- Começa hoje a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mais esperada dos últimos tempos
- Se as expectativas do mercado foram correspondidas, o Copom optará pela 1ª redução de juros no País desde agosto de 2020
- A magnitude desse corte, no entanto, não é unanimidade; ouvimos 7 corretoras para entender como está a expectativa
O dia chegou para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mais esperada dos últimos tempos. O grupo composto pelo presidente e diretores do Banco Central anunciará nesta quarta-feira (2) se inicia o ciclo de cortes na taxa Selic, que está estacionada em 13,75% ao ano desde agosto de 2022.
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Se as expectativas do mercado brasileiro foram correspondidas, esta será a primeira redução de juros no País desde agosto de 2020, quando a Selic caiu de 2,25% para 2,0% ao ano, no menor patamar da história.
Os dados de inflação estão corroborando para isso. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) divulgado no último dia 25 de julho registrou queda de 0,07% em julho. Em 12 meses, o IPCA-15 ficou em 3,19%, abaixo da meta de inflação de 3,25% para 2023.
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O arrefecimento de preços somado a sinalizações mais positivas no âmbito fiscal, com a aprovação do arcabouço no primeiro semestre do ano, e à queda do preço das commodities no mercado global criou um ambiente favorável para que o BC possa finalmente reduzir a taxa de juros brasileira. A projeção do Boletim Focus é que o Selic encerre o ano em 12,0%, o que significaria um corte total de 1,75 ponto porcentual ao longo do semestre.
Ainda que a constatação seja unânime no mercado financeiro – a Selic vai começar a cair em agosto – a magnitude desse primeiro corte ainda é alvo de debate.
Até a segunda-feira (31), 70% dos agentes de mercado consultados pelo Projeções Broadcast (62 de 88) pendiam para um corte de 0,25 ponto porcentual. Todas as casas de investimento consultadas pelo E-Investidor informaram estar dentro deste grupo majoritário, que acreditam que a primeira redução na Selic será parcimoniosa, em linha com o tom adotado pelo Banco Central nos últimos comunicados e atas oficiais.
Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, explica que até haveria espaço para uma redução maior nos juros, mas não é isso que parece estar nos planos do BC dado as últimas comunicações da instituição. “Não vi uma propensão muito resoluta do Copom em sinalizar um corte de maior magnitude. Por isso mantemos a ideia de 0,25 p.p.”, diz.
Outro ponto no radar são os núcleos da inflação do Brasil. Ainda que o IPCA esteja em desaceleração, a variação de alguns setores, como serviços, seguem mostrando resiliência. Um fator que deve manter a postura cautelosa do BC, explica Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest. “A inflação ainda se mostra resiliente em seus componentes mais sensíveis, o mercado de trabalho ainda está apertado e a própria desancoragem das expectativas ainda não foi totalmente sanada”, destaca.
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O E-Investidor conversou com sete corretoras, gestoras e casas de investimento para entender o que elas estão esperando para a próxima decisão do Copom. Confira:
Ágora Investimentos
- Expectativa: 0,25 p.p.
A expectativa da Ágora para a reunião do Copom é de um corte de 0,25 ponto porcentual, baseada no tom do discurso adotado pelo Banco Central nas últimas reuniões e documentos oficiais. Na visão de Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, até haveria espaço para uma redução maior nos juros, mas não é isso que parece estar nos planos do BC.
“Eu particularmente tenho uma preferência pelos 0,50 p.p, mas não vi uma propensão muito resoluta do Copom em sinalizar um corte nessa magnitude. Por isso mantemos a ideia de 0,25 p.p.”
AZ Quest
- Expectativa: 0,25 p.p.
A AZ Quest espera por um corte de 0,25 p.p. na Selic dado a melhora de algumas premissas, explica a economista sênior Mirella Hirakawa: a confirmação das metas de inflação pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a retirada dos riscos de cauda com a aprovação do arcabouço fiscal e a atuação do BC, com uma comunicação mais dura e preocupada em relação à inflação.
Ainda assim, a gestora não vê espaço para um corte “tempestivo” de maior magnitude. “A inflação ainda se mostra resiliente em seus componentes mais sensíveis, como serviço, o mercado de trabalho que ainda está apertado e a própria desancoragem das expectativas que ainda não foi totalmente sanada”, explica Hirakawa.
Genial Investimentos
- Expectativa: 0,25 p.p.
A Genial espera por um corte de 0,25 p.p, ainda que o economista da casa, Lucas Farina, reconheça que há argumentos para uma redução de maior magnitude. O especialista destaca que ainda há fatores no radar que devem manter o BC parcimonioso neste início de ciclo de afrouxamento monetário.
“A aceleração da inflação acumulada em 12 meses, que deve acontecer no segundo semestre, e a decisão da Rússia de sair do acordo de grãos do Mar Negro, que pode pressionar o preço das commodities alimentícias, são dois fatores que recomendam cautela por parte do BC. Por isso, acreditamos que o corte vai acabar sendo de 0,25 p.p.”, explica.
Kinea Investimentos
- Expectativa: 0,25 p.p.
A divergência entre membros do Copom também é o motivo que faz a Kinea Investimentos apostar em um corte de 0,25 p.p. para a reunião da próxima quarta-feira. “Alguns diretores votariam para não cortar, outros para 0,25 p.p e outros para cortar 0,50 p.p. O corte de 0,25 pode ser um meio de caminho para tentar trazer uma unanimidade”, diz Daniela Lima, economista da gestora.
Principal Claritas
- Expectativa: 0,25 p.p
A gestora Principal Claritas também espera por um corte de 0,25 p.p. na Selic. A economista-chefe da casa, Marcela Rocha, explica que, apesar de o comitê demonstrar que havia predominância na expectativa pelo corte, ainda havia uma divergência entre alguns membros mais cautelosos do grupo, que esperam uma redução mais significativa das expectativas de inflação para os próximos anos.
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“Apesar da inflação corrente mostrar arrefecimento, nós avaliamos como mais provável uma redução de 0,25 p.p.”, afirma.
Toro Investimentos
- Expectativa: 0,25 p.p
O tom ainda firme do Copom nas últimas reuniões e comunicações oficiais também faz a Toro Investimentos esperar por um corte de 0,25 p.p para o próximo encontro da instituição. “A última ata trouxe visões positivas em relação a uma virada na condução de política monetária, mas há uma divergência entre os membros. Diante disso, vemos uma possibilidade de redução em 0,25 p.p.”, diz Rosiane Duarte, analista da Toro.
XP Investimentos
Expectativa: 0,25 p.p.
Rodolfo Margato, economista da XP, explica que a corretora acredita desde abril em um primeiro corte de 0,25 p.p na Selic nesta reunião de agosto. A projeção é respaldada pelos dados econômicos que indicam um recuo nas expectativas de inflação, além das surpresas positivas no IPCA e a apreciação do câmbio.
“Algumas instituições até projetam um corte mais significativo, mas avaliamos 0,25 p.p. como mais provável em linha com a comunicação do BC de cautela, parcimônia, paciência no processo de condução de política monetária”, afirma.