

A palavra “revolucionário” se desgastou com o uso, nem sempre adequado. Há poucas inovações realmente revolucionárias, que provocam mudanças profundas e duradouras. Uma delas são as plataformas de distribuição de investimentos, que foram o embrião das fintechs (empresas que introduzem inovações nos mercados financeiros por meio do uso intenso de tecnologia).
“As plataformas facilitaram de fato o acesso de muitos investidores a fundos de investimento antes restritos a poucas pessoas”, diz William Eid, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e um dos criadores do prêmio Melhor Plataforma para você investir no Brasil. “Elas foram o melhor instrumento para a democratização do mercado de investimentos.”
No cenário atual, com juros altos e volatilidade dos ativos amplificada, o investidor tem duas necessidades. Uma delas é assessoramento adequado e informação precisa na hora de traçar a melhor estratégia para aplicar seu dinheiro. A segunda é agilidade para fazer os ajustes necessários quando a situação mudar.
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E ela tem mudado cada vez mais depressa. Não só porque o noticiário econômico não dá tréguas, mas também porque a atividade de gerir o dinheiro dos outros torna-se cada dia mais sofisticada e diversificada.
“A alta de juros recente não interrompeu o processo de diversificação da indústria de fundos”, diz Ricardo Rochman, professor da FGV e também criador do prêmio Melhor Plataforma para você investir no Brasil. “A Selic deve seguir elevada em 2025 e em 2026 e as aplicações vinculadas ao CDI continuarão prevalecendo nas carteiras de investimento dos brasileiros” diz ele. “No entanto, isso suscitará a criatividade das gestoras e plataformas que quiserem permanecer relevantes no mercado”, complementa.
BTG injeta R$ 10 bilhões em investimentos na plataforma
Inovação é um mantra para o BTG Pactual, cuja plataforma foi considerada a melhor nesta edição do prêmio, promovido em parceria entre o E-Investidor e o Centro de Estudos em Finanças da FGV (FGV/CEF). Não é por acaso. “O projeto de uma plataforma de distribuição de investimentos começou em 2014 e o banco já investiu cerca de R$ 10 bilhões em infraestrutura e sistemas”, diz Marcelo Flora, diretor estatutário do BTG Pactual responsável pela Área de Digital e Banking.
Uma das áreas de negócio mais importantes do BTG, conhecido por sua importância no mercado de capitais e como banco de investimentos, a plataforma foi a primeira incursão no varejo. Segundo Flora, foi uma estratégia muito bem-sucedida para captar clientes.
As táticas são agressivas. A plataforma oferece um fundo do tipo “money market” (forma de investimento coletivo) que investe 100% em títulos públicos com liquidez diária e taxa de administração zero. “O sucesso foi tão grande que tivemos de limitar as aplicações a R$ 100 mil, caso contrário muitas empresas clientes deixariam seus caixas aqui”, diz Flora.
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O investidor que quiser ir mais fundo pode aplicar até R$ 5 milhões – desde que seja portador de um cartão de crédito do BTG. “O que deixamos de ganhar administrando o fundo é considerado como custo de aquisição de clientes”, diz Flora. Ele garante que no fim do dia a conta fecha.
Expectativas para o BTG diante da economia mundial
Os próximos passos da plataforma são melhorar a navegabilidade e a experiência do usuário, por meio da consolidação de vários serviços em um só aplicativo. E mirar para clientes além-fronteiras. Segundo Rochman, assim como no Brasil, as taxas de juros estão altas no exterior. “Isso oferece uma boa oportunidade para diversificar a carteira e se proteger dos riscos da economia brasileira”, diz ele.
Um estudo realizado no fim de 2024 pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGVCEF) estima que o investidor deveria ter pelo menos de 16 a 18% de suas aplicações destinadas a investimentos no exterior. “Isso protegerá a cesta de consumo da variação cambial”, diz Rochman. “Ter uma estratégia ampla abrindo os horizontes para outros países é algo simples, e recomendado, para os investidores brasileiros.”
Rubens Henriques, principal executivo da gestora de recursos do BTG, afirma que o investidor brasileiro tem um elevado viés doméstico (conhecido pelo termo em inglês “home bias”). Ou seja, o brasileiro investe pouco fora do país. “A proporção é menor do que a de investidores de outros países emergentes”, diz Henriques.
No entanto, o executivo afirma que isso está mudando. “Notamos uma demanda maior tanto estrutural quanto conjuntural”, diz ele. “Estruturalmente, o investidor percebe cada vez a importância de diversificar”, afirma.
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A conjuntura também ajuda. “A bagunça do cenário macro, com as alterações nas expectativas de inflação e juros e a volatilidade do câmbio aumentam o interesse dos clientes em ter parte de seu patrimônio vinculado a moedas fortes”, diz Rubens Henriques.
De olho nessa percepção e nessa necessidade, a plataforma do BTG está reforçando sua atuação no exterior. No fim de junho, o BTG Pactual comprou o banco americano M.Y. Safra. O banco, com sede em Nova York e um patrimônio líquido na época de US$ 46,2 milhões, visa facilitar a expansão no mercado americano.
Quando aprovada, a transação deixará o BTG capaz de operar diretamente em um mercado com 2 milhões de clientes brasileiros e 20 milhões de hispânicos, na maior e mais afluente economia do mundo. “Oferecer bons produtos e uma presença global mais robusta está no topo da nossa agenda”, diz Henriques.
Como a melhor plataforma foi escolhida
A Melhor Plataforma para Você Investir é escolhida pelo FGVCEF em parceria com o instituto de pesquisas Toluna. A avaliação tem dois aspectos, o quantitativo e o qualitativo.
No aspecto quantitativo, são premiados os fundos ativos que apresentam a melhor relação entre risco e retorno, medidos pelo índice de Sharpe. Desenvolvido pelo Prêmio Nobel de Economia, o economista americano William Forsith Sharpe, nascido em 1934, esse indicador mede a rentabilidade de um fundo em comparação com um ativo financeiro livre de risco.
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Os fundos são agrupados de acordo com seus perfis – ações, multimercados, renda fixa e money market, que são os fundos que privilegiam a liquidez e cuja meta é seguir os juros de mercado. No aspecto qualitativo, as plataformas premiadas são as que permitem mais acesso aos investidores e as que têm uma qualidade de serviços percebida pelos investidores.
Essa avaliação tem dois aspectos. Um deles é a facilidade de acesso: os fundos com menores taxas de administração, que cobram menos do investidor, e os com menores investimentos iniciais, que são mais democráticos, são premiados.
O segundo aspecto é uma avaliação qualitativa, obtida por meio de uma pesquisa telefônica realizada mensalmente com 500 investidores pela empresa de pesquisas Toluna Insights, que a percepção dos clientes com relação à plataforma. São levantados oito aspectos que incluem a clareza do aconselhamento, a agilidade na execução de orientações e na resolução de problemas e a facilidade de uso dos recursos digitais.
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