- Para Rafael Wurzmann, head de investimentos offshore da Criteria Investimentos, essa deve ser a eleição norte-americana mais "emocionante" das últimas décadas
- As eleições nos Estados Unidos são acompanhadas de perto por todos os mercados. A preocupação não é exatamente quem vai assumir a Casa Branca, mas os efeitos das políticas econômicas adotadas por um novo líder
- Entretanto, o head de investimentos da Criteria alerta sobre precipitações. Para ele, a volatilidade trazida pelas eleições nos Estados Unidos é bastante superficial, já que ainda não há certezas sobre quais serão, de fato, as políticas econômicas adotadas pelos candidatos
Para Rafael Wurzmann, head de Investimentos Offshore da Criteria Investimentos, casa com R$ 11 bilhões sob gestão, essa deve ser a eleição norte-americana mais emocionante das últimas décadas. Ainda no início da corrida eleitoral, não faltaram elementos para corroborar essa visão: Donald Trump, ex-presidente dos EUA e concorrente de Joe Biden, atual presidente da potência econômica, sofreu um atentado em um comício realizado em 13 de julho. Já no fim de semana seguinte, Biden desistiu da candidatura à reeleição, após pipocarem dúvidas sobre a capacidade cognitiva dele para encarar a corrida presidencial e mais quatro anos no cargo. Agora, Kamala Harris, vice-presidente do país, é o novo nome para representar o Partido Democrata.
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As eleições nos Estados Unidos são acompanhadas de perto por todos os mercados. A preocupação não está, exatamente, em quem vai assumir a Casa Branca, mas nos efeitos das políticas econômicas adotadas por um novo líder. Em caso de uma vitória de Trump, por exemplo, as perspectivas iniciais são de que a economia americana sofrerá mais com inflação e juros altos. Isto porque o republicano já sinalizou a intenção de cortar impostos, mas sem diminuir gastos, o que produz pressão sobre preços e a necessidade, consequentemente, de taxas mais altas para controlá-los.
“Os Estados Unidos balizam o mundo e se o juros ficam mais altos, isto acaba atraindo fluxo para o dólar e tira a flexibilidade do nosso Banco Central (BC) de efetuar cortes na Selic ao longo dos próximos anos. Olhando o cenário brasileiro, nos parece que a Kamala é uma candidata mais fácil de conduzir esse tipo de política monetária”, afirma Werzmann.
Entretanto, o especialista da Criteria responsável por estratégias que envolvem aportes em ativos estrangeiros, alerta sobre precipitações. Para ele, a volatilidade das eleições americanas é bastante superficial, já que ainda não há certezas sobre quais serão as políticas econômicas adotadas pelos candidatos. Por isso, ele evita especular sobre quais seriam as carteiras ideais para uma vitória de Donald Trump ou de Kamala Harris.
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O especialista vê as verdadeiras oportunidades em small caps (empresas de menor valor de mercado) americanas, por meio do ETF Russell 2000, e em empresas descontadas, por meio do ETF Invesco S&P 500 Equal Weight. A tese para essas recomendações não se baseia no ciclo eleitoral, mas em desconto nas companhias abertas de menor capitalização e pouco mais endividadas, que devem se beneficiar do início dos cortes de juros nos EUA.
E-Investidor – Qual a sua leitura sobre as eleições nos EUA após a entrada de Kamala Harris na disputa?
Wurzmann – Kamala Harris vem ganhando popularidade nos “Estados-pêndulo”(que não têm preferência histórica definida por republicanos ou democratas): Arizona, Georgia, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia, Michigan e Wisconsin. Hoje, o mercado interpreta ela como favorita, por mais que as pesquisas estejam dentro da margem de erro. Ou seja, que ela esteja ganhando por uma margem muito pequena. Acredito que a única certeza que temos é que será uma disputa acirrada. Lembrando que o sistema eleitoral nos Estados Unidos é diferente do Brasil. Não importa ter a maioria de votos, mas a maioria de Estados.
Quais serão os impactos no dólar e na economia americana com uma vitória de Trump ou de Harris?
Ambos os candidatos vão aumentar a dívida pública americana e trazem pauta de gastos que vão exceder a arrecadação no período. Com isso, a dívida pública americana projetada à frente vai aumentar. A questão do Trump é que, em 2017, ele conseguiu abaixar a alíquota de imposto corporativo de 35% para 21%. Agora, ele quer abaixar ainda mais. Se você coloca aumento de gastos com diminuição de arrecadação, tende a ser uma combinação mais explosiva para o lado fiscal. A interpretação do mercado financeiro é de que para o cenário de juros à frente o Trump acaba sendo o pior porque a economia teria que rodar com juros mais altos. Do outro lado, talvez a gente tenha uma tranquilidade um pouco em relação ao cenário de juros.
Tendo em vista essas expectativas, para o mercado brasileiro qual candidato seria mais benéfico?
