- Ricardo Schweitzer acredita que o cenário para a Bolsa de Valores é difícil, devido ao crescimento econômico lento nos próximos anos
- O economista é crítico ao atual governo e acredita que sua atuação tem aumentado a percepção de risco e atrapalhado a economia
- A economia brasileira está rodando em um ritmo relativamente lento, e o governo não tem espaço fiscal nem ferramentas monetárias para impulsioná-la, segundo Schweitzer
Em uma perspectiva de crescimento econômico lento nos próximos anos, a saída para os investidores pode estar entre ‘ações esquecidas’ pelo mercado. As chamadas small caps, empresas com menor valor de mercado, é a principal aposta de Ricardo Schweitzer, analista CNPI independente, ex-Nord Research, que tem projeções céticas sobre a macroeconomia, mas que ainda observa oportunidades de bons negócios na Bolsa.
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Um crítico ao atual governo, Schweitzer diz que a atuação do Executivo tem ampliado a percepção de risco, atrapalhando o País. Sobre a Selic, por exemplo, ele considera que ainda é cedo para os cortes nos juros. “Neste momento, o Banco Central está exercendo o papel de guardião da credibilidade da política econômica brasileira”, afirma.
“A economia está rodando num ritmo relativamente lento e o governo não tem espaço para nada do ponto de vista fiscal, além de não dispor de ferramentas para fazer algo do ponto de vista monetário”, observa o analista ao explicar uma de suas bases para projetar recuperação lenta nos próximos anos.
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Veja os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – Por que as small caps podem ser interessantes para o investidor no atual momento?
Ricardo Schweitzer – A situação econômica do Brasil é desafiadora, considerando a economia lenta, inflação elevada e espaço fiscal limitado. Não há grandes tendências macroeconômicas que possam favorecer os investimentos. Um vetor de crescimento no futuro próximo poderia vir do exterior, mas há tendência de desaceleração nos Estados Unidos e na Europa. Nesse contexto, do ponto de vista operacional, temos mais espaço para surpresas positivas em empresas de porte menor do que grandes empresas com operações mais complexas e menos margens de manobra operacionais.
Quem pura e simplesmente busca oportunidades com margem de segurança, empresas saudáveis, tem nas small caps diversas empresas que não necessariamente tem crescimento futuros exuberantes, mas situações saudáveis que estão sendo ignoradas pelo mercado por serem menores e menos líquidas.
Mas small caps não aumentam o risco do investidor?
Schweitzer – As small caps são frequentemente associadas ao risco em razão da volatilidade do ativo, mas isso nem sempre significa maior risco no mundo real. Uma maior volatilidade em razão da liquidez ou de dispersão de expectativas pelo baixo número de investidores não necessariamente tem relação com maior risco. A diferença nós vemos de fato a partir da situação operacional e financeira dessas empresas.
O risco pode estar relacionado à capacidade de a empresa melhorar a situação operacional, dependendo de o crescimento futuro se concretizar ou não. Temos aquelas com uma saúde financeira atual ruim em que a expectativa é também a capacidade de execução de estratégias para crescer. Há uma terceira categoria que é de uma situação operacional ruim, dependente de melhora e ainda suscetível a ventos contrários macroeconômicos.
Grande parte dos pequenos investidores acaba atraída pelo último tipo de tese, de empresas em situação ruim. É difícil, depende de uma série de alavancas e conjuntura que ajude a companhia a sair do buraco, só que costumam atrair atenção pelo preço. Assim, acabam ignorando small caps com resultados excelentes e situação financeira confortável. Algumas dessas empresas são a Riosulense (RSUL4), Alper (APER3) e Bemobi (BMOB3).
Qual a parcela que o investidor deveria estar exposto na carteira de ações small caps?
Schweitzer – Depende do perfil do investidor, do ciclo de vida e de uma série de fatores que não são generalizáveis. Mas pensando no mais conservador, ainda em fase de não usufruir, pode ter 20% de exposição. Um sujeito no começo do ciclo de vida, propenso a riscos, pode ter de 50% a 60% da sua carteira de renda variável em small caps.
Na sua avaliação, a política econômica do País está indo na direção certa ou errada?
Schweitzer – Tem ido em direção péssima. Todo o ruído que o governo está produzindo no embate entre Executivo, membros do Partido dos Trabalhador e o Banco Central é horrível para o País. Contribui de maneira dignifica de percepção de risco e se essas pressões se traduzissem em ações efetivas, com um BC baixando a crista, isso seria péssimo do ponto de vista da inflação e câmbio.
E quanto ao novo arcabouço fiscal, o plano é suficiente para começar o processo de queda da taxa básica de juros e abrir oportunidades na renda variável?
Schweitzer – Não é suficiente. A minha leitura foi de que, apesar de ruim, não era a várzea que estávamos imaginando que viria. Isso gerou um ânimo no curto prazo. Mas por que não se sustentou? O mercado percebeu que a regra como foi esboçada prevê aumento de despesa em todos os cenários. O segundo ponto foi que a intenção era aprovar que o descumprimento de metas não gerasse penalidades. Ficou explícito que aquela proposta que já não era a ideal seria um mero protocolo de boas intenções sem penalidades. A expectativa é que o Legislativo acabe dando luz a uma regra melhor.
Em um cenário de aprovação do arcabouço fiscal, o que podemos esperar do Ibovespa até o fim do ano?
Schweitzer – O Ibovespa está sujeito a outras questões até o final do ano. Imaginando um cenário que a discussão sobre política monetária fique como está, se for um arcabouço próximo da proposta do governo, o Ibovespa já está no preço, não imagino nem quedas nem baixas. Se conseguirmos uma regra melhor, dependendo do quão melhor, temos condições de uma alta de mercado.
Qual é o recado que o governo dá para o mercado financeiro ao fazer pressão pela reestatização da Eletrobras?
Schweitzer – Sou um grande crítico do PT. Mas uma crítica que não pode ser feita neste momento é alegar que estão fazendo ou tentando fazer coisas diferentes do que eles disseram que faria. Lá atrás, no período eleitoral predominou a ideia de que seria um jogo de cena e que viria o Lulinha paz e amor. Todas as questões que estamos vendo tem digitais no plano de governo.
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A sinalização é ruim, porque quer discutir a regra do jogo. Mas é uma regra do jogo que não foi definida pelo presidente anterior, foi aprovada pelo Congresso. Isso pode gerar precedentes e afetar diversas outras empresas.