

Os investidores começam a reavaliar suas estratégias de investimentos após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nesta quarta-feira (19), de elevar a Selic de 13,25% para 14,25% ao ano. A decisão levou a taxa básica de juros ao maior nível desde outubro de 2016, alcançando o mesmo patamar registrado durante a crise do governo Dilma Rousseff (PT), quando a Selic foi mantida em 14,25% entre 2015 e 2016.
O mercado financeiro já dava como certa essa alta de 1 ponto percentual, com todas as 30 instituições consultadas pela Bloomberg prevendo esse movimento. A expectativa se confirmou, mas agora os investidores voltam suas atenções para os próximos passos do Copom sob a liderança de Gabriel Galípolo, que preside o colegiado desde janeiro. A segunda reunião de Galípolo no comando do Copom levantou discussões sobre a continuidade da política de juros elevados e a sinalização de futuras decisões.
Desde o início do ciclo de aperto monetário, em setembro de 2024, o Copom tem elevado a Selic progressivamente. A primeira alta foi de 10,5% para 10,75% ao ano, e, ao longo de quatro reuniões, a taxa foi sendo ajustada até o nível atual de 14,25%. A intensificação dos ajustes vem como resposta ao avanço da inflação e à pressão sobre o câmbio, que, por sua vez, afeta o poder de compra e a atividade econômica.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro ficou em 5,06% no acumulado de 12 meses, pressionando ainda mais as expectativas em relação ao controle inflacionário. No entanto, a economia mostra sinais de desaceleração. O Produto Interno Bruto (PIB) de 2024 fechou com um crescimento de 3,4%, mas o ritmo caiu no último trimestre, conforme apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em janeiro, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) superou as expectativas ao registrar uma alta de 0,9% sobre o mês anterior.
Publicidade
A decisão de elevar a taxa de juros, segundo Fábio Chiaparini, analista da Nova Futura Investimentos, tem como objetivo conter a inflação e garantir a estabilidade econômica em meio a um ambiente doméstico de deterioração fiscal e forte aquecimento da atividade econômica. Com a inflação acima da meta e a demanda interna aquecida, o Banco Central busca reduzir a pressão sobre os preços ao restringir o consumo e o crédito. Juros mais altos tornam o custo do dinheiro mais caro, desestimulando empréstimos e financiamentos, o que pode desacelerar o crescimento da economia, mas também contribui para controlar a escalada inflacionária.
Maria Luisa Paolantoni, analista de renda fixa da Nord Investimentos, observa que, além da inflação estar acima do teto, as expectativas de um equilíbrio econômico estão desancoradas para os próximos anos. A especialista observa que setores como serviços subjacentes e núcleos de inflação continuam em níveis incompatíveis com a meta estabelecida pelo Banco Central. Esses fatores justificam a postura mais contracionista da autoridade monetária.
Com o cenário internacional ainda turbulento, sobretudo pela desconfiança dos investidores sobre a segurança e eficácia dos tarifaços comerciais aplicados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a política monetária americana também tem influenciado o comportamento do mercado. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) manteve a taxa de juros em 4,25% a 4,50% ao ano, o que tem um impacto direto sobre as decisões econômicas no Brasil.
Alguns economistas esperam que, no Brasil, após a reunião de maio, o Banco Central sinalize um ritmo mais ameno de alta, enquanto outros preferem que o Copom mantenha a flexibilidade, sem se comprometer com um ritmo específico. A mediana da pesquisa Focus, do Banco Central, aponta para uma Selic de 15% ao final de 2025, sendo essa uma projeção estável desde janeiro.
Investimentos que valem a pena com a nova alta da Selic
Diante do novo aumento na taxa básica de juros, o head de renda fixa da Suno Research, Guilherme Almeida, avalia que os títulos pós-fixados, um tipo de investimento em renda fixa, continuam sendo a melhor opção para os investidores. A preferência se justifica pelo fato de que esses ativos permitem capturar o movimento de alta dos juros, especialmente em um cenário onde o mercado projeta uma taxa terminal próxima a 15% neste ano.
Publicidade
Além dos pós-fixados, Almeida destaca a importância dos títulos indexados à inflação, sobretudo os de prazo mais curto. Esse tipo de investimento é uma proteção contra a incerteza gerada pelo período eleitoral que se aproxima, o que pode trazer volatilidade aos mercados. De acordo com ele, em anos de eleição, os principais indicadores macroeconômicos tendem a reagir de forma descompassada em relação ao cenário real da economia, tornando os papéis atrelados ao IPCA uma escolha estratégica para preservar o poder de compra.
No universo dos títulos indexados à inflação, a preferência recai sobre os títulos públicos. A explicação é que as taxas desses papéis estão em patamares historicamente elevados, o que os torna atrativos. Como exemplo, ele cita o histórico do Tesouro IPCA+ 2035, cuja taxa de retorno superou 7% em apenas cerca de 15% a 20% do tempo desde sua criação. Além da rentabilidade, os títulos públicos oferecem maior liquidez e menor risco de crédito, já que são emitidos pelo Tesouro Nacional.
