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Investidor da Bolsa está em pânico, diz CEO de gestora de R$ 22 bilhões

Na visão do CEO Walter Maciel, o mercado está acompanhando o cenário com visão de risco exagerada

Investidor da Bolsa está em pânico, diz CEO de gestora de R$ 22 bilhões
Para Walter Maciel, CEO da AZ Quest, aversão a risco no mercado está exagerada. (Foto: Divulgação)
  • Em 2022, os investimentos vêm sofrendo com volatilidade causada por aumento das taxas de juros pelo mundo e a chegada do período eleitoral no Brasil
  • Mas nenhum desses fatores deveria estar pressionando o preço dos ativos brasileiros da forma como está acontecendo, defende Walter Maciel, CEO da AZ Quest
  • Na visão do executivo, a precificação de risco está exagerada e o valor dos ativos, barato. Bom momento para quem quer investir

Os investidores brasileiros têm acompanhado oscilações nos ativos de investimento causadas por dois fatores principais: o aumento das taxas de juros pelo mundo e a chegada do período eleitoral no Brasil.

Do lado macroeconômico, as pressões inflacionárias obrigaram até os países desenvolvidos a iniciar uma trajetória de aperto monetário. O movimento agravou a aversão a risco no mercado global, que passou a precificar a possibilidade de recessão nos Estados Unidos e na Europa.

No mercado doméstico, o risco-Brasil voltou à pauta com a disputa presidencial marcada para outubro. Historicamente, as eleições costumam ser um período de volatilidade, que pode levar a um aumento do dólar e reduzir a entrada de capital estrangeiro na Bolsa de Valores, por exemplo.

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Veja o que diz esta gestora global sobre a alocação em Brasil durante o período de disputa política.

Mas nenhum desses fatores deveria estar pressionando o preço dos ativos brasileiros da forma como está acontecendo, defende Walter Maciel, CEO da AZ Quest. Na visão do executivo da gestora de investimentos que carrega R$ 22 bilhões de ativos sob gestão, o mercado financeiro está exagerando na precificação de risco.

“Nunca houve uma eleição em que já vimos os dois candidatos líderes nas pesquisas no comando Executivo. Lá fora, os EUA vão ter uma luta mais longa contra a inflação, mas isso não é necessariamente ruim para a gente”, diz Maciel. “Eu não enxergo no cenário um risco que justifique os preços hoje. As pessoas estão em pânico, mas não é para tanto”.

Ao E-Investidor, o CEO da AZ Quest explicou suas percepções do cenário e falou sobre as melhores opções de investimento no momento; a maioria, em sua visão, bastante descontadas em relação ao preço justo. Confira:

E-Investidor – Durante sua participação no Expert XP, o senhor defendeu que nem mesmo os desafios atuais da economia nacional e global deveriam desanimar os investidores. Por quê?

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Walter Maciel – O cenário de investimentos no Brasil tem os seus percalços e riscos, mas, na hora de investir, o que vale é a lógica do risco versus retorno. Uma empresa bem gerida pode ir bem quando seu setor vai mal, até mesmo quando seu país não está muito bem. Por isso, quando olhamos para a Bolsa, o valor justo dos ativos parece ser muito maior do que vemos agora.

Eu não enxergo no cenário de hoje um risco que justifique os preços. Além disso, os gestores têm capacidade de navegar nesses cenários. Se eu achar que está ruim, não precisa ser ruim para o investidor, posso operar vendido e continuar a gerar retorno, por exemplo.

Então, na sua visão, a precificação de risco está exagerada?

Maciel – Sim. Eu acho que tem um componente psicológico muito alto também, estamos em uma sociedade muito dividida, com os nervos à flor da pele. Para uns, se o ex-presidente Lula (PT) assumir, vamos virar a União Soviética ou Cuba, e é melhor ir embora do País. A outra turma acredita que se o presidente Bolsonaro (PL) for reeleito vamos ter campos de concentração e os militares vão tomar conta. Se você concorda com isso, é melhor ficar com o dinheiro debaixo do colchão.

