Debêntures são boas opções na renda fixa, mas é preciso critério para escolher. (Imagem: Adobe Stock)
Imagine receber o seguinte e-mail do assessor de investimentos da corretora em que você tem conta: “Oportunidade na renda fixa. Temos neste mês dois títulos de uma empresa com rating AAA, extremamente segura, um prefixado a 19,30% ao ano e outro IPCA+ 12,5% ao ano, ambos para 2029”.
O ativo em questão é uma debênture, um título de dívida emitido por uma empresa privada que, dado o risco de crédito, remunera o investidor com uma taxa maior do que a oferecida nos títulos de dívida públicos. Com a abertura da curva de juros recente, que levou o Tesouro Direto a níveis de retorno não vistos desde a crise do governo Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016, surgiram boas oportunidades de investimento também no crédito privado.
Mas especialistas defendem que é preciso tomar cuidado com a associação de taxas tão elevadas, como IPCA+12,5% e a classificação “extremamente segura” – geralmente, essas duas coisas não andam juntas.
“Esses níveis de taxa para papéis AAA não existem“, diz Gustavo Saula, analista de renda fixa do Grupo SWM. Ele explica que, desde o final de 2024, quando o mercado passou a exigir mais prêmio de risco dos ativos brasileiros por causa da incerteza com o fiscal e as contas públicas, o nível dos retornos na renda fixa subiu muito. Ainda assim, os títulos de dívidas emitidos por empresas “high grade” – aquelas de maior qualidade e que são classificadas com a melhor avaliação nas agências de rating – têm acompanhado as NTNB-s.
“A taxa de papéis AAA está rodando até com um spread menos negativo em relação às NTN-Bs. Isso significa que papéis de alta qualidade, hoje, oferecem entre IPCA + 7,50% e 8,50%”, destaca.
Isso não significa que investir em debêntures não seja uma boa alternativa para 2025. A orientação, no entanto, é escolher ativos mais defensivos, ainda que isso signifique abrir mão de taxas estratosféricas como “IPCA + 12,5%”.
Por que investir em debêntures
Existem dois tipos de títulos de dívida emitidos por empresas do setor privado: as debêntures e as debêntures incentivadas. A diferença é que o segundo grupo tem como objetivo captar recursos para financiar projetos de infraestrutura. Como incentivo, o investidor fica isento de Imposto de Renda (IR).
Assim, mesmo em uma ativo que ofereça uma taxa semelhante à de um título público, o retorno será maior. Nas aplicações do Tesouro Direto, o rendimento é tributado em tabela regressiva, com alíquota mínima de 15%.
“Em termos de rentabilidade, o investidor vai ganhar bem mais investindo em títulos isentos”, diz Saula. “Claro, tudo depende se o emissor vai pagar a dívida ou não. Mas dá para ser bem conservador e ainda montar uma carteira de crédito privado.”
Rafael Ohmachi, sócio e portfólio manager da RB Asset, destaca que a demanda por investimentos em renda fixa, incluindo o crédito privado, cresceu muito – o que também explica a redução do spread de crédito em relação aos títulos do Tesouro. Mas reforça que há boas oportunidades para quem tem um pouco mais de apetite por risco e quer diversificar a carteira, para além do CDI e dos títulos públicos.
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“Têm aparecido boas oportunidades de investimento a taxas elevadas; e há motivos para os títulos estarem sendo negociados nesses níveis que não víamos desde 2016”, diz.
O melhor caminho é optar justamente pelas incentivadas, pensando na isenção de IR, mas observando também outros pontos: quem é o emissor, qual a liquidez do ativo no caso de uma eventual saída antecipada, o prazo do vencimento. “É prudente estar mais conservador nesse momento de alocação”, pontua Ohmachi.
Apesar de verem boas oportunidades no mercado de crédito privado, os especialistas lembram que o investidor precisa analisar bem a saúde financeira do emissor do título. Isso porque as debêntures não têm cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), como os títulos bancários. Em um eventual problema na companhia, o recebimento dos valores fica comprometido.
“Ao mesmo tempo em que o nível de juro encoraja os investidores, ele é bastante punitivo para as empresas mais alavancadas e, neste ponto do ciclo econômico, sugerimos evitar nomes que estejam com endividamentos mais elevados”, destaca a Ágora Investimentos em relatório.
A orientação da corretora é priorizar empresas cujo momento financeiro seja de baixo grau de endividamento, margens elevadas e faturamento crescente. No geral, isso significa evitar empresas e setores muito ligados à economia doméstica, que sofrem mais com a piora das condições macroeconômicas, como o varejo. “Para a seleção de emissores, preferimos teses de companhias com margens e faturamento mais estáveis, típico das concessionárias elétricas, por exemplo”, diz a Ágora.
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Gustavo Saula, do Grupo SWM, também indica o setor de concessões rodoviárias como emissores de debêntures. “Como é um segmento de renda fixa com remuneração previsível, a capacidade de pagamento da dívida da empresa também é alta.”