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- No mês de setembro, o Tesouro Selic surpreendeu ao registrar variação negativa, em uma queda de 0,27% no IMA-S, índice composto por títulos pós-fixados atrelados à Selic
- Em outubro o índice continua no vermelho, com variação de -0,44% até esta segunda-feira (05). Caso siga nessa toada, será a primeira vez que o Tesouro Selic fica negativo por dois meses seguidos
- Uma mistura de juros menos atrativos e risco fiscal contribuiu para o atual desempenho do Tesouro Selic
No mês de setembro, o Tesouro Selic surpreendeu ao registrar variação negativa, em uma queda de 0,27% no IMA-S, índice que serve como termômetro para os pós-fixados atrelados à Selic. A última vez que isso aconteceu foi há quase duas décadas, em maio de 2002, primeiro ano em que os títulos passaram a ser ‘marcados a mercado’. Na época, os papéis caíram 0,42% devido ao temor relacionado à então eleição do ex-presidente Lula, e o episódio ficou conhecido justamente como ‘a crise da marcação a mercado’.
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Passados 18 anos, os investidores voltaram a ver a aplicação no vermelho. E, de acordo com os especialistas consultados pelo E-Investidor, há a possibilidade de a situação se repetir em outubro, somando dois meses negativos seguidos – pela primeira vez na história. Inclusive, o índice IMA-S ampliou as perdas até a última terça-feira (06), para queda de -0,44, segundo dados da Economatica. O motivo seria a mistura de dois potentes fatores: juros baixos e incerteza fiscal.
Não é novidade que a taxa de juros em patamares historicamente baixos diminuiu expressivamente a rentabilidade do Tesouro Selic. Entretanto, se os títulos forem levados até o vencimento, o investidor não tem prejuízo. Isso acontece porque o prêmio será exatamente a Selic, que está positiva, com a adição de uma pequena taxa. Já caso precise vender o título no mercado secundário (entre investidores) antes do vencimento, os papéis ficam expostos à marcação a mercado.
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“Com a queda na taxa Selic, as tesourarias não estão querendo mais comprar esse título porque está rendendo pouco. Então, os leilões acabam tendo mais vendedores do Tesouro Direto do que compradores. Isso faz com que o preço do unitário (PU) caia”, explica Caio Fernandez, CEO da Ivest.
O especialista ainda explica que, apesar de esse tipo de título ter baixíssimo risco de crédito – ou seja, de dar calote em quem investe – ainda possui risco de liquidez por conta da marcação a mercado.
O risco de liquidez significa que o investidor pode, sim, perder dinheiro caso decida vender o título antes do vencimento, pois o preço estará sujeito às regras de oferta e demanda.
“Temos chances de o Tesouro Direto ficar negativo enquanto tivermos taxas de juros baixas, pouco atrativas”, diz Fernandez. “Não é uma queda generalizada, mas de um ativo que normalmente fica estável.”
Sem melhora fiscal, Tesouro Selic continua prejudicado
Além das taxas de juros pouco atrativas, outro fator que contribui para esse cenário de Tesouro Selic negativo é a preocupação com a questão fiscal do País. A percepção de aumento do risco relacionado às contas públicas faz com que o mercado peça um prêmio (rentabilidade) maior para os títulos mais longos, principalmente os de 2025. Então, quem já tem esse papel na carteira vê o preço do título cair.
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“O principal acontecimento em relação às LFTs (títulos atrelados à Selic), aconteceu em 10 de setembro, quando houve um mega leilão do Tesouro Nacional, muito maior do que o mercado esperava”, explica Camila Dolle, analista de renda fixa da XP Investimentos. “Isso sinalizou que a situação do Tesouro era pior do que achávamos, refletindo o risco maior do governo”, diz.
Na visão de Dolle, para que os títulos voltem ao ‘normal’ é necessário uma sinalização de que o governo irá controlar a dívida pública e se comprometer com o lado fiscal. “Mas isso ainda não aconteceu. Não vemos uma tendência de que o Tesouro Selic vá normalizar rápido. Dia após dia estamos observando uma abertura de prêmio maior.”
Já para Marília Fontes, sócia-fundadora da Nord Research, o que aconteceu em setembro foi pontual. “Para o Tesouro Selic continuar negativo é preciso que esse prêmio continue subindo, mas acho que muito antes disso o Tesouro agiria comprando esses papéis e tornando o mercado mais líquido”, diz.
Devo migrar para outro investimento?
Mesmo com a rentabilidade bem diminuída, os especialistas ainda veem o Tesouro Selic como uma boa opção para a reserva de emergência. Até porque a queda dos títulos atrelados à taxa de juros básica da economia também afetou a rentabilidade de outros produtos de renda fixa, como fundos DI, que também estão desvalorizados.
“Uma das alternativas são os CDBs de liquidez diária que rendam pelo menos 100% do CDI. O desafio aqui é que esses produtos nem sempre estão disponíveis”, explica Bolle. Para ela, os LFTs continuam seguros. “O que mudou agora é que temos um cenário conturbado”, afirma.
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Essa também é a opinião de Fernandez. “Eu ainda continuo recomendando reserva de emergência em Tesouro Direto, mas o investidor deve ficar ciente que pode ficar negativo”, afirma. “Existem também opções com melhores rentabilidades e com o mesmo risco, como os CDBs de grandes bancos.”