Nunca houve uma eleição em que já vimos os dois candidatos líderes nas pesquisas no comando Executivo. Sem debater a qualidade dos governos, há um grau de certeza mais elevado do que teríamos, por exemplo, no caso de um possível comando do Sérgio Moro ou Simone Tebet. Por isso tenho dificuldade de aceitar esse argumento de que há baixa visibilidade com as eleições. Eu acho que ela é alta.

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E o mercado financeiro é uma classe sem qualquer humildade e sem memória. Em janeiro do ano passado, dizia-se que a dívida pública esse ano estaria perto de 97% do PIB. Hoje, estamos falando de 80% e essa segue como a grande preocupação do mercado. É uma paranoia.

Além das eleições, outra preocupação do mercado são as incertezas do cenário macroeconômico. Esse risco também está exagerado?

Maciel – Sem dúvidas, tem seu impacto, mas também não vejo uma grave crise econômica global. Por aqui, o nosso Banco Central já fez quase 12% de aumento na taxa de juros, mas esses apertos demoram cerca de 18 meses para começar a fazer efeito. E o mercado, que detesta esperar, fica nervoso.

Lá fora são outros problemas. Os EUA vão ter uma luta mais longa contra a inflação, o que vai fazer com que a economia americana cresça menos. O que não é necessariamente ruim para a gente. Ruim para o Brasil é a economia americana entrar em uma grande recessão, mas não tem nenhum sinal disso. As pessoas estão em pânico, mas não é para tanto.

O painel da XP discutiu também os ‘bons ventos para os fundos multimercados’, mesmo após um primeiro semestre de 2022 marcado por resgates de R$ 61 bilhões. De onde vem estes otimismo?

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Maciel – Os resgates vieram de empresas que tinham um volume maior sob gestão e que foram mal no ano passado, alguns fundos que se aventuraram a ter uma parcela importante em renda variável sem saber fazer esse investimento. Uma outra parte, foi a impaciência do investidor. Mas é preciso ter uma certa tolerância quando falamos de um produto que tenta bater o CDI, porque a única maneira de fazer isso é tomando risco. E você não acerta sempre.

Uma coisa é o gestor desrespeitar o mandato ou não conseguir bater o benchmark por três, quatro anos seguidos. Mas vender as posições de um fundo que há muitos anos consistentemente bate o benchmark, e somente no ano passado deu 75% do CDI, é a mesma coisa que vender uma ação na hora que ela caiu. Por causa da versatilidade, os multimercados continuam como boas opções nesse momento em que as pessoas estão com medo do cenário.

Onde estão as melhores oportunidades da Bolsa?

Maciel – O setor financeiro em geral, como Bradesco, Itaú, BTG, está tudo barato. No varejo, ficamos muito mais pessimistas com Magalu, Via, Natura e Americanas, pois vimos a inflação vindo muito forte, principalmente para as empresas que vendem para a classe C. Mas outras se destacaram, como Arezzo e Grupo Soma. Também as empresas que estão se reinventando, como a Equatorial.

Essas empresas estão muito baratas e têm várias oportunidades. A depender do resultado das eleições, você pode ter um mix diferente daquelas que vão performar melhor. Em uma vitória do Bolsonaro, por exemplo, a performance das empresas públicas pode ser melhor do que em uma vitória do Lula. Companhias como Petrobras, Banco do Brasil, que estão muito baratas.

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Mas, para o investidor, é impossível acompanhar todas as empresas da Bolsa. Nossa dica é escolher alguns, dois ou três gestores, e deixar o dinheiro lá por um bom tempo. Dê a oportunidade.

Em entrevista ao E-Investidor, em 2020, o senhor disse que a aposta da AZ Quest eram os fundos de crédito privado. E atualmente?

Maciel – Estamos começando agora, mas ainda não está disponível para o público, os fundos de crédito de agro, que é um setor super robusto e paga taxas super elevadas. No geral, as apostas são os fundos de crédito privado, os multimercados e os fundos de ações.

A hora de entrar é mesmo agora, quando as coisas estão baratas. O investidor sonha em pagar pouco, sem risco e em um céu de brigadeiro. Mas quando o céu estiver de brigadeiro, os preços vão estar o dobro.

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