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Luciano Telo: “Ritmo de corte de juros diminuiu devido ao cenário externo”

Para CIO da UBS WM, futuros cortes na taxa de juros pelo Banco Central estão atrelados às decisões do Fed

Luciano Telo: “Ritmo de corte de juros diminuiu devido ao cenário externo”
Luciano Telo, executivo-chefe de investimentos (CIO) para o Brasil no UBS Global Wealth Management
O que este conteúdo fez por você?
  • De acordo com Telo, há espaço para um corte na taxa Selic ainda maior do que o projetado atualmente pelo mercado, de 9,75% no final deste ciclo
  • UBS comunicou os investidores que, se os dados continuarem conforme o esperado até junho, com inflação e criação de empregos em linha com as projeções de mercado, haverá um corte de juros de 0,25%
  • "A lógica para o ano é a visão de que este é um momento favorável para os ativos de risco, dadas as condições de inflação controlada e juros em queda no Brasil", diz Telo

O Federal Reserve (Fed) deve realizar um corte de juros no próximo dia 12 de junho, em 0,25%, diz o executivo-chefe de investimentos do UBS Wealth Management no Brasil, Luciano Telo. A decisão pode impactar o Banco Central brasileiro, que deve realizar os próximos movimentos considerando os rumos do banco americano.

No relatório Investing in Brazil: Market Conundrum, enviado com exclusividade para o E-Investidor, o banco diz que há espaço para cortes na taxa Selic ainda maiores do que o projetado atualmente pelo mercado, de 9,75% no final deste ciclo. Diante deste cenário, o UBS recomenda ações e títulos indexados à inflação aos investidores e aponta ativos globais e títulos

Ainda de acordo com o relatório, não há sinais de uma recessão chegando a curto prazo nos Estados Unidos. A projeção do banco é de uma desaceleração lenta na atividade econômica e na inflação norte-americana. O banco comunicou aos seus clientes que, se os dados continuarem conforme o esperado até junho, com inflação e criação de empregos em linha com as projeções de mercado, haverá um corte de juros de 0,25% pelo Fed.

Enquanto isso, os mercados brasileiros têm reagido negativamente aos dados econômicos recentes, os quais, em geral, têm sido positivos. Se por um lado, a economia mostra um crescimento mais forte do que o esperado, as ações estão caindo por outro, e, embora os dados de inflação sejam benignos, as taxas estão aumentando. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) expandiu 0,60% em janeiro em comparação com o mês anterior.

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Segundo Telo, o mercado está aguardando uma definição em relação à inflação americana e ao espaço que o banco central americano tem para cortar os juros. “Enquanto […] esse cenário de incerteza persistir, o impulso do mercado permanece contido. O próximo trimestre ainda será marcado por essa indecisão, até que haja uma definição clara”, afirma.

E-Investidor – Quais as perspectivas que o UBS tem fornecido para seus clientes diante do cenário atual? 

Luciano Telo – O primeiro trimestre foi um período em que o mercado global reajustou um pouco as expectativas de corte de juros. Esperava-se que o corte de juros nos Estados Unidos iria ser rápido, e que podia acontecer até em março. Mas, nós tínhamos a convicção de que se fosse para acontecer, ocorreria na metade do ano. Mesmo esse corte é colocado em dúvida por 50% pelo mercado, que acredita que deve acontecer depois. Nós no UBS ainda cremos que vai ser em junho. Até o corte, o mercado deve balançar bastante, porque ele está ansioso e reage vigorosamente a cada dado novo, o que pode resultar em um trimestre volátil.

Estamos comunicando aos investidores que, se os dados continuarem conforme o esperado até junho, com inflação e criação de empregos em linha com as projeções de mercado, nossa visão é de um corte de juros de 0,25% pelo Fed. O mercado anteriormente esperava cortes mais rápidos e intensos, mas agora estamos trabalhando com a expectativa de três cortes de 0,25%. Este é um cenário que oferece alguma melhoria nos ativos, mas sem os impactos dramáticos de cortes rápidos nos juros. Este é um ambiente de crescimento mais moderado e construtivo.

