Investimentos

Sparta fecha captação de fundos: “Não queremos ceder à pressão”

O CEO da gestora, Ulisses Nehmi, diz que a alta procura por debêntures incentivadas e fundos de crédito pode gerar alocações menos vantajosas

Sparta fecha captação de fundos: “Não queremos ceder à pressão”
Ulisses Nehmi, CEO da Sparta Fundos de Investimento. (Foto: Divulgação/Sparta)
  • As mudanças nas regras dos fundos exclusivos e para emissão de ativos isentos de Imposto de Renda criaram um boom no mercado de crédito privado
  • Como a Sparta Fundos de Investimento, gestora especialista em renda fixa e crédito privado com mais de R$ 11 bilhões sob gestão, respondeu a esse movimento? Fechando a captação de dois dos seus principais fundos de debêntures incentivadas, justamente aqueles que viram o maior aumento de demanda de investidores
  • Ao E-Investidor, Nehmi faz uma avaliação do cenário atual e explica a decisão de dar um passo atrás em meio à alta procura de investidores

As mudanças nas regras dos fundos exclusivos e emissão de ativos isentos de Imposto de Renda criaram um efeito colateral positivo para o mercado de crédito privado. A procura por ativos como debêntures incentivadas, fundos de crédito e FI-Infras disparou e, segundo a Anbima, ajuda a sustentar toda a indústria brasileira de fundos de investimento, em um 2024 marcado por resgates nos multimercados e fundos de ações.

Como a Sparta Fundos de Investimento, gestora voltada para a renda fixa e crédito privado com mais de R$ 11 bilhões sob gestão, respondeu a esse movimento? Fechando a captação de dois dos seus principais fundos de debêntures incentivadas, justamente aqueles que viram o maior aumento de demanda de investidores.

O fechamento para captação acontece quando uma gestora limita que um fundo de investimento receba aportes de novos cotistas. A alteração costuma ser uma saída adotada para proteger a saúde e o desempenho do ativo no longo prazo, em momentos em que o gestor acredita que o tamanho do fundo pode começar a limitar a eficiência de suas estratégias.

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A princípio, pode parecer prejudicial impedir a entrada de novos investidores em um momento em que o fluxo de capital se voltou para esses ativos. Mas, segundo Ulisses Nehmi, CEO da Sparta, trata-se de uma cautela necessária, um passo atrás para evitar que esse aumento de procura por crédito privado crie uma pressão no time de gestão, especialmente agora que a euforia gerou uma redução expressiva nos spreads oferecidos pelos títulos – na prática, isso significa que os ativos são emitidos com taxas menores do que se via há algum tempo.

“Começamos a ter tanta demanda que, por precaução, preferimos fechar os fundos. Há um interesse muito grande e não queremos ficar suscetíveis a essas pressões fortes no curto prazo. Não podemos fazer uma alocação a qualquer preço e estamos vendo isso no mercado”, diz Nehmi.

O primeiro fundo a ser fechado para captação foi o Sparta Debêntures Incentivadas 45, em fevereiro. Em abril, a gestora limitou a entrada no Sparta Debêntures Incentivadas Inflação. Agora, a estratégia é esperar até que as debêntures voltem a ser emitidas em taxas mais atrativas. “Estamos muito otimistas com o tamanho do mercado e o potencial de emissões para esse ano. Quando os títulos começarem a sair nos preços adequados, estaremos preparados”, diz o CEO da Sparta em entrevista ao E-Investidor.

Confira os principais trechos:

E-Investidor – O mercado de crédito privado viveu um boom nos primeiros meses de 2024. Quais fatores incentivaram esse movimento?

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Ulisses Nehmi – Primeiro, a mudança na tributação dos fundos exclusivos, que eventualmente redireciona muito a alocação do dinheiro para investimentos isentos na renda fixa. Depois, houve uma alteração nas regras desses isentos. Esses produtos criavam algum tipo de distorção, porque tinham baixíssimo risco, com alta liquidez e retorno bom; era o tripé impossível.

