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“Tirar dinheiro do Brasil é pior erro do investidor no ano”, diz Ártica

Ivan Barboza, sócio da gestora, diz que a tendência de dolarização das carteiras é arriscada

“Tirar dinheiro do Brasil é pior erro do investidor no ano”, diz Ártica
Ivan Barboza, sócio da Ártica. Foto: Ártica
  • De acordo com Ivan Barboza, sócio da gestora Ártica, o pior erro que os investidores podem cometer em 2023 é seguir recomendações para dolarizar a carteira
  • Ele ressalta que essa macrotendência, que começou no início do ano, já está resultando em perdas. Isto porque entre janeiro e a última segunda-feira (12), o dólar cedeu 9,3%, passando de R$ 5,36 para R$ 4,86
  • "Câmbio é um negócio difícil, bolsa fora do País está pior e mais cara do que a bolsa daqui. Eu vi muita gente tirando o dinheiro do País porque acha que o Brasil está arriscado, mas sem o menor conhecimento de como estão os ativos lá fora", afirma Barboza

De acordo com Ivan Barboza, sócio-gestor do Ártica, o pior erro que os investidores poderiam cometer em 2023 é dolarizar a carteira. Ele ressalta que essa macrotendência de tirar dinheiro do Brasil para investir em ativos do exterior, que tomou impulso no início do ano junto com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já está resultando em perdas.

Entre janeiro e a última segunda-feira (12), o dólar cedeu 9,3% frente ao real, passando de R$ 5,36 para R$ 4,86. A situação nos mercados lá fora também segue em um ritmo cercado por incertezas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o aperto monetário do Federal Reserve (Fed), banco central americano, já vitimou algumas instituições financeiras. É o caso do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank.

Atualmente, a taxa dos “Fed Funds” está entre 5% e 5,25%, a maior em 15 anos, o que alimenta temores de recessão na maior economia do mundo. Por isso, cada sinalização do Fed sobre o curso da política monetária é analisada com bastante atenção pelo mercado. Na última reunião, realizada na quarta-feira (14), o banco central americano confirmou a expectativa do mercado financeiro de manutenção da taxa.

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O mesmo cenário é observado na Europa, que lida com inflação e juros mais altos, além das incertezas relacionadas à guerra entre Rússia e Ucrânia. Por aqui, o BC já terminou o ciclo de alta da taxa Selic e a inflação dá sinais de arrefecimento. “Há muitas pessoas tirando dinheiro do País porque acham que o Brasil está arriscado, mas sem o menor conhecimento de como estão os ativos lá fora”, afirma Barboza. “Temos que ter muito cuidado na hora de seguir recomendações de agentes que estão comissionados para vender.”

Atualmente, a Ártica possui apenas um fundo de investimento, o Ártica Long Term FIA, cuja carteira é composta totalmente por ações do mercado doméstico. “Eu não estou tirando dinheiro do País. Olhando dados mais macro, o Brasil tem mais oportunidades do que as bolsas estrangeiras”, diz.

A carteira também tem uma forte presença de ações que ainda estão “fora dos holofotes”. A maior posição da aplicação no momento, por exemplo, é nos papéis da Marcopolo (POMO4), empresa que fabrica carrocerias de ônibus. De acordo com a Status Invest, nos últimos 12 meses (7 de junho de 2022 a 7 de junho de 2023) o fundo de ações acumula um retorno de 16,87%, enquanto o Ibovespa subiu 10% no mesmo período.

E-Investidor – O Ibovespa subiu 7,61% nos últimos 30 dias. Essa tendência de alta deve continuar?

Ivan Barboza – Essa tendência de alta do Ibovespa deve continuar porque os ativos estão muito baratos hoje em função dos juros altos. Na hora em que a curva inverter e começar a cair, o Ibovespa vai subir até chegar no preço normal. Estamos abaixo da média em equities, tem espaço para subir.

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O Sr. já vê espaço para o Banco Central cortar os juros?

Vai acontecer em algum momento do segundo semestre porque a inflação já começou a ceder e tem uma pressão política muito grande para que o corte de juros seja feito. Se não tiver nenhuma reversão na tendência de inflação, será difícil para que o Banco Central defenda a manutenção de juros tão altos.

Já é hora de comprar empresas de setores mais sensíveis aos juros, como varejo?

Eu comprei. Tenho algumas posições sensíveis a curva de juros. Não são posições grandes, por conta da incerteza de quando os cortes acontecerão, mas todas com horizonte de três anos. Esse é o tempo que eu posso esperar e ganhar um dinheiro legal. Um desses setores que compramos foi a incorporação imobiliária, com Eztec, que é uma empresa excelente e com histórico relevante.

Qual é o pior erro que um investidor pode cometer este ano?

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O movimento que começou no início desse ano de tirar capital do Brasil e mandar pra fora. As bolsas mundiais estão mais caras e vi muita gente tirando o dinheiro do País porque acha que o Brasil está arriscado, mas sem o menor conhecimento de como estão os ativos no exterior. Os investidores estão comprando qualquer coisa.

Então a Ártica não estão investindo em nada fora do Brasil?

Não estou tirando dinheiro do País porque o câmbio está ruim e nós conhecemos mais o Brasil do que o mercado de fora. Olhando dados mais macro, o Brasil tem mais oportunidades do que as bolsas estrangeiras. Essa macrotendência de investidor de varejo converter dinheiro para dólar já deu errado. O pessoal começou isso com o dólar a R$ 5,30 e agora já está R$ 4,90.

Uma forma melhor de se proteger é por meio de títulos pós-fixados do Tesouro. Em geral, eles são um excelente jeito de o investidor não correr tanto risco.

Marcopolo hoje é a maior posição de vocês. Por que investir em uma empresa que está bem fora dos holofotes?

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A tese de Marcopolo é relativamente simples. O Brasil tem uma frota de ônibus que está muito velha. Quando isso acontece, o ônibus demanda muita manutenção, então compensa mais comprar um novo. Antes da pandemia a frota já estava antiga, só que com a crise sanitária o pessoal parou de comprar novos ônibus. Hoje existe uma demanda reprimida por trocas. Além disso, o governo vai dar descontos na compra de novos ônibus, contanto que um outro veículo com mais de 20 anos seja aposentado. E a Marcopolo é líder do mercado brasileiro de produção de carroceria de ônibus.

Ou seja, toda indústria vai se dar bem porque todos terão de operar na capacidade máxima até que essa renovação de frota seja feita. Serão um ou dois anos de vendas boas. Estamos posicionados nela faz tempo porque essa tese é bem antiga, mas agora parece que destravou. Esperamos ganhar algumas dezenas de pontos percentuais.

O Sr. se considera o “gestor mais calmo do mercado”, mas qual é a sua maior preocupação hoje?

Minha maior preocupação é o tempo que as coisas podem demorar para acontecer. A Eztec, por exemplo, é uma empresa que depende da queda de juros para voltar a vender. O nosso investimento depende que essa retomada da indústria aconteça em uma determinada janela de tempo. Quanto mais tempo demora, pior vai ficando meu retorno. Meu medo é que demore demais e o meu retorno seja corroído pela passagem do tempo.

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