- Entre setembro de 2019 e setembro de 2020, a saca de soja se valorizou 61,8%, o que despertou o interesse dos investidores por esse mercado
- As negociações normalmente são feitas no mercado de futuros, através de contratos de compra e venda. O segmento é sofisticado e por isso pouco operado por pessoas físicas
- Grandes players fazem proteção contra altas no preço da soja por meio de contratos futuros. O mercado possui rentabilidade atrativa, mas o risco é elevado
Nas últimas semanas, as commodities estão dando o que falar. O preço do arroz, por exemplo, aumentou tanto que a as empresas ligadas ao macarrão, apontado como produto de substituição, entrou no radar dos investidores. Mas não foi só o cereal queridinho dos brasileiros que disparou em 2020, a cotação da soja também está em tendência de alta no mercado doméstico.
Leia também
“O preço médio da saca de soja em 2020 mais que dobrou em relação ao ano passado, então entra em destaque aos olhos do investidor”, diz Ricardo Jacomassi, economista-chefe da TCP Partners. De fato, uma saca de soja de 60 quilos era avaliada em R$ 86,01 (US$ 21,08) em 17 de setembro de 2019. Até esta quinta-feira (18), exatamente um ano depois, a mesma saca vale R$ 139,16 (US$ 26,57), uma valorização de 61,79% em 12 meses.
Só em 2020, a alta é de 57,9%, já que no dia 2 de janeiro a cotação era de R$ 88,08 (US$ 21,89), segundo dados Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). Na visão do especialista, a desvalorização cambial durante a pandemia contribuiu para esse cenário. “A soja ficou atrativa porque alguns países aumentaram o consumo de proteína bovina, suína e de frango, e esses segmentos utilizam farelo de soja. Sem falar que em dólar, comprar a commodity no Brasil ficou muito barato”, diz.
Publicidade
O interesse pelo grão foi traduzido na enquete feita no twitter do E-Investidor, sobre qual commodity os seguidores teriam interesse em saber como investir – a soja venceu com 50% dos votos.
O preço do arroz está pela hora da morte. Sobre qual destas commodities você quer saber como investir?
— E-Investidor (@EInvestidor) September 12, 2020
Proteção e Especulação
Em primeiro lugar, é necessário entender que o mercado da soja é complexo, com alta volatilidade e recomendado para investidores qualificados, que conheçam profundamente o comportamento da commodity. As negociações são feitas no mercado de futuros na B3, majoritariamente para proteção ou especulação.
“É um segmento que exige muita especialidade”, diz Jacomassi. “O mercado é operado, normalmente, por grandes players do setor, compradores que dependem de soja para o processo produtivo e produtores rurais que buscam travar os preços”, afirma. Por esse motivo, não é comum que pessoas físicas invistam no grão.
Nesse segmento, os participantes fazem um contrato e se comprometem a vender ou comprar um determinado produto no futuro, mas com preços acordados no presente. Por exemplo, um produtor que queira se proteger de uma eventual alta no preço da soja faz um contrato futuro de compra para daqui 1 ano, a valores definidos no momento do acordo. Se a commodity terminar esse período em alta, ele fica resguardado. Por outro lado, se o preço cair abaixo do definido em contrato, o produtor terá algum prejuízo.
Publicidade
Já quando o assunto é especulação, modalidade mais interessante para as pessoas físicas operarem, a compra e venda dos contratos futuros não é feita com o objetivo de receber ou entregar o produto físico soja. “Você faz a compra ou venda dos contratos pensando em ganhar com a variação do preço, mas não precisa ter as sacas de soja”, afirma Cristiano Lima, superintendente de Sales&Trading da Ágora. “Mas é necessário vender o contrato antes de deixá-lo vencer, para não ter que receber ou entregar as sacas”, diz.
Outras opções para pessoas físicas são os fundos de investimentos focados em commodities. “O investidor pode comprar cotas dessas aplicações que atuam no setor”, afirma Jacomassi. “A rentabilidade desse mercado é muito atrativa, mas é um mercado sofisticado, que não é para amadores.”
Milho, boi e café também atraem investidor
De acordo com os especialistas consultados pelo E-Investidor, boi, milho e café são outras commodities que despertam o interesse dos investidores pessoas físicas. “O Brasil é um país gigantesco no setor agrícola, um dos maiores em produção de boi gordo, por exemplo. É natural que as pessoas busquem esse mercado para se proteger”, diz Lima.
Para operar nesses mercados, o funcionamento é muito parecido com a soja. As negociações são feitas no mercado de futuros, por meio de contratos de compra e venda.