O que este conteúdo fez por você?
- Mercado está demandando juros mais altos para financiar o governo
- Para quem pode esperar, investimento em IPCA + 6,10% com vencimento em 2045 pode pode multiplicar em mais de 5 vezes o valor aplicado
- Cenário internacional pode forçar o Banco Central a parar de reduzir os juros mais cedo
O Tesouro IPCA + com vencimento em 2045 superou o patamar de 6,10% na taxa prefixada do título nesta semana. Este é o maior retorno real do título (acima da inflação) desde novembro de 2023. A demanda foi tão grande que o Tesouro Nacional suspendeu temporariamente as negociações dos títulos públicos prefixados e IPCA+ (indexado à inflação) na quarta-feira (17). Geralmente, há essa interrupção quando a volatilidade das taxas de juros está muito alta.
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Apesar de travar a liquidez do investidor, segurar o IPCA + 6,10% até o vencimento está longe de ser um mau negócio para quem pode esperar: o investidor pode multiplicar o valor aplicado em mais de 5 vezes.
“Quando vemos esse aumento neste tipo de título quer dizer que o mercado está demandando juros mais altos do governo”, diz Vitor Miziara, sócio da Performa Ideias e colunista do E-Investidor.
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Raony Rossetti, CEO da Melver, fez uma simulação do rendimento para quem decidir segurar o título até 2045, pensando na aposentadoria. O resultado dos investimentos foi calculado subtraindo do valor bruto o Imposto de Renda e as taxas da B3.
Com base nas atuais projeções de mercado do IPCA, em 3,5%, o especialista aponta os seguintes cenários:
- Aporte único de R$ 1.000,00 – valor líquido de R$ 5.546,10
- Aporte único de R$ 5.000,00 – valor líquido de R$ 27.728,09
- Aporte único de R$ 50.000,00 – valor líquido de R$ 277.275,98
Para quem mantém os aportes mensais, a progressão é bem melhor:
- Aporte inicial de R$ 300,00 e aportes mensais do mesmo valor – montante total investido de R$ 75.900,00 (250 aportes) e valor líquido de R$ 206.835,34
- Aporte inicial de R$ 1.000,00 e aportes mensais do mesmo valor – montante total investido R$ 253.000,00 (250 aportes) de valor líquido de R$ 661.182,99
O risco de travar o investimento até 2035 num papel que paga IPCA + 6,10% é ele passar para um percentual ainda maior. Em maio do ano passado, por exemplo, este título estava pagando 6,33% além da inflação.
No caso de o papel passar a pagar um prêmio maior, quem está comprado esperando vendê-lo no curto prazo, sofrerá com deságio na marcação a mercado, forçando o detentor do papel a levá-lo até por mais tempo ou até o vencimento.
Cenário doméstico preocupa
O problema é que os títulos de longo prazo estão pagando mais porque o cenário futuro mostra uma piora das expectativas, que tiveram uma contribuição importante esta semana.
Na segunda-feira (15), o Ministério da Fazenda enviou ao Congresso a proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), adiando a estimativa de superávit das contas públicas para 2026. Ao mudar as metas fiscais, sem cumprir o previsto no arcabouço fiscal aprovado no ano passado, o governo mostra que vai precisar de mais dinheiro.
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“A atual política expansionista, via gastos públicos, espera um crescimento da economia e o retorno via arrecadação. Mas o mercado não está acreditando que isso vai funcionar porque já viu o que aconteceu no governo Dilma Roussef”, resume Miziara.
Na época, a falta de medidas eficazes para conter os gastos e aumentar as receitas contribuiu para a pior recessão da história do Brasil, como ficou conhecida a contração do PIB brasileiro de 3,5% e 3,3% nos anos de 2015 e 2016. Agora, o governo demonstra dificuldades de melhorar a arrecadação e a situação preocupa o mercado, que passa a pedir mais juros para financiá-lo.
É nos contratos futuros negociados diariamente na Bolsa pelos participantes do mercado financeiro que o preço começa a subir. “Quando o governo vai colocar um título à venda, ele precisa pagar taxas de juros parecidas com aquela negociada no mercado. Senão, ninguém terá interesse em comprá-los”, explica o analista da Perfoma Ideias.
Exterior também não ajuda
Além disso, há a política monetária do Banco Central que está em “pé de guerra” com a dos Estados Unidos. Enquanto o Brasil passou a reduzir as taxas dos juros básicos da economia de 13,75% desde o ano passado para os atuais 10,75%, nos EUA os juros vêm aumentando e terão de ficar assim por mais tempo por causa da economia forte e inflação alta. “Com essa diferença caindo, não faz sentido para o estrangeiro manter dinheiro no Brasil, correndo risco fiscal. Eles preferem deixar em casa”, diz.
Com esse quadro, o Banco Central pode ser forçado a parar de reduzir os juros mais cedo, para evitar a fuga de capital estrangeiro. Essa é outra sinalização para o mercado de que os juros futuros vão se manter altos por aqui no longo prazo.
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Neste xadrez macroeconômico ainda entram as questões geopolíticas mais complicadas. Esta semana houve uma escalada de tensão no Oriente Médio, após o Irã atacar Israel com drones e mísseis. “Isso acaba afetando as cadeias produtivas do petróleo, pressionando a inflação mundial e deixando as taxas de juros mais esticadas”, comenta Vitor Oliveira, especialista em renda fixa da One Investimentos.
Ele lembra que o VIX, indicador de volatilidade da Bolsa de Chicago conhecido como o índice do medo, já subiu 30% desde o início de abril. “Isso também influencia bastante as taxas de longo prazo”, afirma Oliveira.