Já os títulos prefixados podem ser uma alternativa para perfis moderados e arrojados, desde que o investidor esteja ciente da maior sensibilidade desses ativos às variações da taxa de juros. “Caso as previsões do mercado mudem e os juros caiam mais rápido que o esperado, esses papéis podem gerar ganhos significativos por meio da marcação a mercado. Por outro lado, se as taxas permanecerem elevadas por mais tempo, quem precisar vender antes do vencimento pode incorrer em prejuízos”, diz.
Para investidores conservadores, a recomendação é de que a exposição a prefixados deve ser feita com cautela e apenas com recursos que não serão necessários no curto prazo. O que está em jogo é que, apesar de uma leve redução nas últimas semanas, as taxas prefixadas seguem atrativas, chegando a 14,5% ou até 15% ao ano. No entanto, o conselho para esse perfil é manter o título até o vencimento para evitar riscos de perda.
Variedade de ativos financeiros com risco relativamente baixo
Além dos títulos públicos, os papéis privados também podem compor a carteira do investidor, especialmente aqueles isentos de Imposto de Renda, como LCIs e LCAs. No entanto, Almeida ressalta que, nesses casos, é fundamental avaliar a qualidade do emissor, pois o risco de crédito é maior do que nos títulos do governo.
A análise é complementada pelo economista Fabrício Voigt, da gestora de patrimônio Aware Investments, que observa que, atualmente, os investidores podem se beneficiar de uma grande gama de ativos financeiros com risco relativamente baixo, como os títulos de crédito bancário, garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em certos casos. Voigt diz que, quando se trata de crédito privado, empresas que pagam IPCA mais uma taxa fixa oferecem um cenário confortável, pois elas podem repassar o aumento da inflação aos preços finais, atenuando o impacto sobre os custos da dívida.
De acordo com Voigt, esse tipo de operação, apesar de sua natureza inflacionária, apresenta uma segurança adicional para o investidor, especialmente em setores como a produção de proteína animal, em que a capacidade de transferir custos para o consumidor final ajuda a proteger a rentabilidade da empresa. Ele também reforça que os investidores que buscam mais segurança podem optar por títulos públicos, como os do Tesouro Direto, cujos riscos são consideravelmente menores, uma vez que o emissor é o Tesouro Nacional, oferecendo uma garantia implícita ao investidor.
Publicidade
Voigt ainda aponta que a diversificação internacional também é uma boa alternativa para quem pode acessar mercados externos. No entanto, ele alerta sobre os riscos cambiais, sugerindo que, em vez de investir em ativos vinculados à economia interna, como os certificados de ações negociadas no Brasil que têm origem fora (BDRs), o ideal seria estruturar uma carteira com ativos diretamente expostos à economia global, onde o risco cambial pode ser mais controlado.
A rentabilidade atrativa da renda fixa, segundo Fábio Chiaparini, analista da Nova Futura Investimentos, faz com que muitos questionem a necessidade de se expor aos riscos do mercado de ações. Para perfis mais arrojados, a sugestão é manter pelo menos 80% do capital em ativos de renda fixa, com a parcela restante alocada em ações. Quando se trata de Bolsa de Valores, a recomendação do analista é focar em setores sólidos e tradicionais, como bancos, seguradoras e empresas do setor elétrico, que são vistas como opções mais seguras em um cenário de juros elevados.
Esses segmentos, afirma ele, tendem a oferecer maior estabilidade e resistência às flutuações do mercado. “Atenção aos setores que dependem mais de Selic baixa para terem bons resultados, como construção civil e varejo. Não acredito que são boas opções pra tomar posição no momento”, diz.
Simulações
A pedido do E-Investidor, Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de Finanças na Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), realizou uma simulação para analisar o desempenho de investimentos em renda fixa, levando em conta a nova taxa Selic. O estudo utiliza uma previsão de 5,66% para o IPCA, conforme o Boletim Focus, e considera uma rentabilidade anual da poupança de 7,1%. A simulação abrange cálculos de rentabilidade bruta, líquida (após dedução de impostos e taxas) e real (ajustada pela inflação) para aplicações de R$ 1 mil em diferentes tipos de títulos. Veja os resultados a seguir:
Investimento | Rent. bruta em 1 ano | Tx. Adm. | IR% em reais | Rentabilidade líquida em reais | Valor real (descontada a inflação) |
---|---|---|---|---|---|
LCA 97% | 13,82% | 0% | 0 | 138,23 | 73,80 |
LCI 97% | 13,82% | 0% | 0 | 138,23 | 73,80 |
CDB 116% | 15,68% | 0% | 31,35 | 125,40 | 61,70 |
Tesouro Selic + 0,01% aa | 14,25% | 0,25% | 27,93 | 111,71 | 48,79 |
Fundo DI | 14,25% | 0,50% | 27,36 | 109,43 | 46,64 |
Poupança nova | 8,20% | 0% | 0 | 82 | 20,76 |
Poupança antiga | 8,20% | 0% | 0 | 82 | 20,76 |
Fundo DI2 | 14,25% | 1% | 26,22 | 104,86 | 42,32 |
Fundo DI3 | 14,25% | 2% | 23,93 | 95,72 | 33,70 |