O que este conteúdo fez por você?
- Existem instrumentos que se beneficiam com a alta e com a baixa da taxa de juros. É preciso desmistificar esse tabu de que Selic baixa é ruim para a renda fixa
- Os dados de atividade do Brasil estão vindo bem robustos, tantos os que indicam uma melhoria de atividade no futuro, os indicadores antecedentes, quanto os dados nos dias atuais, como renda, mercado de trabalho, o próprio PIB, consumo, aumento de salário
- O BC poderia deixar a Selic perto de 9%
O Banco Central (BC), por meio do seu Comitê de Política Monetária (Copom), anunciou nesta quarta-feira (20) mais um corte na Selic. Assim, a taxa básica de juros do Brasil caiu de 11,25% ao ano (a.a) para 10,75% a.a. Desde setembro, já se somam seis ajustes e uma queda acumulada de três pontos porcentuais no principal parâmetro da economia.
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Com a perspectiva da Selic atingir os 9% ao ano até o final de 2024, há quem veja o fim da janela de oportunidades de bons ganhos em investimentos na renda fixa. Mas não Fabiano Zimmermann, gestor da família de fundos ASA Alpha. De acordo com ele, este momento de recuo dos juros beneficia os ativos prefixados e aqueles indexados à inflação, do Tesouro Direto, mais os fundos formados por carteiras com estes dois tipos de títulos. “Existem instrumentos que se beneficiam com a alta e com a baixa da taxa de juros. É preciso desmistificar esse tabu de que Selic baixa é ruim para a renda fixa”, diz.
Para o gestor, os investidores ainda possuem espaço para “navegar” no atual ciclo de corte da taxa de juros, em 2024. Ele afirma que o momento segue favorável para a migração dos títulos pós-fixados para os prefixados e indexados à inflação. “Ao fim do ciclo de corte chegará o momento de fazer o contrário”, sinaliza Zimmermann.
A melhora de alguns indicadores da economia, como o Produto Interno Bruto (PIB) e os do mercado de trabalho, vai ter algum efeito sobre a geração de inflação neste ano, na visão do gestor da ASA. A expectativa de aumento de inflação motiva Zimmermann a preferir os títulos indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Entendemos que, com esses dados de atividades, a inflação vai chegar próximo de 4,5% (em 12 meses). Mesmo assim, entendemos que o plano de voo do BC para a Selic vai continuar até em torno de 9% ao ano”, explica.
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Com isso, diz, o juro real – diferença entre a Selic e a inflação – ficará próximo de 4,5%. “Os prêmios que estão sendo pagos pelos títulos de inflação estão perto de 6%. Então entendemos que tem uma janela importante de ajuste desse juro real saindo de 6% para próximo de 4,5% e, com isso, os títulos de inflação vão se valorizar”, justifica Zimmermann.
Veja a seguir a entrevista com Fabiano Zimmermann, gestor da família ASA Alpha, para o E-Investidor.
E-Investidor: O corte de mais 0,50 ponto porcentual na Selic já era esperado pelo mercado. A dúvida pairava sobre o tom do comunicado do Banco Central em relação à indicação ou não da continuidade do ritmo de queda dos juros. Como você vê a divulgação desta vez?
Fabiano Zimmermann: Já estava pacificado esse corte de 50 pontos-base. Todas as comunicações do Banco Central desde a última reunião e os dados divulgados corroboram para esse ajuste. A grande discussão era sobre a incerteza quanto aos próximos passos.
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Os dados de atividade do Brasil estão vindo bem robustos, tantos os que indicam uma melhoria de atividade no futuro, os indicadores antecedentes, quanto os dados nos dias atuais, como renda, mercado de trabalho, o próprio PIB, consumo, aumento de salário. É muito difícil que isso não vire inflação em algum momento para este ano já. Ao mesmo tempo, os dados de inflação ainda estão baixos. Em fevereiro, no entanto, se mostraram altos, a inflação veio 0,83%. Mas para março, abril e maio temos uma perspectiva muito baixa, em torno de 0,20%, ao mês, em média.
Há uma aparente incongruência. Os dados de inflação no curtíssimo prazo estão baixos, mas quando se olha os dados da inflação por dentro, os núcleos, acende uma luz amarela para o BC, porque a inflação de serviços, importante para a condução de política monetária, tem vindo mais preocupante.
E como você viu o tom do comunicado?
É cedo para fazer esse movimento de reduzir o ritmo de cortes, ainda. Vamos passar por um período muito benigno de inflação e precisamos entender, não só o mercado como o próprio BC, a origem dessas inflações de serviço um pouco mais pressionada, para, assim, se comprometer com uma comunicação que dá a entender que está mais próximo do final do ciclo de corte de juro. Ainda há bastante espaço para a redução.
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Até quanto a taxa pode cair?
O BC poderia deixar a Selic perto de 9% ao ano.
