

O pacote de tarifas recíprocas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no dia 02 de abril e que impôs alíquotas entre 10% a 34% sobre importações de diferentes países foi classificado por Luis Stuhlberger com um “choque de proporções históricas”. O famoso Fundo Verde, que vinha com nível de risco bastante reduzido, fez mudanças na estratégia após o tarifaço de Trump, aumentando “levemente” a posição vendida – que aposta na queda – em bolsa global através de opções. A alocação em bolsa brasileira segue zerada, mostra a carta de gestão da Verde Asset referente a março.
Em março, o Fundo Verde rendeu 0,58%, abaixo do retorno de 0,96% do CDI no mês, com ganhos em crédito, petróleo e inflação implícita no Brasil. As perdas vieram das posições em inflação americana e dos livros de ações.
No acumulado do primeiro trimestre de 2025, o fundo rendeu 2,79%. O CDI deu 2,98%.
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Na carta, Stuhlberger destaca que o mês de março trouxe a continuidade da escalada no nível de incerteza nos mercados, o que levou o S&P 500 a uma queda de 5,75% no mês. Uma pequena prova do que viria nos dias subsequentes. Como mostramos aqui, nos dois pregões após o anúncio das tarifas recíprocas de Trump, as ações americanas perderam US$ 5,4 trilhões em valor de mercado.
Para o gestor, a reação do mercado é razoável; um “clássico” cenário de aversão a risco originado nos Estados Unidos. “A tarifa efetiva que os EUA aplicam em suas importações alcançou o maior nível desde a Grande Depressão dos anos 1930. Esse inclusive é um bom paralelo histórico, o Smoot-Hawley Tariff Act de 1930 nasceu como uma política para proteger a economia americana dos desafios de uma recessão, e dado o ciclo de retaliação, acabou contribuindo para piorar de maneira significativa o ciclo econômico”, diz o documento. “Nos parece que os impactos do ‘Dia da Liberação’ (Liberation Day) de Trump se arriscam a ficar na história da mesma maneira que seu similar de um século atrás.”
A aposta é que a medida levará a um desaceleração econômica importante, graças à “explosão de incertezas” sobre cadeias de suprimentos globais, que tende a paralisar decisões de investimento em boa parte das grandes corporações. O risco inflacionário em um contexto de desaceleração da demanda – que Stuhlberger chamou de “choque estagflacionário” – também deve dificultar a vida dos bancos centrais.
Dado o contexto incerto, mesmo com as quedas, a Verde acha que é cedo para dizer se os ativos ficaram baratos. Além da mudança via opções em bolsa global, para abril, o fundo voltou a comprar inflação nos EUA e montou posições vendidas no renminbi chinês contra o euro e o dólar. A alocação em cripto e a pequena posição comprada em petróleo se mantêm, assim como os livros de crédito high yield local e global.
No Brasil, investidores entre Vênus e Marte
A Verde continua zerada em Bolsa brasileira, mesmo após um novo desempenho positivo do Ibovespa em março, que a gestora atribui ao fluxo estrangeiro e uma rodada de otimismo com as eleições de 2026. Com a correção das ações americanas, há pouco espaço para que os ativos domésticos fiquem mais caros, diz Stuhlberger na carta.
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“Nos parece um otimismo excessivo tão longe do pleito e diante de um panorama global tão complexo, ainda mais desconectado de uma queda nas taxas de juros longas. Similar a outros momentos de mercado, temos a turma da renda fixa em Vênus e os investidores de renda variável em Marte”, avalia.
Do lado macro, o novo consignado, anunciado pelo governo federal em março, tende a dar um impulso positivo de crédito na economia ao longo do ano, melhorando as perspectivas de crescimento. Mas dificultando novamente o trabalho do Banco Central. “Vemos um governo apertando todos os botões possíveis e imagináveis na busca de estabilizar sua popularidade. É mais um capítulo da longa novela de acelerador fiscal versus freio monetário que o país vive nos últimos anos.”