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Estamos num momento que todo mundo prevê mais cortes de juros, mas até quando? Tem risco dos juros não caírem mais no Brasil?

Existe esse risco sim, no Brasil. Mas, na nossa perspectiva, ainda há espaço para mais cortes. Precisamos considerar a inflação, que está relativamente controlada e pode até diminuir nos próximos meses, porém, o País não está imune ao cenário global. O que percebemos na comunicação do Banco Central é que eles estão diminuindo o ritmo de cortes de juros, não por preocupações com a inflação no Brasil atualmente, mas principalmente devido ao cenário externo e às expectativas do mercado em relação à inflação futura. O mercado parece preocupado com o que acontecerá em 2025.

A preocupação principal é externa, especialmente se começarmos a cortar juros antes dos Estados Unidos. Precisamos ter cuidado para não seguir o caminho do Chile, que cortou juros precipitadamente e enfrentou desvalorização da moeda. Um fator novo a considerar é o recente aumento do preço do petróleo para mais de US$80, o que pode mudar o jogo. O Copom terá que encontrar um equilíbrio entre as restrições externas, os juros nos EUA determinados pela inflação global, e as expectativas de equilíbrio fiscal e inflação dentro do Brasil.

O UBS acredita que o BC pode cortar até mais do que o esperado?

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Na próxima reunião do Banco Central, em 8 de maio, espera-se um corte de 0,50, o que faria a Selic diminuir de 10,75 para 10,25, correto? Na reunião seguinte, em 19 de junho, tanto o mercado quanto nós acreditamos que é mais provável que ela caia para 10. Se observarmos a taxa esperada para junho, conforme projetado, que é de 9,75 no final deste ciclo, a diferença é de apenas 0,25. Portanto, há a possibilidade de uma surpresa. Mas, enquanto a reunião do Copom será dia 19, a do Fed será no dia 12. Se o Banco Central americano cortar em junho, o mercado também projetará mais cortes no futuro.

E o Federal Reserve (Fed)?

Nossa previsão é que o corte ocorra em junho. Mas, o mercado está dividido. Se isso não ocorrer, acreditamos que o Fed poderá agir no terceiro trimestre, já que manter os juros nos níveis atuais nos Estados Unidos poderia desacelerar a inflação e a atividade econômica. O Banco Central pode optar por esperar mais tempo para permitir essa convergência, mas eventualmente deverá encontrar espaço para a redução.

Com esse cenário, há uma espécie de “ansiedade” por parte do mercado. Quais são as suas recomendações para os investidores neste momento? 

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Estamos vivendo um momento em que a inflação está sob controle no Brasil, mas os juros ainda não estão caindo globalmente. Este deveria ser um ano positivo para os ativos de risco, porém não tem sido assim. Uma das nossas estratégias é mais de curto prazo, considerando que a taxa de juros no Brasil está alta, em 10,75%, enquanto a inflação, em torno de 3,5%. Isso significa que você pode obter ganhos reais, com seu patrimônio crescendo acima da inflação, simplesmente ao investir no CDI.

Quanto à nossa estratégia, procuramos manter uma carteira equilibrada, representando diversas classes de ativos, visando um horizonte de investimento de uma década. Atualmente, nossa alocação média inclui cerca de 25% em ativos ligados à inflação no Brasil, 12,5% em ativos ligados à Bolsa, 25% em multimercados, 12,5% de pré-fixados e o restante em pós-fixados e indexados à Selic. Esta alocação é de um cliente médio. É um pouco mais ligada à inflação (+5%) e ações brasileiras (+2,5%) do que o ano passado. A lógica para o ano é a visão de que este é um momento favorável para os ativos de risco, dadas as condições de inflação controlada e juros em queda no Brasil.

O senhor poderia detalhar um pouco mais as análises sobre pré-fixados e ativos ligados à inflação?

