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- BC apresentou e colocou em circulação, nesta quarta-feira (2), a nova cédula de R$ 200
- Segundo a instituição, a nota foi criada atendendo uma demanda da sociedade e para diminuir os custos com a impressão de dinheiro
- Para especialistas, a circulação da cédula de R$ 200 não deve impactar os investimentos. Porém, resgata memória inflacionária e desestimula a educação financeira
Nesta quarta-feira (2), o Banco Central (BC) apresentou e já colocou em circulação a nova cédula de R$ 200, que tem como personagem o lobo-guará. A nota foi aprovada no fim de julho pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que conta com representantes da autarquia e do Ministério da Economia.
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De acordo com o BC, de fevereiro a junho deste ano, a busca Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) cresceu 28,9%, indo de R$ 210,227 bilhões para R$ 270,899 bi – o maior valor da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001.
À época do anúncio, Marilia Fontes, sócia da Nord Research e colunista do E-Investidor, analisou a decisão do BC pelo Twitter: “O dinheiro não está voltando, o que pode significar que as pessoas estão ‘guardando’ esse dinheiro. Esse entesouramento em papel moeda fez aumentar muito a demanda por dinheiro”.
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Com esse cenário, causado pela crise da covid-19, o BC informou que a criação de uma nova cédula vai irrigar a economia com de R$ 90 bilhões – ou 450 milhões de unidades de R$ 200.
Para entender como a impressão e a circulação dessa nova nota de R$ 200 pode impactar nos investimentos, o E-Investidor conversou com especialistas do mercado. Quem é investidor pode ficar tranquilo que não há impacto. Porém, a decisão mexe com a educação financeira por estimular as pessoas a guardar o dinheiro “embaixo do colchão”.
Além disso, o BC poderia agir de outras maneiras para injetar liquidez no mercado e cortar custos. A nota de R$ 200 pode assustar as pessoas, pois relembra um passado não tão distante de alta inflação e cédulas com muitos números – a maior em circulação foi a de Cr$ 500.000.000 (quinhentos milhões de cruzeiros), que circulou em 1993, antes do Plano Real.
O secretário do Tesouro Nacional, Bruno Funchal, descartou a possibilidade de a nova cédula de R$ 200 gerar inflação. Segundo ele, os índices de preços estão baixos no Brasil.
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Além disso, o secretário afirmou que a nova nota atende uma necessidade da sociedade. E a sua produção também reduzirá o gasto com impressão de novas cédulas. “Como vamos produzir menos notas, de fato o gasto será menor”, disse Funchal.
Marcio Loréga, analista da Ativa
“A primeira impressão que a nova nota de R$ 200 causa é um pouco de receio. Isso porque ela remete a um passado que vimos notas de valores altos em moedas passadas e isso dá a entender que podemos ter um cenário de maior desvalorização no real. Então, o primeiro impacto é um susto.
“Com relação à visão do governo, ele pensa em economizar com a nota, mas vemos que menos de 10% da população carrega notas de R$ 100. Ou seja, ela não tem um impacto muito grande, mas o governo afirma que está fazendo isso para cortar custos. Então, é um cenário que podemos levantar algumas dúvidas.
“Em relação aos investimentos, o primeiro impacto também não é positivo. Quando a pessoa pega esses R$ 200 em moeda, ela pode não colocar em um investimento e começar a guardar ‘dinheiro vivo’ em casa e começa e mitigar ainda mais os investimentos.
“É como se o governo tivesse desincentivando parte das pessoas a buscarem educação financeira e a investir. É como se ele falasse para a pessoa pegar o dinheiro e guardar que é melhor. A meu ver, essa não é uma coisa positiva do governo fazer.
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“O melhor impacto seria ele investir em educação financeira e emitir uma nota de R$ 200. Se ele fez isso pensando em redução de custos, existem outras formas melhores de se fazer.
“Em relação ao mercado acionário, a emissão pode gerar um impacto não muito positivo para os bancos, pois se as pessoas seguirem a tônica do governo, vão começar a guardar menos recursos nas instituições financeiras e mais em casa. Então, pode prejudicar a área financeira que não vai ter mais tantos recursos para investir e impulsionar a economia e também a área de serviços de transações financeiras”.
Caio Mastrodomenico, CEO da Vallus Capital
“Em momentos de crise, as pessoas tendem a fazer saques e acumular reservas, tanto que vimos o volume de dinheiro vivo aumentar muito neste ano. A maioria das pessoas que está recebendo os benefícios acaba guardando o dinheiro em casa por medo das incertezas do cenário futuro. Com uma nota de valor de face mair, essa prática vai aumentar.
“Com a nota mais alta, as pessoas ficarão mais propensas a guardar ela do que a gastar. E isso atrapalha a roda da economia como um todo, porque a circulação de dinheiro está sendo muito demandada. Mas ele será menos gasto e não será investido.
“É difícil mensurar uma correlação da nota de R$ 200 com um impacto expressivo nos investimentos. Porém, é um fato que as pessoas realmente estão fazendo saques para deixar de fazer pequenos investimentos. E com a nova nota isso vai aumentar.
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“Além disso, a insegurança momentânea também faz com que algumas pessoas não invistam. Então, olhando para um todo, existe uma relação de que as pessoas guardam mais ‘dinheiro vivo’ em momento de crise e a nota alta vai aumentar essa prática”.
Maurício Gallego, gestor de carteiras da Constância Investimentos
“A nota de R$ 200 não altera em nada de dinâmica de investimentos no Brasil, porque hoje as transações com investimentos são via meios eletrônicos e não mais por meio de aplicação na boca do caixa, como ocorria há mais de 10 anos.
“Podemos dizer que a nota vai facilitar quem faz pagamentos à vista, pois diminui a quantidade de dinheiro transportado e quem faz algum tipo de poupança em casa com dinheiro vivo.
Porém, isso não é recomendado, porque a pessoa acaba perdendo poder de compra por causa da inflação; o dinheiro não rende nada. É sempre bom deixar o dinheiro investido, mas a nova cédula impacta pouco na dinâmica dos investimentos”.
Eduardo Levy, diretor de investimentos da Kilima Gestão de Recursos
“O lançamento da nota de R$ 200, por si só, não tem efeito nenhum na base monetária e nos investimentos. Mas a ideia de imprimir dinheiro e expandir a base monetária me parece precipitada nesse momento. Acredito que o Banco Central tem como injetar liquidez no mercado com outros mecanismos sem necessariamente imprimir dinheiro.
“O Brasil ainda tem problemas fiscais muito sérios. Não estamos fora de perigo. Então, pensar em aumentar a base monetária como está sendo feito é perigoso neste momento. E talvez isso nem seja necessário.
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“Ou seja, a emissão da nova nota não tem impacto e o BC tem como injetar liquidez no mercado com outros mecanismos sem necessariamente imprimir dinheiro. Ele poderia comprar ativos para ajudar a sustentar vários preços e, consequentemente, os agentes do mercado”.
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