A liquidação extrajudicial do Banco Master vai deixar a vida de bancos médios um pouco mais difícil. A dissolução foi decretada pelo Banco Central (BC) nesta terça (18) e o dono da instituição, Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal (PF).
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A liquidação extrajudicial do Banco Master vai deixar a vida de bancos médios um pouco mais difícil. A dissolução foi decretada pelo Banco Central (BC) nesta terça (18) e o dono da instituição, Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal (PF).
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A primeira reação do mercado deverá ser a de exigir aumento dos spreads (prêmios na forma de juros para o investidor) sobre a emissão de novos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) no mercado secundário, o que poderá afetar também a rentabilidade de fundos de investimento em renda fixa.
É esperado também que o crédito privado fique mais caro para as empresas emissoras de dívidas, num momento em que o spread médio de títulos privados de alta qualidade (AAA) passaram a pagar remuneração inferior aos títulos públicos.
“O investidor tende a se restringir ao limite do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), o que seca a liquidez e obriga as instituições a pagar mais caro para captar. A seletividade aumenta e só players muito sólidos conseguem manter condições próximas às atuais”, avalia o co-fundador da casa de análise Hub do Investidor, Jayme Simão, sobre o mercado de CDBs.
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Essa reação acontece porque, quando há um aumento de percepção de risco sobre uma instituição financeira, no caso dos bancos médios, os investidores passam a exigir prêmios maiores para comprar CDBs e outros instrumentos de captação. O spread é o prêmio adicional em relação ao CDI. Hoje é comum achar nas plataformas de investimentos CDBs de bancos médios pagando 107% do CDI.
Esse movimento pode chegar aos fundos mais expostos esses bancos. Se as taxas sobem, o valor de mercado desses títulos caem, gerando marcação a mercado negativa.
Para um gestor de recursos que preferiu não ter seu nome citado, é razoável esperar que o mercado passe a exigir um prêmio maior, mas que, apesar disso, em outros eventos semelhantes ao do Master, não houve diminuição na emissão de letras de bancos mais arriscados. Ele difere o caso atual dos anteriores, lembrando que, agora, a aplicação dos recursos aconteceu em ativos ilíquidos e estressados. “Como deve haver uma maior regulação nesse sentido, imagino que o prêmio que as instituições terão será menor e, dessa forma, deve pagar um prêmio menor na emissão dos título.”
O caso se distingue de Panamericano ou Cruzeiro do Sul, que envolveram fraudes. No caso do Master, o problema estaria ligado a negligência de risco, captação a taxas elevadas e ativos de liquidez duvidosa. “É uma ingerência que reflete fragilidade de governança, agravada pelo cenário de juros altos“, comenta Simão do Hub do Investidor.
O que parte do mercado espera agora é a abertura dos spreads no crédito privado. Isso acontece porque empresas como Oncoclínicas (ONCO3) e Ambipar (AMBP3) são algumas das citadas que possuem exposição relevante aos papéis do Master. Elas poderão ser obrigadas a reconhecer perdas contábeis. Procuradas, Ambipar e Oncoclínicas não comentaram o assunto.
No final de outubro a Oncoclínicas assinou acordo com o Master para resgatar, em 20 parcelas mensais, R$ 478 milhões investidos nos seus CDBs.
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A abertura de spreads de títulos privado “pode pesar sobre papéis já fragilizados”, diz Jayme Simão. Ele pondera que o efeito sistêmico deverá ser limitado, ao contrário do que aconteceu no episódio das Americanas, em 2024, que gerou aversão a risco, encareceu captação e derrubou crédito privado no auge da crise. “Acreditamos mais em encarecimento do funding e deterioração de expectativas no setor financeiro do que em algo comparável ao episódio de Americanas.”
O mestre em finanças pela Universidade de Sorbonne, Hulisses Dias, reforça que o efeito tende a ser localizado, mas que pode gerar aversão temporária ao crédito privado e maior seletividade dos investidores. No geral, ele acredita que a tendência é de os investidores buscarem emissores de maior qualidade. “No médio prazo, se o caso for tratado como pontual, a curva soberana tende a se reancorar”, observa. Dias admite que há um risco de efeito dominó, mas só se houver falha de liquidez sistêmica. “Algo que o Banco Central e o FGC devem atuar para evitar.”
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