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A leitura inicial que temos é de que a Kamala Harris seria mais benéfica para o cenário brasileiro e para a nossa moeda, por conta do Trump ser um candidato mais inflacionário. Quando há mais inflação, tem que ter juros mais altos. Os EUA balizam o mundo e se o juros ficam mais altos por lá, isto acaba atraindo fluxo para o dólar e tira a flexibilidade do nosso Banco Central de efetuar cortes na Selic ao longo dos próximos anos. Olhando o cenário brasileiro, quando a gente fala do governo conseguir diminuir o juros de forma estrutural, nos parece que a Kamala é uma candidata mais fácil de estar conduzindo esse tipo de política monetária.
Se Trump vencer e levar à frente os conflitos com a China, isso pode impactar o mercado brasileiro de alguma forma?
Esse também é um ponto de atenção. O Trump quer incluir tarifas que podem ser até de 100% do preço do produto para incentivar a produção doméstica. A China, nos últimos anos, ocupou a cadeira de “fábrica” do mundo. A atividade econômica dela é muito mais sustentada por produzir bens baratos e pelo próprio consumo doméstico. Esses bens, geralmente, são exportados. A China, com restrições de exportação de bens para os Estados Unidos, pode ter uma atividade econômica mais debilitada. E isso pode comprometer as importações da China, a principal cliente do Brasil. Boa parte do nosso petróleo e minério de ferro vai para os chineses, assim como as commodities agrícolas. Uma China que cresce menos é um Brasil que cresce menos.
Já podemos esperar muita volatilidade nos mercados ao longo da corrida eleitoral?
Sim, mas essa volatilidade eleitoral é muito superficial. Em 19 dos últimos 23 anos eleitorais, a bolsa americana teve uma performance positiva. Na média, um retorno de 11%. Ciclos eleitorais não são negativos para a performance de ativos de risco. O que importa verdadeiramente, por isso que eu disse “volatilidade superficial”, é o cenário macroeconômico debaixo desse barulho todo, além da lucratividade das empresas. Vemos um cenário macroeconômico bastante próspero atualmente. Os Estados Unidos têm a economia que mais cresce no mundo desenvolvido. A inflação está em compasso de queda lá fora e eventualmente vai permitir o início do ciclo de afrouxamento monetário na segunda metade do ano. Querendo ou não, o maior juro real do mundo desenvolvido é dos Estados Unidos.
Por que a volatilidade trazida pelas eleições nos EUA é “superficial”, na sua visão?
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Os dois partidos têm pautas econômicas diferentes. Vimos o mercado incluindo essas pautas na precificação de diferentes ativos. Por exemplo, quando o Trump sofreu o atentado e isso aumentou as chances dele ser eleito, ocorreu um rali nas small caps, empresas de pequeno porte nos Estados Unidos. Isto porque o Trump é mais protecionista, mais nacionalista. Mas tem o outro lado da moeda. O mercado interpreta Trump como um candidato mais inflacionário em função das políticas comerciais dele. Em 2017, quando ele foi eleito, começou uma guerra comercial com a China que trouxe bastante volatilidade para os mercados e aumentou a inflação do período. Também tem a questão fiscal. O Trump quer cortar imposto, um componente importante da arrecadação. Cortar imposto e aumentar gastos eventualmente elevam a dívida de forma insustentável. E isso perpetuaria um cenário de juros altos por mais tempo porque a inflação ficaria mais pegajosa. E juro alto não é positivo para as small caps. Logo, essa primeira leitura fdo mercado, ao nosso ver, quer dizer muito pouco.
- Julho marca volta de dinheiro estrangeiro na Bolsa. O que mudou para convencer os gringos?
Onde estão as verdadeiras oportunidades de investimento no mercado americano?
A bolsa americana, em temos de múltiplos, negocia acima da sua média histórica e está cara. Entretanto, a bolsa negocia com valuations (preços) mais esticados por causa de dez empresas. São as dez maiores companhias do índice, entre elas as de tecnologia, que têm um múltiplo médio de 30 a 35 vezes o lucro – e muito merecidamente. Dito isso, se a gente exclui essas companhias do índice, a bolsa está muito próxima da sua média histórica. Entendemos que há espaço para rotação de capital, saindo desses grandes nomes que dominaram o mercado nos últimos oito meses, para companhias que ainda não tiveram o seu momento. Estamos alocando muito no que chamamos de “S&P Equal Weight”, que nada mais é do que a bolsa americana ponderada de forma igualitária. Esse ETF (fundo negociado em bolsa que segue um índice de referência) é o Invesco S&P 500 Equal Weight ETF (RSP). Toda empresa dentro do índice tem 0,2% de participação e isso tira o risco de concentração da bolsa tradicional. Desta forma, você ganha uma representatividade maior dessas companhias que têm valuations em linha ou abaixo da média histórica e que devem ter uma narrativa de retomada de lucratividade, especialmente a partir do quarto semestre deste ano e em 2025.