Liz Truss, ex-ministra das relações exteriores de Boris Johnson, foi eleita primeira-ministra do Reino Unido nesta segunda-feira (5). Com 57,4% dos votos do Partido Conservador Britânico, Truss venceu o adversário Rishi Sunak (ex-ministro das finanças de Johnson) na disputa pelo maior cargo político do Estado e se tornou a terceira mulher a comandar o governo inglês.
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Admiradora da também conservadora Margaret Thatcher, a nova premiê é defensora do livre comércio e do corte de impostos. A eleição de Trauss é considerada positiva pelo mercado, principalmente no momento em que o Reino Unido passa por grande turbilhão econômico. Somente em 2022, a libra cede 14,9% frente ao dólar, aos US$ 1,15.
A inflação medida pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) inglês acumula alta de 10,1% em 12 meses (julho de 2021 a julho de 2022), puxada principalmente pelos saltos nos custos de energia. Como resposta às sanções pela invasão da Ucrânia, a Rússia restringiu a oferta de gás à Europa, o que provocou um forte encarecimento da conta de luz.
“Ela entra com um nome forte, já tendo participado dos últimos governos como ministra. Além disso, se denomina seguidora de Thatcher, o que é algo extremamente positivo do ponto de vista de mercado. Com Thatcher, o Reino Unido renasceu”, afirma Mauro Morelli, estrategista chefe da Davos investimentos.
Contudo, não se pode subestimar o tamanho dos desafios econômicos à frente. “A Inglaterra, assim como toda a Europa, está em um momento difícil, de crescimento comprometido e crise enérgica. Isso não vai mudar apenas com a troca do primeiro-ministro”, diz Morelli.
Essa também é a visão de Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos. “Apesar da expectativa de que o Banco da Inglaterra siga elevando as taxas de juros, a alta deve ser insuficiente para endereçar a escalada inflacionária nos próximos meses, que deve rondar os 20% até o fim deste ano”, diz.
Libra no fundo do poço?
Todos esses problemas graves que assolam o Reino Unido exigirão soluções complexas. Por isso, os economistas continuarem cautelosos com a libra. Apesar da derrocada em 2022, ainda não é possível apontar o ‘fundo’ da moeda.
Para Borsoi, da Nova Futura, as perspectivas são ruins. “O desempenho de uma moeda depende da expectativa sobre o diferencial de performance entre dois países. E nesse sentido, acreditamos que EUA e Suíça têm conjunturas menos desafiadoras que a britânica, o que favorece alocações em dólar e franco suíço”, afirma. “De maneira geral, acreditamos que as moedas europeias não têm grandes oportunidades de compra neste momento.”
Morelli, da Davos, ressalta que a eleição de Trauss pode ser uma notícia boa para a libra, na esteira das expectativas de que a nova primeira-ministra siga os passos de Thatcher. Entretanto, o especialista acha cedo para apontar uma oportunidade de compra na divisa europeia.
“Quando se tem um movimento como esse (de derrocada de uma moeda) é extremamente pouco recomendável dizer qual é o fundo do poço. Sempre melhor esperar um pouco para ver se a tendência reverteu e, aí sim, entrar em uma posição. Nesse caso é ainda mais arriscado, pois estamos falando de movimento político”, diz Morelli. A libra está caindo 0,21% nesta segunda-feira (5), cotada a R$ 5,93.
*Com Estadão Conteúdo