- O volume resgatado de fundos de investimentos em abril superou a marca anterior de R$ 31,2 bilhões de março último
- Carteiras renda fixa de duração baixa e risco soberano (títulos do governo) receberam R$ 12,24 bilhões em aportes
- Categoria de fundos cambiais teve entrada positiva de R$338,5 milhões em abril
A indústria brasileira de fundos de investimentos registrou resgate líquido de R$ 91,1 bilhões em abril de 2020, o maior valor mensal da série histórica da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). O volume superou a marca anterior de R$ 31,2 bilhões de março último, já influenciada pelos impactos financeiros da crise causada pela pandemia de covid-19.
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Para efeito de comparação com outros períodos, em abril de 2019, o resgate líquido havia sido de R$ 20,1 bilhões, impactado, na época, por uma saída pontual de R$ 5,6 bilhões de um Fundo de Investimento em Direito Creditório (FIDC). A primeira vez que a indústria de fundos teve saída mensal superior a R$ 20 bilhões foi durante a greve dos caminhoneiros em junho de 2018.
No mês passado, a Anbima confirmou resgates líquidos de R$ 58,6 bilhões em carteiras de renda fixa. No ano de 2020, esse resgate líquido já soma R$ 120,78 bilhões na renda fixa, e acumula uma retirada histórica de R$ 172,9 bilhões em doze meses.
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“A maior parte desses recursos migrou para fundos de ações (+ R$ 113,9 bilhões) e multimercados (+ R$ 64,3 bilhões) nos últimos doze meses”, afirma Samuel Oliveira, coordenador de análise de fundos do grupo XP Inc.
“Os fundos de renda fixa já vinham perdendo a atratividade há algum tempo devido às reduções da taxa de juros e à expectativa de manutenção por um período longo. As incertezas e a instabilidade na economia, por conta da pandemia, impulsionaram os resgastes, especialmente dos fundos utilizados pelos investidores como reserva de emergência. Parte deste dinheiro, provavelmente, foi direcionada para conta corrente para pagamento de despesas”, afirma Carlos André, vice-presidente da Anbima.
Marco de Calis, estrategista da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento, também identificou que houve saída dos fundos DI, que tiveram volatilidade em março e abril, para certificados de depósito bancário (CDBs) de grandes bancos.
“Muito investidor conservador que se assustou com a cota negativa em fundo renda fixa de curto prazo e grau de investimentos – o antigo fundo DI – resgatou e foi para o CDB de liquidez diária. Os bancos agiram rapidamente e emitiram muito (volume) em CDBs para atender essa demanda. Já outra parte, migrou para fundo renda fixa de duração baixa e risco soberano, que são concentrados em títulos públicos pós-fixados (Tesouro Selic)”, explicou o estrategista.
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Pelos dados da Anbima, os fundos de renda fixa de curto prazo e grau de investimento (antigo fundo DI) tiveram resgate líquido de R$ 46,08 bilhões em abril, enquanto as carteiras renda fixa de duração baixa e risco soberano receberam R$ 12,24 bilhões em aportes.
Fora da categoria renda fixa também houve saída líquida de: R$ 13,42 bilhões em FIDCs; R$ 13,4 bilhões em multimercados; R$ 2,77 bilhões em ETFs; R$ 2,75 bilhões em fundos de previdência e saída de R$ 638 milhões em fundos de ações.
A única categoria que apresentou captação líquida foi a de fundos cambiais, com entrada positiva de R$338,5 milhões em abril.
“Os resgates nos fundos de ações apareceram apenas em abril, pois a maioria deles tem prazo de liquidação de 30 ou 60 dias. Apenas em maio, teremos uma visão mais ampla do impacto da pandemia sobre esse segmento”, explica Carlos André.
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Entre as diferentes subcategorias da Anbima, a renda fixa de duração baixa e grau de investimento foi a que teve maior saída, R$ 46,08 bilhões no mês passado. Nos FIDCs, as carteiras da subcategoria agro, indústria e comércio concentraram retiradas de R$ 13,2 bilhões. Já entre as subcategorias de multimercados, a saída foi mais relevante nas carteiras de gestão livre (-R$ 6,5 bilhão) e macro (-R$ 6 bilhões).
Rentabilidade
Com o cenário menos volátil em abril, quase todos os tipos de fundos de renda fixa, ações e multimercados tiveram resultados positivos.
Em ações, a subcategoria de gestão livre chamou atenção com alta de 12%. Com relação aos fundos multimercados de gestão livre, a variação foi de R$ 2,09%. Na classe renda fixa, com resultados mais tímidos, o tipo duração baixa grau de investimento teve rentabilidade de 0,09%.