Comportamento

O que você e a Gabriela Pugliesi precisam saber antes de fazer day trading

Cursos e influenciadores prometem dinheiro fácil, mas não é bem assim

O que você e a Gabriela Pugliesi precisam saber antes de fazer day trading
A influenciadora digital Gabriela Pugliesi (Foto: Caio Duran e Marcelo Brammer / Estadão)
  • O day trader ganha em dois cenários diferentes. No primeiro ele compra o ativo, o preço sobe e então ele o vende mais caro do que pagou. No segundo ele vende o ativo, o preço cai e aí ele torna a comprá-lo pagando mais barato
  • De acordo com uma pesquisa realizada pela FGV com operações de day trade, 91% dos investidores de um dia só tomam prejuízo
  • Profissionais experientes dizem que a profissão exige anos de dedicação e que os ganhos só aparecem depois de muito tempo

A influenciadora digital Gabriela Pugliesi pegou os seus seguidores de surpresa nesta semana ao revelar que descobriu um novo interesse. “Estou operando na bolsa! Nunca na minha vida pensei que fosse fazer isso e amar”, disse em um vídeo publicado em sua conta oficial no Instagram.

Aos internautas, ela contou que tem acompanhado o mercado financeiro todo dia a partir das 10h, agradeceu aos mentores que teriam lhe aberto “muitas portas” e disse que agora assiste até às lives de uma grande corretora. “Compro e vendo todo dia, faço tudo pelo ‘profit’ e já me dei bem, viu? Só ontem tomei um nabo do Banco do Brasil e ainda estou digerindo”, escreveu, no vídeo.

Pugliesi não é a primeira a se aventurar no caminho da renda variável. Muitos curiosos são atraídos com promessas de ganhos fáceis, rápidos e gordos. “Aprenda a ser um day trader e fique rico”, promete uma série de cursos alardeados no YouTube e nas redes sociais.

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O day trader ganha com a compra e venda de ativos (ações, opções, minicontratos de dólar e de índice) em um curtíssimo espaço de tempo – em geral, dentro de um único dia. Surfando na volatilidade, esses ágeis negociadores podem, em tese, embolsar grandes somas de dinheiro com as oscilações de preço.

Mas não é bem assim que a banda toca. Um estudo realizado pelos economistas Bruno Giovannetti e Fernando Chague, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EESP), a pedido da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), concluiu que até 97% desses investidores perdem dinheiro.

A pesquisa se debruçou sobre os dados da CVM sobre operações de day trade com minicontratos de dólar e índice entre 2012 e 2017. Dos quase 20 mil investidores pessoa física que começaram a comprar e vender mini-índice entre 2013 e 2015, 92,1% desistiram da prática. E das 1.558 das pessoas que persistiram por 300 pregões ou mais, 91% tiveram prejuízo. Já os 9% restantes, que conseguiram algum retorno com as operações, apenas 13 pessoas(menos de 1%) conseguiram lucro médio diário acima de R$ 300.

Os números ajudam a desconstruir a ideia de que dá para viver de day trading. “Vende-se a imagem de que você pode operar de um computador sentado na praia, sem chefe e ganhando dinheiro na maioria dos dias. Tem todo um glamour envolvido. Mas é muito traiçoeiro”, diz Giovanetti.

O day trader ganha em dois cenários diferentes. No primeiro ele compra o ativo, o preço sobe e então ele o vende mais caro do que pagou. No segundo ele vende o ativo, o preço cai e aí ele torna a comprá-lo pagando mais barato. No entanto, de acordo com o pesquisador da FGV, as chances de êxito em meio a essas oscilações se assemelham às de uma loteria.

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“Naquele dia, o preço pode subir ou cair, então a chance de ganho é de 50%. Você pode ganhar, por mero acaso. Se começar a fazer isso todo dia, no acumulado você perderá, porque as perdas tendem a ser maiores que os ganhos”, afirma.

Quem ganha com o day trade

O pesquisador lembra que a mesma transação que é vantajosa para uma parte, que saiu ganhando (comprou barato ou vendeu caro), é desvantajosa para a outra (que vendeu barato ou comprou caro).

“Você precisa ser mais esperto do que o outro investidor. Para cada um que sai ganhando, há outro do lado oposto que perde. Em geral, quem está do outro lado não é uma pessoa física, mas sim uma instituição com muito mais experiência de mercado financeiro. Eela é quem sai ganhando”, diz Giovanetti.

Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, enfatiza que o mercado financeiro é uma profissão que exige anos de dedicação e aprendizado. Os ganhos só aparecem depois de muito tempo.

“Eu fui um perdedor consistente por oito anos porque tinha aquela mentalidade de que iria ficar rico. Levei mais quatro anos para aprender o caminho certo. Só depois disso comecei a ganhar dinheiro”, conta ele, que contabiliza 20 anos de atuação na área.

O estrategista reforça que muitas pessoas são atraídas pelo relato do amigo que disse que ganhou dinheiro rapidamente, ou por uma indústria mal-intencionada que promete o mundo só para vender cursos. Nesse sentido, ele diz que a atitude de Gabriela Pugliesi é um verdadeiro desserviço.

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“Ela diz que está ganhando dinheiro com essas operações, sendo que é algo que nunca fez na vida. Ela aprendeu tudo em dois meses? Está chamando a gente, que estudou a vida inteira, de idiota”, ironiza.

Laatus explica que os movimentos de compra e venda de posições de um day trader são embasados não só por anos de aprendizado, mas por um monitoramento constante do que acontece no Brasil e no exterior. O cenário também precifica os ativos e interfere na motivação dos players de comprar ou vender. “Quem não sabe isso está jogando moedinhas e tentando a sorte”, diz.

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