foco em ganhos com juros reais.
Haroldo da Silva, conselheiro do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), também acredita que o investidor deve aportar nos títulos atrelados à inflação. “O investidor deve aportar em títulos do Tesouro IPCA + 2045, mas também deve aportar em debêntures com vencimentos menores no curto e médio prazo, visto que aportar apenas em um título longo do Tesouro não é tão vantajoso pelo fato de não ter diversificação na carteira”, aponta Silva.
Já Colerta diz que prefere os títulos prefixados. Ele diz enxergar que o IPCA implícito pelas curvas de juros está muito elevado, operando muito acima das metas do Banco Central. “Vejo como muito interessantes taxas prefixadas de prazo médio, algo entre 3 e 6 anos para o vencimento”, aponta.
Ainda assim, o consenso é de aporte em títulos atrelados à inflação e pós-fixados ao CDI. Entretanto, se o investidor quiser aumentar a diversificação e aportar em todas as modalidades de renda fixa mencionadas para se proteger de qualquer variável, essa pode ser uma boa medida após os dados do IPCA.
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