- No Brasil, contratos de mercado futuro de moedas estrangeiras sempre se concentraram apenas no dólar norte-americano. A oferta de outras moedas era baixa, e isso gerava pouca demanda também, já que não havia liquidez suficiente
- Com a chegada de empresas formadoras de mercado, investidor ganhou acesso a contratos em que o dólar faz par com outras 15 moedas. Isso abre novas oportunidades, pois passa a ser possível ganhar com as variações de preços dessas outras moedas também
- Novidade pode interessar ao atual cliente de contratos de minidólar e mini-índice. Mas, como a volatilidade envolvida é muito grande, opção mais segura para a pessoa física ter exposição a moedas estrangeiras é buscar fundos com esse viés
Tentar se antecipar aos movimentos do câmbio é o que leva muitos investidores aos contratos de mercado futuro de moeda estrangeira. Quem adquire um desses contratos quer ter o direito de comprar ou vender a moeda, em uma data futura, a uma determinada cotação estabelecida previamente. Com isso, empresas podem fazer hedge e se proteger contra futuras altas da divisa. E especuladores experientes eventualmente conseguem obter ganhos rápidos, comprando e vendendo contratos no mesmo dia.
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Se nada disso é exatamente novidade, no mercado brasileiro essas negociações sempre se concentraram apenas no dólar norte-americano. A oferta de outras moedas era baixa, gerando pouca demanda também, já que não havia liquidez suficiente.
Isso começou a mudar no final de 2019, quando passaram a ser oferecidos na B3 contratos de mercado futuro em que o dólar faz par com moedas de outros 15 países, como o yuan chinês, o rublo russo e os dólares canadense, australiano e neozelandês. Para o investidor, que antes tinha apenas acesso a contratos que trocavam dólar por real e vice-versa, isso pode abrir novas oportunidades.
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“O câmbio entre dólar e real é impactado por notícias do cenário doméstico brasileiro, como a crise política local, ou eventos externos como a política de juros dos EUA. Com outras moedas, o investidor não fica limitado a essas duas agendas”, explica Victor Hugo Cotoski, gestor de novos negócios da inglesa Infinox. “Uma notícia pode movimentar muito a coroa norueguesa, por exemplo, e ele tem a chance de ganhar com essa variação.”
Contratos em que o dólar americano faz par com outras moedas já eram negociados nas principais bolsas do mundo – em especial a de Chicago, nos EUA. Como por aqui não havia esse mercado, os fundos de investimento brasileiros precisavam negociá-los em Chicago.
Market makers injetam liquidez para outros pares de moedas
O lance decisivo para mudar essa situação foi a entrada de duas empresas na B3 como market makers, para dar liquidez a esses pares de moeda ainda pouco negociados no País. Uma dessas empresas é a própria Infinox; a outra é o Mitsubishi Financial Group. Ambas foram escolhidas por licitação juntamente com o Itaú, que depois se descredenciou.
“Para qualquer investidor que queira comprar, nós vendemos, e de qualquer um que queira vender, nós compramos”, explica Cotoski. “Com isso, o fundo não vai mais precisar abrir uma offshore para negociar nos EUA. As operações podem ser feitas pelo Brasil, com custos menores.”
Enquanto esse novo mercado está se formando, a maior parte das operações dos grandes fundos institucionais ainda se dá no exterior. Mas o volume vem crescendo muito nos últimos oito meses.
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“Quando nós entramos como formadores de mercado, o par euro-dólar negociava em média 10 contratos por dia. Mas esse número foi dobrando mês a mês, e na sexta-feira passada tivemos 600 negócios”, comenta.
Cotoski estima que 50 mil brasileiros já negociam moedas no exterior, mas por meio de outro tipo de contrato, o chamado CFD ou Forex, não admitido no Brasil. “É um mercado popular, e a tendência de que esse fluxo migre para a B3 é considerável”, diz.
Operação pelo investidor de varejo é arriscada; fundos devem crescer
Embora esses contratos de mercado futuro sejam negociados em maior volume por fundos institucionais, principalmente em busca de proteção, a ampliação do leque de moedas estrangeiras também pode interessar um certo tipo de investidor de varejo: aquele que especula com contratos de minidólar e mini-índice.
Entretanto, embora seu manejo esteja ao alcance de um simples home broker, são poucos os traders que possuem o conhecimento necessário para navegar com propriedade nesses mares internacionais.
“É muito difícil prever para onde cada moeda vai, pois há vários elementos locais e externos que exercem impacto. Só os grandes bancos internacionais, com operação global, é que conseguem ter fluxo e efetividade nesse trade”, diz Ricardo Baraçal, sócio da Frente Corretora.
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Ele diz que a falta de liquidez das moedas mais exóticas faz com que elas sofram oscilações muito maiores que as sofridas por dólar e euro. Por isso, ele acha pouco provável que o investidor pessoa física consiga tirar proveito desse mercado, pelo menos em um primeiro momento.
“Teria que ser um investidor qualificado e com muito apetite para o risco. Há inclusive poucas casas de investimentos com esse know-how. Em geral, são gestoras especializadas em moedas que oferecem fundos específicos para esse tipo de ativo”, afirma Baraçal.
Esses produtos, aliás, acabam sendo a via de acesso mais fácil para o investidor interessado em ter exposição a moedas menos triviais. Com tíquetes iniciais relativamente baixos e boa liquidez, eles tendem a ganhar espaço neste momento em que a queda da taxa Selic força os egressos da renda fixa a buscarem alternativas.
“Ao entrar em um fundo, o risco se dilui, pois o gestor consegue ficar alocado em vários cenários ao mesmo tempo”, explica Baraçal. “A volatilidade dessas moedas permite bons ganhos, desde que isso seja feito por uma gestão ativa qualificada.”
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