- Os títulos do Tesouro dos EUA, conhecidos como “treasuries”, estão batendo suas máximas históricas de rendimento
- Esse panorama vem atraindo investidores interessados em capturar a rentabilidade recorde em dólar na renda fixa americana. Entretanto, o bilionário fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio, não está entre eles
- Para ele, na conjuntura atual é preferível optar por “cash” - investimentos de alta liquidez - do que papéis de dívida
Os títulos do Tesouro dos EUA, conhecidos como “treasuries”, estão batendo suas máximas históricas de rendimento. O rendimento da treasury com vencimento para dois anos, por exemplo, já supera os 5%, o maior nível visto desde meados de 2006. Os dados foram levantados pelo TradeMap.
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No setor privado, os títulos de dívida corporativos (bonds, que são equivalente às debêntures), também não ficam para trás. “Estamos vendo bonds do setor financeiro, que é um segmento resiliente, com yields acima de 7%. Pagamentos que não víamos em 30 ou 40 anos”, afirma Guilherme Sahadi, CEO da Bullside Capital.
Esse panorama vem atraindo investidores interessados em capturar a rentabilidade recorde em dólar na renda fixa norte-americana. Entretanto, o bilionário fundador da Bridgewater Associates, Ray Dalio, não está entre eles.
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Durante um seminário do Instituto Milken, na Ásia, que aconteceu em 14 de setembro, em Singapura, o famoso investidor sinalizou não ter uma visão positiva para os títulos de dívida dos EUA. Para ele, na conjuntura atual é preferível optar por “cash” - investimentos de alta liquidez - do que papéis de dívida.
Isto porque os principais treasuries são prefixados. Ou seja, têm um rendimento acordado no momento da compra e tendem a se desvalorizar quando a taxa de juros do país sobe, semelhante ao que acontece com o Tesouro Prefixado no Brasil pelos efeitos da marcação a mercado.
E para Ray Dalio, o cenário mais provável é de que os EUA passem por mais turbulências, com juros mais altos e pressões inflacionárias, em função do aumento da dívida do país - que chegou ao patamar recorde de US$ 33 trilhões este ano. Para financiar esse montante, o Tesouro Americano precisará emitir mais títulos, com taxas mais altas do que as atuais, o que desvalorizará os papéis anteriores. O mesmo deve acontecer com os bonds de empresas privadas.
“Não quero possuir dívidas, bonds e esse tipo de coisas”, afirmou Dalio, na ocasião.
Devo fugir do Tesouro Americano?
Os especialistas entrevistados pelo E-Investidor concordam parcialmente com a visão de Dalio. Para eles, a análise sobre a possível desvalorização dos títulos do Tesouro Americano e bonds está correta. Até porque o banco central americano, Federal Reserve, também sinalizou que deve aumentar as taxas de juros do país em futuras reuniões na última "Super Quarta", em 20 de setembro.
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Entretanto, o atual nível dos rendimentos não pode ser ignorado pelos investidores. Principalmente, quando o assunto são os títulos públicos mais curtos, que diferentemente do cenário tradicional, hoje pagam rendimentos maiores do que os títulos de prazos mais longos, que também possuem um risco maior.
“Esse momento de ‘curva invertida’ dos juros significa que o Fed tem que mover as taxas de forma muito agressiva no curto prazo para conter o aumento da inflação nos EUA. E aí acabam aparecendo oportunidades. O investidor hoje consegue travar um título de um ano, de dois anos, numa taxa que a gente não via há 20 anos”, afirma Sahadi, CEO da Bullside Capital.
Para Sahadi, as principais indicações são justamente os títulos mais curtos, de até 2 anos. O cuidado, entretanto, é que ainda assim o investidor precisa levar o papel até o vencimento, para não correr risco de sofrer com a marcação a mercado.
