

O País tem um novo nível de taxa de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira (19), subir a Selic em 1 ponto porcentual, de 13,25% para 14,25% ao ano – maior nível desde 2016, durante o governo Dilma Rousseff (PT). A notícia desestimula os investimentos na “economia real”, conforme o BTG Pactual (BPAC11).
Para valer a pena investir em um novo negócio, por exemplo, o retorno teria que ser muito mais alto que o retorno de 14,25% ao ano da Selic atual. Caso seja menor, compensaria mais aplicar dinheiro em um título público pós-fixado, que já entrega esse rendimento sem risco, como o Tesouro Selic.
Para a Bolsa de Valores brasileira, esse nível de taxa também é negativo: as empresas sofrem mais com os aumentos dos custos das dívidas, ao passo que os investidores ficam mais inclinados a se manterem na renda fixa – que, de fato, está com prêmios interessantes.
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“Como há um custo de oportunidade muito elevado, é melhor que os investidores fiquem mais conservadores do que arriscados. Então, é melhor você ter mais títulos de renda fixa pós-fixados e títulos atrelados à inflação, do que ativos prefixados de prazo mais longo ou ações”, diz Álvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual.
Onde investir com a Selic a 14,25%?
O banco de investimentos recomenda que uma “carteira balanceada” (com algum grau de risco) tenha 75% dos ativos em renda fixa. Desta fatia, a maior parte (42%) em pós-fixados, como Tesouro Selic, e uma parcela menor (30%) em títulos atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA+. Completam a seara os títulos prefixados, com uma indicação de 3%.
Outros 13% da carteira podem ser compostos de fundos multimercados e uma parcela menor, de 7,5%, em Ibovespa e 4,5% em ativos “alternativos”, como fundos imobiliários (FIIs), criptoativos e moedas.
Sem sinais de melhora
O BTG Pactual não fez muitos ajustes na estratégia de investimentos nos últimos meses, por não ver mudanças relevantes no cenário – pelo menos do lado positivo. A alta de 10% do Ibovespa neste início de ano, segundo o banco, pode ser creditada ao fluxo de investidores estrangeiros saindo de países latinos como o México, alvo das tarifas do presidente americano Donald Trump, e vindo para o Brasil, pouco impactado por esta guerra comercial.
“A gente vê ainda um ambiente fiscal bastante desafiador para o Brasil. E quando isso acontece, a credibilidade da política econômica vai piorando e a curva de juros começa a precificar taxas cada vez maiores”, diz Frasson. “Ou seja, para eu financiar um governo que tem menos responsabilidade fiscal, eu não vou exigir mais IPCA+6%, eu vou exigir IPCA+7,5%. Isso vai mudar daqui para frente? Não sabemos.”
Sem sinalizações do governo sobre ajustes nas contas públicas, o BTG projeta que a taxa Selic atinja o pico no patamar de 15,25% ao ano. Há até “riscos baixistas” que poderiam segurar os juros em um patamar menor, como sinais de desaceleração econômica, mas o BTG ressalta que os índices de preços continuam piorando, com as expectativas para a inflação no futuro acima da meta de 3%.
“Teoricamente, o Banco Central deveria olhar mais para a inflação corrente e as expectativas de inflação do que para desaceleração econômica”, afirma Frasson. “Então, acho precipitado falarmos em taxas de juros mais baixas ou um ciclo de corte de juros.”
Cenário internacional também apresenta incertezas
No cenário internacional também está recheado de incertezas. O estrategista-macro do BTG Pactual acredita ser muito cedo para metrificar os impactos das novas tarifas de Trump. Também não aposta, ainda, na tese de “recessão dos EUA”.
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“Os dados de atividade econômica nos Estados Unidos mais recentes não indicam recessão, longe disso”, diz Frasson. “O Trump tem usado a política tarifária como uma política de barganha. Mas é uma política menos rígida do que aparentemente seria quando ele começou a fazer o discurso pós-vitória e antes de assumir a presidência.”
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