Os Fiagros, fundos que investem nas cadeias produtivas agroindustriais, estão conseguindo entregar retornos consistentes acima de 1% ao mês mesmo com a Selic em movimento de queda – atualmente está no patamar de 12,25% ao ano.
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Segundo um levantamento da Órama, no mês de novembro o retorno em dividendos (dividend yield) médio dos Fiagros tipo FII (que reproduzem a estrutura dos fundos imobiliários) foi de 1,13% ao mês. O resultado, abaixo do registrado em outubro de 1,18%, equivale a uma taxa de 131% do CDI (principal indicador da renda fixa) no mês.
Considerando que os dividendos de Fiagros são isentos de Imposto de Renda (IR), o retorno representa uma taxa de 1,34% em novembro, bem acima do CDI do período, de 1,02%, segundo cálculos da Órama. Os Fiagros são isentos de tributação desde que sejam negociados na Bolsa brasileira e possuam, no mínimo, 50 cotistas.
Campeões de dividendos em novembro
O Fiagro que mais pagou dividendos em novembro foi o AGRX11, da Exes Gestora de Recursos, que distribuiu R$ 0,15 por cota aos seus investidores, equivalente a um dividend yield de 1,41% ao mês.
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Bernardo Sanches, especialista em investimentos do Vai pelos Fundos e autor do primeiro livro de Fiagros no Brasil explica que o AGRX11 trabalha com produtores rurais, uma cadeia do agronegócio que ainda possui dificuldades com governança e transparência pela ausência de balanços auditados e estruturas empresariais mais desenvolvidas no segmento.
É por conta deste motivo que as operações acabam oferecendo spreads (remunerações) mais elevados. No caso do AGRX11, o Fiagro tem 92% da sua carteira indexada ao CDI+5,93% e 8% com rentabilidade de IPCA+ 8,05%.
Segundo Sanches, por conta dessas taxas elevadas, os dividendos pagos pelo fundo também costumam ser próximos ao patamar de R$ 0,15. Mas adverte que o investidor deve estar ciente que as cotas do fundo já podem ser consideradas caras, negociadas a 1,05 vezes na métrica preço sobre valor patrimonial (P/VP), e que o AGRX11 está em processo de emissão de cotas, que deve elevar a volatilidade nos preços do fundo.
Na segunda posição está o EGAF11, da gestora Ecoagro. O Fiagro remunerou os seus cotistas com dividendos de R$ 1,33, o que representou um dividend yield de 1,35% ao mês. Sanches destaca que nos últimos 12 meses, o EGAF11 alcançou o posto de Fiagro que mais pagou rendimentos com retornos acima de 18%.
Danilo Carvalho, analista de Fiagros, destaca que o EGAF11 investe majoritariamente no segmento de insumos, com foco em cooperativas e revendas. “O fundo segue uma previsibilidade de rendimentos e geralmente distribui CDI+4%”, afirma. Desta forma, segundo Carvalho, os dividendos pagos pelo EGAF11 nos últimos meses têm seguido este padrão, embora os valores mudem a depender da quantidade de dias e do patamar nominal da Selic mês a mês.
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Integrando o pódio dos melhores pagadores está o AAZQ11, da AZ Quest, que pagou R$ 0,12 por cota, equivalente a um dividend yield de 1,31%. Sanches comenta que a AZ Quest tem uma estratégia específica focada no crescimento dos negócios investidos, em que é possível encontrar operações diferentes, como crédito de carbono. “A ideia da gestão é buscar empresas com viés de expansão para novas atividades”.
Geralmente quando o objetivo é atingido, o Fiagro ganha um prêmio que também é revertido aos cotistas. “O Fiagro também tem uma carteira com spread alto, superior a 5,9%, e tem conseguido manter dividendos de R$ 0,12, que é a expectativa da gestão”, pontua o especialista.
Por que os Fiagros ainda superam o CDI?
Boa parte da indústria de Fiagros investe em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), que apresentam mais operações atreladas ao CDI. Por este motivo estes fundos geram rendimentos recorrentes mais elevados que os Fiagros que investem em terras.
Em cenários de juros em alta, Fiagros com carteiras indexadas ao CDI conseguiram se destacar entre os pares. Até outubro, segundo levantamento da Órama, 87% das carteiras dos Fiagros da indústria estavam atreladas ao CDI+4,92%, enquanto a parcela de fundos com carteiras indexadas ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) era de 13%, com fundos oferecendo inflação mais 10,5%.
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Carvalho destaca que diante do cenário de cortes de juros um novo padrão deve surgir na indústria, com alguns gestores aumentado a sua exposição a ativos indexados ao IPCA, enquanto outros ainda devem permanecer com todo o portfólio dos Fiagros em CDI ou prefixados.
“Neste mês, os Fiagros com maior exposição ao IPCA fizeram distribuições menores por conta de um impacto negativo da marcação a mercado, enquanto os indexados ao CDI ainda entregaram o rendimento maior aos cotistas”, aponta.
Embora a indexação ao IPCA possa parecer pessimista em um primeiro momento, Carvalho lembra que está pode ser favorável para as carteiras com o fechamento da curva de juros futuros e por este motivo alguns gestores gostam de ter uma parcela dos portfólios acompanhando a inflação.