Alguns dados macroeconômicos estão vindo bem acima das projeções, como o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de janeiro. O mercado está mais pessimista do que, de fato, a economia tem apresentado?
Estamos nos surpreendendo há uns três ou quatro anos com a atividade do Brasil. Existem várias teorias em relação a isso. O mundo também vive esse quadro.
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O Brasil, em especial, pode estar vivendo um choque de produtividade com a nova forma do mundo se organizar para o trabalho, home office, cadeias produtivas, enfim, para novas metodologias e campos de trabalho que se abriram e se fortaleceram nos últimos anos e que podem gerar aumento de produtividade, mas o mercado não está sabendo captar. Mas, sim, temos nos surpreendido com dados de atividade, de mercado de trabalho e, agora, consumo.
O pulo do gato está em observar quando isso vai bater na inflação. Não tem como não bater. Esse é o quebra-cabeça que estamos tentando decifrar e vai ser a principal tese para os mercados ao longo deste ano.
Considerando a Selic no patamar de 10,75%, a janela de bons ganhos na renda fixa está no fim?
Sempre gosto de abrir o leque dos investimentos em renda fixa quando se fala em Selic baixa e alta. Existem instrumentos que se beneficiam com a alta e com a baixa da taxa de juros. É preciso desmistificar esse tabu de que Selic baixa é ruim para a renda fixa.
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Estamos vivendo agora um momento de corte de juros em que os ativos prefixados e os indexados à inflação, do Tesouro Direto, e os fundos desses dois tipos de títulos, se beneficiam do ciclo de corte da Selic. A taxa pode chegar em torno de 9% ao ano, então, temos espaço para navegar no corte de juros. O momento segue favorável para a migração dos títulos pós-fixados para prefixados e indexados à inflação. Isso está valendo até o fim do ciclo de corte. Ao fim do ciclo de corte chegará o momento de fazer o contrário.
Por que os títulos pós-fixados, mais conservadores, perdem atratividade?
O pós-fixado está diretamente ligado à Selic vigente. Se a perspectiva é de que a Selic continue caindo, o rendimento do investidor que está no pós-fixado tende a cair. O prefixado e o indexado à inflação, diferentemente, projetam a Selic futura. Se a perspectiva é de corte, esses títulos tendem a diminuir as suas taxas e o preço do título é inversamente proporcional à taxa. Então se as taxas desses títulos prefixados e indexados à inflação caem, o preço, o valor desses títulos sobe.
Mas os títulos prefixados e indexados sofrem mais oscilações de preço por fatores que estão além da Selic…
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Sim, diferentemente dos pós-fixados, os títulos prefixados e os indexados à inflação são mais voláteis. Porém, o investidor não precisa ir para títulos mais arriscados, fora da renda fixa, com a Selic em baixa.
Qual desses investimentos de renda fixa é o melhor hoje?
Viemos de inflações positivas e vamos encarar um período de inflação mais benigna (mais baixa). Isso provocou no mercado uma queda muito forte nas inflações implícitas, que são o quanto o mercado projeta, nos títulos de renda fixa, a inflação futura no Brasil.
Houve uma queda muito forte das inflações implícitas e isso significa que o prefixado teve melhor desempenho ao longo dos últimos seis a oito meses do que os títulos de inflação. Isso é uma janela benigna, mas entendemos que, com a melhora dos dados de atividade e do mercado de trabalho, a inflação provavelmente vai voltar. Por isso, hoje, o principal título de renda fixa que o investidor deveria ter na carteira são títulos indexados à inflação.
E se a inflação não subir, o investidor estaria protegido de perdas?
Os dados de inflação tendem a ser mais salgados do que o mercado está precificando. Hoje se fala em inflação perto de 3%. Entendemos que, com esses dados de atividades, a inflação vai chegar próximo de 4,5%. Mesmo assim, entendemos que o plano de voo do BC para a Selic vai continuar até em torno de 9% ao ano.
Vemos uma Selic mais próxima de 9% e uma inflação mais próxima de 4,5%. Com isso, o juro real, que está alto no Brasil, fica próximo de 4,5%. Os juros que estão sendo pagos pelos títulos de inflação estão em quase 6%. Assim, entendemos que há uma janela importante de ajuste desse juro real saindo de 6% para próximo de 4,5% e, com isso, os títulos de inflação vão se valorizar.
Como vê as oportunidades no crédito privado?
Desde a crise das Americanas (AMER3) e Light (LIGT3), passamos por um 2023 conturbado no mercado de crédito. Mas desde o último trimestre do ano passado e no primeiro de 2024, vimos um fechamento considerável dos spreads (diferença de preço na compra e venda). Então, os títulos de crédito se recuperaram de uma maneira geral. Entendo que créditos de empresas de bom fluxo de caixa, empresas com bom rating (risco de calote), seguem sendo ótimas alternativas de pós-fixados.