- A presença feminina no mercado de investimentos ainda está longe da igualdade, mas existe um produto de investimento onde as mulheres se destacam mais: a previdência privada
- Dados levantados pela Brasilprev mostram que, nos últimos 5 anos, a quantidade de mulheres investidoras na modalidade ultrapassou a de homens
- Benefícios tributários, planejamento financeiro e sucessão patrimonial atraem público feminino aos fundos de previdência
A presença feminina no mercado de investimentos ainda está longe da igualdade. Na Bolsa de Valores, as investidoras representam os mesmos 24% do total de CPFs cadastrados que representavam há 10 anos. No Tesouro Direto, o cenário é bastante semelhante e, dos 26,6 milhões de investidores cadastrados no sistema, apenas 7,1 milhões são mulheres – 27% do total.
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Mas existe um produto de investimento onde as mulheres se destacam mais: a previdência privada. Dados levantados pela Brasilprev mostram que, nos últimos 5 anos, a quantidade de mulheres investidoras na modalidade ultrapassou a de homens. Em 2024, o número feminino de clientes bateu 1,3 milhão, superior ao 1,2 mi masculino.
O fortalecimento da presença feminina no investimento é ainda mais expressivo se comparado a uma janela de tempo maior. Em 1996, as mulheres que investiam em previdência privada eram metade da quantidade de homens.
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Cássia Yamada, superintendente comercial da Brasilprev, explica que o aumento no número de investidoras nos últimos anos pode ser atribuído a diversos fatores. Um deles, a expectativa de vida das mulheres. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as brasileiras vivem em média sete anos a mais do que os homens.
Mas não é só isso: segundo ela, boa parte das clientes procura a previdência privada como uma alternativa para o planejamento familiar e a sucessão patrimonial. "A preocupação em garantir o futuro dos filhos está refletida na maioria das mulheres que contratam cobertura de risco. Além de pouparmos mais, também tendemos a realizar menos resgates do que os homens, evidenciando nossas escolhas conscientes em favor de sonhos de longo prazo, muitas vezes, abrindo mão de consumo de curto prazo", diz Yamada.
Este comportamento mais "conservador" apareceu em algumas análises, nesta outra reportagem, como um dos motivos que podem explicar a ainda baixa presença feminina na Bolsa. Se de um lado, mulheres têm maior cautela antes de entrar em investimentos mais arrojados, por outro, a alta do número de investidoras na previdência pode indicar uma tendência maior ao planejamento financeiro.
"Nos últimos anos temos visto muitas iniciativas acerca de educação financeira e planejamento financeiro pessoal, com bastante estímulo às mulheres também. Elas, naturalmente, buscam esses tipos de investimentos, como a previdência, para se precaver para o futuro", explica Eliane Tanabe, planejadora financeira CFP pela Planejar. "Sob esse olhar, o crescimento na previdência e não na Bolsa faz sentido."
A popularização da previdência privada
Os investimentos em previdência privada estão cada vez mais populares. Dados levantados pela Economatica mostram que trata-se de uma das categorias de fundos com maior expansão na década. Nos últimos 10 anos, os fundos de ações tiveram um crescimento de 246%; os de previdência, de 245,72%.
"Essa evolução quase idêntica sublinha a crescente popularidade da previdência privada como alternativa de investimento. Esse avanço reflete tanto a maturidade crescente dos investidores brasileiros quanto a evolução das estratégias de investimento disponíveis, indicando um amadurecimento tanto do mercado quanto das opções de previdência privada", destaca a Economatica.
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Muito dessa evolução se deve às vantagens que a modalidade oferece: foco no longo prazo e benefícios fiscais. A previdência privada tem duas modalidades de tributação. Na progressiva, as alíquotas aumentam de 0% a 27,5%, seguindo a tabela do Imposto de Renda. Na regressiva, as alíquotas diminuem de 35% para 10%, conforme o tempo de acumulação.
Para conseguir o imposto mais baixo, é preciso ficar pelo menos 10 anos no investimento – neste caso, trata-se de um IR bastante inferior ao cobrado em outros produtos de investimento, cuja alíquota mínima é de 15%.
Uma lei sancionada em janeiro deste ano mudou um pouco as regras e, agora, investidores podem decidir pelo regime de cobrança dos tributos até o momento da obtenção do benefício. A nova lei não muda as regras de tributação dos atuais regimes, regressivo ou progressivo, mas garante a oportunidade para que investidores revejam a opção do regime tributário ao longo do tempo, à medida que os objetivos financeiros forem mudando. Uma mudança que serve como um incentivo a mais para investir, segundo especialistas da área. Veja detalhes nesta outra reportagem.
"A previdência privada acaba sendo uma alternativa muito boa dentro do planejamento financeiro, por permitir tratar um objetivo de longo prazo para aposentadoria e também cuidar de redução fiscal dentro das normas regulamentares para se beneficiar no imposto de renda", destaca Eliane Tanabe, da Planejar. "Também é vantagem a não incidência do IR do come-cotas sobre os rendimentos de renda fixa e multimercado a cada semestre, o que faz com que o diferimento do imposto a ser pago seja uma oportunidade de melhorar a rentabilidade do capital investido em previdência privada".
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Ainda assim, Tanabe reforça: assim como qualquer tipo de investimento, é importante se atentar à composição da carteira para não deixá-la muito concentrada em um ativo focado no longuíssimo prazo.