A partir do momento em que acontecem essas correções, há uma mudança de dinâmica de crédito privado e as debêntures incentivadas tiveram um aumento de procura. Além disso, há o fator de conjuntura. Não só o cenário externo, de juros mais altos no exterior, como também uma discussão sobre questões fiscais, governo e recentemente o racho no Copom. Tudo isso mantém o cenário bastante peculiar, com inflação controlada e taxas de juros na casa de 10%. Para o investidor, há um excelente retorno real embutido na renda fixa básica. Se você vai para o crédito privado, eventualmente tem um spread extra e uma isenção de Imposto de Renda. Isso torna a renda fixa ainda mais atrativa nesse momento.

Essa atratividade deve perdurar ao longo de 2024, mesmo com a queda progressiva da Selic?

Quando o cenário era de uma queda grande na Selic, como estava sendo precificado até o começo do ano, havia certo otimismo no mercado. Isso leva o investidor que começa a tirar dinheiro de liquidez e de ativos seguros. Mas não é que o dinheiro vai direto para ações, ele vai enchendo “baldinhos intermediários”, com crédito privado, fundo imobiliário, multimercados e só depois ações. A partir do momento que há uma expectativa de queda menor da Selic, essa mudança recente no mercado, há menos propensão à tomada de risco. Ou seja, o balde não vai encher até chegar nas ações. Como o crédito privado ainda é o próximo nível de risco, não altera o momento bastante atrativo.

Se o momento é atrativo, por que a Sparta fechou alguns fundos?

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Houve realmente esse incremento muito grande demanda e fechamos a captação de dois fundos de debêntures incentivadas. Pela nossa experiência, não é bom quando isso acontece. Foi preciso tomar essa decisão madura para tirar aquela pressão de curto prazo por alocação e quem eventualmente, poderia nos levar a fazer alocações menos vantajosas.É importante não ter uma pressão por alocação a qualquer preço. Entendemos que isso fomentaria uma distorção nos mercados ou uma alocação de pior qualidade. Estamos preparados para esse ambiente, mas com cautela para não criar pressões desnecessárias do nosso lado. Não pode ser a qualquer preço e estamos vendo isso no mercado.

Dentro desse movimento positivo no crédito privado, os FI-Infras foram um dos destaques de captação. Esses ativos têm potencial para cair no gosto popular?

Os FI-Infras já estão caindo no gosto do investidor. Ainda é um mercado pequeno, perto do potencial que pode ter. O estoque total de debêntures incentivadas, por exemplo, está na casa de R$ 300 bilhões; esses fundos somados ainda não chegaram a R$ 10 bilhões. De maneira geral, esses ativos tiveram um aprendizado bastante importante com os fundos imobiliários.E hoje a sistemática que os FI-Infras têm adotado é a mesma, pagamentos mensais para atrair os investidores e isenção de Imposto de Renda. São excelentes veículos e, somado aos fundos imobiliários e ao agro, são três opções interessantes de fundos listados para montar carteiras diversificadas.

A alta captação dos fundos de crédito privado gerou um outro movimento na indústria, a redução dos spreads. Quais são os desafios de gestão dos fundos nesse contexto?

Houve, de fato, um fechamento muito grande dos spreads e uma valorização grande desses títulos. Mas é importanPor te dizer que o mercado estava distorcido desde 2022, depois que a PEC dos Combustíveis criou uma deflação e impactou no interesse dos investidores pelas debêntures incentivadas. Depois, veio o caso de Americanas e Light, que manteve essa distorção em nível muito alto. Isso só começou a normalizar ao longo de 2023. Agora, estão acontecendo muitas emissões de debêntures incentivadas, principalmente de nomes de altíssima qualidade, só que com spreads de crédito muito baixos. Essas emissões estão sobrando na mão dos coordenadores porque títulos com taxas mais baixas do que as negociadas no mercado secundário não saem. Isso mostra uma racionalidade que é saudável, de que a demanda não é a qualquer preço. Além disso, as mudanças na Lei no início deste ano que delimita o arcabouço para a aprovar a emissão de debêntures incentivadas ainda depende de portarias de cada Ministério; enquanto não saem essas regras específicas, as emissões são represadas. Estamos muito otimistas com o tamanho do mercado e o potencial de emissões para esse ano, mas dependerá desses fatores.

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