Começando por renda fixa, há o espaço para os pré-fixados ainda maturar. Achamos que essa assimetria ainda é favorável. O problema é que o sinal de fora tem demorado e as taxas tem oscilado muito. Porém, pensando no ano inteiro, é importante manter essa posição. Mesma coisa acontece com os ativos ligados à inflação. Estamos batendo quase 6% de juros acima em IPCA+.

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Tivemos esse índice no momento pré-impeachment, em que tivemos uma situação fiscal mais complicada e com muita desconfiança em relação ao modelo adotado pelo governo. Por mais que tenhamos sinais conflitantes hoje em dia, a arrecadação aumentou desde janeiro. Se havia alguma preocupação com a política fiscal, ela diminuiu um pouco. Apesar de que a retórica não tem sido na direção de segurar gastos. E o mercado está pedindo mais prêmio e incorporando incertezas externas. De uma maneira geral, quem compra esses ativos ganha dinheiro, se os carregarem por quatro ou cinco anos.

Olhando para o próximo trimestre, qual deve ser o comportamento do mercado neste período?

O que estamos observando para o próximo trimestre é que o mercado está aguardando uma definição em relação à inflação americana e ao espaço que o banco central americano tem para cortar os juros.  Portanto, enquanto  houver a espera por cortes de juros no exterior e esse cenário de incerteza persistir, o impulso do mercado permanece contido. O próximo trimestre ainda será marcado por essa indecisão, até que haja uma definição clara.

Ainda de acordo com o relatório, os mercados brasileiros reagiram mal aos recentes dados econômicos, que têm sido positivos em geral. Quais são as causas dessa reação?

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O que estamos observando aqui é algo que chamamos de paradoxo do mercado. Apesar de termos tido dados favoráveis no Brasil, os juros locais aumentaram e a bolsa brasileira não teve um desempenho tão bom quanto outras bolsas internacionais. Isso ocorre principalmente devido ao cenário externo, onde os juros dos títulos do Tesouro americano (ou treasuries) continuam elevados. A taxa de 10 anos desses títulos tem se mantido acima de 4,20%, o que é considerado alto, especialmente considerando-se que a expectativa de inflação em torno de 2%. Isso cria um prêmio de juros real muito alto nos Estados Unidos, o que afeta diretamente os mercados emergentes, especialmente o Brasil, conhecido como um país “alto beta”, ou seja, muito sensível às mudanças no cenário global.

Essa situação paradoxal só será resolvida quando os juros dos títulos do Tesouro americano recuarem. Não basta apenas uma redução nos juros locais, é necessário que os juros de longo prazo nos EUA também diminuam. Um exemplo disso foi visto em novembro do ano passado, quando a taxa dos treasuries caiu abaixo de 4%, o que impulsionou fortemente a bolsa brasileira.

Um aumento da confiança ocorreu tanto nas expectativas para os próximos meses quanto nas avaliações do presente, de acordo com o relatório do UBS. A que se deve tais condições? Como o investidor pode aproveitar esse momento?

O Brasil está crescendo de forma relativamente boa, a inflação está controlada e os juros estão em queda. Isso cria um ambiente propício para investimentos, pois, historicamente, os ativos tendem a reagir positivamente quando os juros caem de maneira sustentável, desde que não causem impactos negativos no câmbio e que a inflação permita essa queda. Para os investidores que estavam muito expostos à taxa Selic no passado, devido a receios com a economia brasileira, agora pode ser um bom momento para diversificar a carteira.

Os ativos com maior risco não estão tão bem. Quais são suas recomendações e como os investidores arrojados e moderados devem adequar suas estratégias?

A Bolsa brasileira caiu 5% em janeiro, depois em fevereiro e março não houve um desempenho claro. Por isso, investir em juros ligados à inflação no longo prazo pode ser uma estratégia sensata. Quanto aos investidores mais arrojados, é recomendável montar uma carteira com posições em títulos de longo prazo indexados à inflação, debêntures de infraestrutura e um pouco mais de exposição à Bolsa, aproveitando os ativos a longo prazo. Para os investidores que mantiveram uma postura mais leve em suas posições, pode ser uma oportunidade para adicionar um pouco mais de risco.

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