- O Tesouro Prefixado 2029 apresentou uma valorização de 23,53% nos últimos 12 meses
- No mesmo período, o Ibovespa registrou uma alta de 14,36%
- A explicação para a rentabilidade de dois dígitos do título público acontece na esteira da marcação a mercado. Segundo especialistas, a janela de oportunidade para o investimento neste ativo está se fechando
Há um título público que rendeu quase o dobro do Ibovespa nos últimos 12 meses. Em 13 de junho de 2022, o Tesouro Prefixado 2029 oferecia uma rentabilidade de 12,8% ao ano e cada unidade poderia ser adquirida por R$ 453,4. Até a segunda-feira (12), o papel de renda fixa poderia ser vendido por R$ 560,1 – uma valorização de 23,5%, a maior entre as aplicações do Tesouro Direto para o prazo.
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O IBOV, por sua vez, reporta uma alta de 14,3% no mesmo período. Vale lembrar que o salto recente do índice ajudou a diminuir a distância para a rentabilidade do prefixado 2029. Entre 31 de maio de 2022 e 31 de maio de 2023, por exemplo, a LTN 2029, como a aplicação de renda fixa também é conhecida, apresentou uma valorização de 17,8%, contra -2,71% do índice acionário.
A explicação para a rentabilidade de dois dígitos acontece na esteira da marcação a mercado. Em termos gerais, quando as perspectivas para as taxas de juros sobem, o Tesouro Direto passa a emitir novas LTNs com taxas mais atrativas que os antigos papéis, que acabam se desvalorizando na carteira dos investidores. E quando a expectativa é de corte na Selic, os prefixados se valorizam, já que esse papel “trava” a rentabilidade anual do investimento.
“Se o investidor possui um título a uma taxa que é mais alta do que as taxas de mercado, no momento em que ele for realizar a venda, ele ganhará um valor a mais para compensar a nova precificação do título. No entanto, o contrário também é válido e o investidor pode sair no prejuízo”, afirma Pedro Despessel, analista de renda fixa do Simpla Club. “Se o investidor optar por segurar o seu investimento até a data de vencimento, sempre será recebida exatamente a taxa que foi contratada no momento da aplicação.”
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No caso do Prefixado 2029, quem comprou o título em junho do ano passado e travou a rentabilidade em 12,88% ao ano até 2029 possivelmente fez um bom negócio – tanto para quem pretende levar até o vencimento e receber o retorno contratado, quanto para quem pretende vender o papel ainda este ano. De acordo com o Boletim Focus, a Selic, hoje em 13,75% ao ano, deve terminar 2023 em 12,5%. Para 2024, a taxa deve cair para 10%, e até 2026, deve chegar aos 8,75% ao ano.
Isto significa que pelo menos nos próximos três anos, esse prefixado entregará mais rentabilidade ao investidor do que os pós-fixados, que acompanham a variação da Selic.
Ainda dá tempo de investir?
O título prefixado 2029 é o preferido de Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos. Contudo, o especialista alerta que a janela de oportunidade para o investimento está se fechando. Até a última segunda (12), essa LTN oferecia uma rentabilidade de 10,98% para novas compras e a tendência é que o retorno prometido continue cedendo até o corte de juros acontecer.
“Acredito que com a taxa caindo abaixo de 9%, já fique menos atrativo investir nesse título. Estamos falando para os clientes comprarem o quanto antes”, afirma Pacheco. Atualmente, o prefixado com a maior rentabilidade é o de vencimento para 2033. Esse título possui retorno de 11,2%, mas também é o papel que tende a sofrer mais com os efeitos da marcação a mercado, por ter um prazo maior e, consequentemente, um grau especulativo mais elevado.
Eliane Tanabe, Planejadora Financeira CFP® pela Planejar, vê chances para o investidor obter ganhos com o prefixado 2029. “Se o investidor ainda acredita em uma economia em que os juros vão reduzir, ainda pode conseguir ganhos no papel”, diz. “A queda das taxas de juros sempre beneficiarão os prefixados.”
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Já Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, acredita que as oportunidades hoje estejam nos prefixados de prazos mais curtos ou intermediários, de vencimentos para até cinco anos à frente. Já em relação ao rendimento de títulos com prazos pouco mais longos, como o do Prefixado 2029, a projeção para o rendimento será mais complexa a partir de agora.
“O prefixado 2029 responde muito à situação fiscal, o quanto de crescimento que o país terá, se a reforma tributária será aprovada, muitas frentes difíceis de prever nos próximos meses”, afirma. “Teremos a queda da Selic agora e aí na metade do ano que vem, se derrubarem alguma coisa que foi aprovada recentemente, a sensação de risco pode subir e o título se desvalorizar.”
É importante ressaltar que se o investidor precisa de liquidez e não pode perder de forma alguma o capital investido, o ideal é investir no Tesouro Selic ou outros títulos privados pós-fixados. Leia mais sobre eles nesta matéria.