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Os títulos do Tesouro Americano são considerados os mais seguros do mundo, não possuem problemas relacionados a liquidez, mas sofrem com oscilações. Quem precisar vender antes do vencimento poderá ter prejuízos. Entretanto, levando até o prazo fixado no papel, a taxa acordada é paga.
“Tendemos a focar em títulos mais curtos que estão com uma taxa bem alta, passando dos 5%, do que no título de 10 anos que apresenta um risco maior para o cliente. Os mais longos possuem uma volatilidade de preço maior”, ressalta Sahadi.
José Maria Silva, coordenador de alocação e inteligência da Avenue, possui a mesma linha de pensamento. “Acreditamos que títulos pagando cerca de 5% em dólar são uma excelente oportunidade para o investidor brasileiro fechar retornos com risco baixo a taxas historicamente altas”, diz. Ele também não vê a trajetória da dívida americana com tanta apreensão quanto Ray Dalio.
“Há desafios associados aos elevados níveis de dívida do governo americano e os constantes impasses entre democratas e republicanos para aprovação de orçamento do Estado”, afirma Silva. “Mas nenhum desses temas é novidade, tem sido assim desde sempre, e na realidade o alto nível de dívida soberana dos Estados Unidos só reforça a importância do dólar como moeda global.”
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Marcelo Oliveira, CFA e co-fundador da Quantzed, por sua vez, aponta que o principal cuidado que o investidor deve ter ao investir no Tesouro Americano é saber casar o vencimento dos ativos com o horizonte que o investidor têm para manter o dinheiro na aplicação. “ O perigo está quando o investidor compra títulos mais longos do que o necessário e não consegue carregar a posição até o vencimento. É aí que ele fica suscetível à variação do preço do ativo na hora que ele for vender”, diz.
Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, também aposta nos títulos mais curtos e ressalta um outro risco para o qual o investidor precisa ficar atento. “Diferente do que a gente tem na renda fixa brasileira, tem o risco cambial também, de flutuações no câmbio, dólar versus real”, afirma.
Por último, João Romar, head de Internacional na InvestSmart, reforça a confiabilidade dos títulos soberanos dos EUA. “A análise de Dalio é boa e, mesmo que tenha um excelente embasamento teórico, os Treasuries continuam sendo os mais seguros no mundo, tendo em vista a influência dos EUA no globo”, diz.
E sobre os bonds?
Os títulos de dívida de empresas americanas também são vistos como grandes oportunidades. Entretanto, neste segmento é preciso redobrar a atenção antes de realizar o primeiro aporte. Além de verificar o prazo, como nos títulos do Tesouro, Sahadi, da Bullside Capital, aconselha que o investidor prefira bonds com os melhores “ratings” - avaliações de risco.
“O ponto hoje é que você tem que escolher títulos de empresas americanas que sejam resilientes, que sejam avaliados por agências de rating que classifiquem eles com boas notas, para que não sofram uma grande volatilidade de preço”, afirma Sahadi.
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O especialista ressalta os bonds do setor financeiro como uma das melhores oportunidades atuais em títulos de dívida corporativos. “Bank of America, MetLife, Citibank, empresas que a gente chama de ‘grandes demais para quebrar’”, diz o CEO da Bullside.
Silva, da Avenue, indica que os riscos em bonds americanos existem somente em títulos de grau de investimento mais especulativo. “Para títulos de grau de investimento (com rating igual ou superior a BBB-) vemos que historicamente o nível de default (calote) se situa abaixo dos 3% para períodos de 10 anos e menos de 1% para títulos mais curtos”, afirma. "O que mostra que bonds de grau de investimento são bastante seguros e estão oferecendo retornos excelentes devido à alta das taxas de juro nos EUA.”
Para acessar a renda fixa americana, basta que o investidor tenha conta em uma corretora que dê acesso ao mercado internacional. A Avenue, por exemplo, dá acesso a mais de 700 bonds diferentes, enquanto a XP também disponibiliza conta internacional para os clientes.