- O volume administrado pelas casas de gestão de patrimônio alcançou R$ 385,4 bilhões ao fim de 2022, uma alta de 21,2% em relação a dezembro de 2021 (R$ 318 bilhões)
- O registro de alta de mais de 20% em volume no ano, no entanto, reflete uma movimentação concentrada em um fundo de ações
- Em entrevista ao Broadcast Investimentos, Fernando Vallada, diretor da Anbima, disse que sem esse fator os resultados mostrariam um avanço em torno de 10%
O volume administrado pelas casas de gestão de patrimônio alcançou R$ 385,4 bilhões ao fim de 2022, uma alta de 21,2% em relação a dezembro de 2021 (R$ 318 bilhões). O número de instrumentos de investimento – como fundos de investimento e carteiras administradas – também cresceu no período, passando de 29.161 para 30.911 (+6%). Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima).
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O registro de alta de mais de 20% em volume no ano, no entanto, reflete uma movimentação concentrada em um fundo de ações (leia mais a seguir). Em entrevista ao Broadcast Investimentos, Fernando Vallada, diretor da Anbima, disse que sem esse fator os resultados mostrariam um avanço em torno de 10%.
Números mostram estabilidade
A renda variável ganhou participação no volume financeiro das gestoras, saindo de 28,7% em 2021 para 32% em 2022. Já os ativos híbridos – que consideram cotas de fundos multimercados e imobiliários, certificados de operações estruturadas (COEs) e fundos de índice (ETFs) -, representavam 24,9% do volume em 2022, ante 28% em 2021.
As cotas de fundos puxaram o crescimento nesses produtos, com a liderança dos fundos de ações, que saíram de R$ 47,2 bilhões em 2021 para R$ 82,9 bilhões em 2022, um avanço de 75,7%. Mas, segundo a Anbima, o motivo do salto foi um movimento concentrado em um fundo que mudou de classe e, na marcação a mercado dos papéis, impulsionou a alta. Sem esse fundo, a categoria teria queda de 4,7%. Já os fundos multimercados tiveram variação positiva de 6,5%, para R$ 82,4 bilhões.
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Destaque ainda para as ações, cujo volume, que era de R$ 23,6 bilhões em 2021, caiu para R$ 17 bilhões em 2022 (-27,8%). Esse resultado, junto ao que deveria ser um recuo nas cotas de fundos de ações, “faz sentido, uma vez que enfrentamos a volatilidade da Bolsa no final do ano”, afirmou Vallada.
O levantamento da Anbima mostra que a renda fixa ainda é o maior segmento nas gestoras, representando 39,9% do volume financeiro em 2022, ante 40,1% no ano anterior. As maiores parcelas estão nas cotas de fundos de renda fixa, que chegaram a R$ 45,7 bilhões em volume (+23,2%), e em títulos públicos, com R$ 33,1 bilhões (+4,4%). Houve variação negativa apenas nas letras financeiras (LF), de R$ 7 bilhões para R$ 5,8 bilhões (-17%), mas a Anbima não identificou movimentos atípicos.
Já os títulos isentos de tributação ampliaram a participação no volume da renda fixa, representando 46,6% entre o total de títulos privados. As Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA) cresceram, respectivamente, 146,7% (para R$ 3,7 bilhões) e 42,7% (para R$ 6,2 bilhões). Já os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) chegaram a R$ 4,8 bilhões (+46,8%) e os do Agronegócio (CRAs), a R$ 4,3 bilhões (+20,9%). “Com a taxa de juros alta somada à isenção tributária, vemos a procura maior”, afirmou Vallada.
Mas, de modo geral, na avaliação do diretor da Anbima, os números das gestoras de patrimônio em 2022 indicam estabilidade. “No segmento de gestão de patrimônio há duas formas de crescer: através da migração de clientes cobertos por outros players ou da entrada de novos clientes e grupos, o que é tipicamente muito proporcionado por eventos de liquidez, quando há atividade forte no mercado de capitais. E a gente não vem tendo tanta atividade nos tempos mais recentes”, disse.
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Vallada ainda afirmou se tratar de uma “estatística nova comparada a outras indústrias”, com a incorporação de novos players – nesse caso, as gestoras de patrimônio. “Então não é estável. A variação pode ser devido à entrada de players ao longo do tempo”, ponderou.
Sudeste concentra número de clientes
O número de grupos econômicos – que podem ser famílias ou sócios de uma empresa, por exemplo, critério definido por cada gestor – subiu 2,2%, de 25,3 mil em 2021 para 25,8 mil em 2022. Vallada chamou a atenção para o avanço na região Centro-Oeste, de 1,3 mil para 1,7 mil. “Em termos absolutos não é uma grande variação, mas em termos relativos, é”, afirmou, uma vez que as demais regiões tiveram variações menores. São Paulo ainda concentra a liderança, com 10,7 mil grupos.
A região Sudeste segue na liderança no número de clientes, com 42,8% da base de 29,8 mil só em São Paulo, equivalente a 12,7 mil. Na sequência aparecem Minas Gerais e Espírito Santo (15,5%), região Sul (15,4%), Rio de Janeiro (12,2%), região Nordeste (7%), região Centro-Oeste (5,9%) e região Norte (1,2%).
Não há dados anteriores para a comparação interanual, segundo a Anbima.
Expectativa para 2023
Após um 2022 de estabilidade, Vallada afirmou que é “difícil fazer qualquer previsão” para os números de 2023. “Temos enfrentado coisas tão inesperadas nos últimos tempos”, disse, mencionando pandemia, reabertura das economias, aumento da inflação, aperto monetário global e guerra na Ucrânia como exemplos.
Com a taxa de juros local ainda em 13,75% ao ano, o diretor da Anbima afirmou que “obviamente existe uma valorização do estoque de ativos de renda fixa”. No entanto, ele observou que a Bolsa é dependente de outros elementos e condições de mercado. “É muito difícil prever qualquer coisa”, reforçou.
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