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Mercado aposta em títulos públicos que pagam acima da inflação; veja análise

Especialistas explicam os riscos e benefícios de investir no longo prazo em um cenário de alta do dólar

Mercado aposta em títulos públicos que pagam acima da inflação; veja análise
NTN-Bs passaram a pagar inflação + 6% (Foto: Rafael Arbex/Estadão)
  • Os juros americanos drenando o dólar da economia mundial, câmbio pressiona inflação
  • Além disso, os juros de curto e médio prazo oferecem uma segurança e previsibilidade
  • Renda fixa de longo prazo deve ser encarada com o uma alocação estrutural

Os títulos públicos atrelados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) voltaram a pagar juros atrativos, diante de um horizonte econômico desafiador de longo prazo. Na semana passada, quando a Bolsa de Valores brasileira chegou abaixo dos 115 mil pontos, as NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional Série B) passaram a dar retornos de inflação + 6%.

Nesta semana, houve um respiro, mas os títulos mais longos atrelados à inflação estão muito próximos deste patamar de juros reais, depois de algumas semanas pagando abaixo dos 5%.

Com as taxas americanas drenando o dólar da economia mundial, o câmbio começa a pressionar a inflação em economias emergentes, como a brasileira, o que aumenta a sensação de aversão ao risco. O resultado é uma curva de juros longos se abrindo e a renda fixa voltando a patamares de poucos meses atrás.

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“Quem está olhando no longo prazo pode comprar de olho fechado porque é difícil ter alguma estratégia que pague 6% acima da inflação acumulada”, diz Laís Costa, analista da Empiricus Research.

Costa acredita que a exposição a este nível de juros reais – balizadores da dívida pública – é positiva porque, em algum momento, o governo terá de puxar esse percentual para baixo. “Um país que cresce a 2% ao ano não consegue manter esse impacto de 6% por muito tempo nas suas contas.”

O risco da marcação a mercado

Esse ajuste, defende Fernando Correa, estrategista da Nomos, embute o risco de curto prazo para os papéis mais longos que é a marcação a mercado. “É desfavorável, mas o carrego, para o investidor de maior prazo, certamente ajuda e compensa”, diz.

Jonas Chen, gestor de portfólio da B. Side Wealth Management, defende que os melhores títulos têm vencimentos de até cinco anos para juros nominais (prefixados) e no máximo de 10 anos para títulos de juros reais (IPCA +).

“Para o investidor comum, os juros de curto e médio prazo oferecem uma segurança e previsibilidade melhor que a parcela longa devido à dinâmica do afrouxamento dos juros, possibilitada pela inflação mais benigna em 2023”, diz o gestor, ao falar sobre a perspectiva de menor pressão inflacionária no Brasil.

O Boletim Focus divulgado na última segunda-feira (25) de setembro, continua mostrando que os agentes financeiros esperam uma inflação convergindo para a meta, fechando em 3,5% ao final de 2025.

Dívida privada

Uma opção para quem busca uma rentabilidade maior é o crédito privado. Esta linha de produtos de renda fixa exigem, no entanto, mais diligência do investidor em relação ao risco.

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Neste sentido, os fundos de debêntures incentivadas listados em bolsa podem trazer algumas vantagens para a pessoa física. Por serem listados, são produtos que tem liquidez parecida com ações, em D+1, e por terem gestão ativa em diversificação, reduzem o risco de crédito.

“Dentro de um fundo como este há debêntures de dezenas de empresa. Se uma der calote, o investidor não terá estresse de fazer negociação para reaver seu crédito. Com a gestão profissional, o investidor pode ter uma remuneração melhor do que a de títulos do governo”, afirma Costa, citando opções como KDIF11 da Kinea, JURO11 da Sparta e IFRA11 do Itaú, fundos que pagam 1,5 a 2% acima da NTN-B. “É bastante gordura para ter esses benefícios.”

Alocação estrutural

Para os especialistas, o investimento em renda fixa de longo prazo deve ser encarada com o uma alocação estrutural do investidor brasileiro e não apenas uma estratégia conjuntural. Para uma pessoa de perfil moderado, manter de 5% até 15% de fundos de debêntures incentivadas pode garantir uma boa proteção contra a volatilidade da economia brasileira no longo prazo.

Na carteira de renda fixa deste investidor, metade deveria ter proteção à inflação, com títulos indexados ao IPCA, e o restante distribuídos em pré-fixados, pós-fixados, já que a Selic ainda se mantém em patamares elevados e, em menor posição, as debêntures. “No final do dia a pessoa tem que mirar seus rendimentos acima do IPCA e, para isso, é preciso ter títulos atrelados à inflação e isentos de IR”, destaca a analista da Empiricus.

Nos 30% restantes da carteira, 2/3 podem estar vinculados a fundos multimercado e nos 10% dedicados à renda variável, o cenário desafiador estimula uma exposição menor a empresas ligadas a setores cíclicos como o varejo e entrada nos segmentos chamados mais defensivos, como empresas de serviços públicos, como saneamento, energia e telecom.

Produtos isentos de IR

“Eu prefiro aproveitar a isenção”, diz Paulo Minari, head de Investment Strategy da Oriz Partners, referindo-se às debêntures incentivadas. “Empresas do setor elétrico, saneamento, concessão rodoviária estão pagando IPCA +7%”, diz Minari. “O spread de crédito está acima da média histórica. Americanas e Light reprecificaram este mercado.”

O especialista também cita opções ligadas a Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs) que também voltaram a pagar taxas maiores em relação há poucas semanas e têm a vantagem de serem isentas de IR.

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A questão nesta estratégia é entrar em papéis que estejam mais descontados, o que, neste cenário, se torna uma tarefa mais difícil. Enquanto o índice que representa a variação das empresas ligadas ao consumo na B3 se mantém estável em relação ao início do ano (ICON), o IEE, relativo às empresas do setor elétrico, por exemplo, já valorizou cerca de 12% desde janeiro. O mesmo vale para exposição em debêntures, já que as empresas defensivas têm receitas mais previsíveis.

Respeite o seu perfil

Mudar o peso dos ativos na carteira, no entanto, costuma ser um movimento que leva a prejuízos. Em vez de rotacionar a carteira, o investidor deve procurar fazer movimentos táticos, respeitando a alocação de ativos de acordo com o seu perfil de risco. “Investir numa gestora, num profissional, também é uma boa forma de atravessar momentos de maior desafio”, explica Costa.

Para quem tem uma capacidade melhor de aportes, Fernando Correa, da Nomos, defende ainda que o investidor procure internacionalizar parte de suas reservas para moedas de países como Estados Unidos e União Europeia. “Está mais fácil acessar o mercado internacional e as novas altas taxas de juros americanas ajudam bastante no quesito atratividade”, diz. É válido salientar que os aportes mínimos em títulos do tesouro americano começam na faixa dos US$ 5 mil, algo em torno de R$ 25 mil.

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