Em termos comparativos, trata-se de um retorno de 3.481% do CDI, que rendeu 1,06% no período. O índice de hedge funds da Anbima, associação que representa as entidades do mercado financeiro e de capitais, o IHFA, que funciona como benchmark dos multimercados, subiu 4%, o seu melhor mês desde 2007.
Na carta de gestão de abril, a gestora destaca que quase metade do resultado positivo veio da posição comprada em ações domésticas, combinada com a venda das ações da Petrobras, um sinal do novo direcionamento em relação aos ativos ligados a petróleo, que, por muitos anos, figuraram dentro da estratégia dos fundos da casa.
O cenário político e fiscal brasileiro acabou em segundo plano em meio a toda a volatilidade global vista no último mês, causada pela guerra comercial via tarifas entre os Estados Unidos e a China. Dentro dessa dinâmica, a Vista manteve a carteira “praticamente inalterada”, com exposição a ações de qualidade e bond proxies; empresas cujo desempenho, previsibilidade de retornos e estabilidade se assemelham a títulos públicos, como nomes do setor de utilities.
O entendimento é que mudanças mais estruturais no mercado brasileiro dependem de resoluções que só as eleições de 2026 vão trazer. Ainda assim, a solidez operacional e financeira das empresas brasileiras – pouco alavancadas, com margens razoáveis e negociadas com grandes descontos – justifica o investimento ainda que a disputa política esteja distante, diz a gestora.
Vendido em EUA, comprado em Argentina
Se a visão é positiva para as ações brasileiras, para o mercado americano, nem tanto. O presidente dos EUA, Donald Trump, dominou a pauta dos investidores globais em abril, aumentando os receios com o ritmo da economia mundial em um novo contexto de acordos comerciais; uma incerteza que levantou questionamentos sobre o excepcionalismo americano, tese que até alguns meses foi consenso no mercado.
A Vista começou a montar posições vendidas em ações nos EUA na virada de 2025, posição que permanece no portfólio dos fundos macro e também rendeu ganhos em abril.
“Diante da concentração histórica de capital em ativos americanos e valuations que, em muitos casos, operam bem acima das médias de longo prazo, o cenário exige um grau de convicção alto para justificar a manutenção dessa assimetria. Qualquer erosão marginal na percepção de estabilidade ou retorno relativo dos EUA pode, por si só, desencadear realocações marginais importantes”, destaca a gestora.
Não é o caso de uma realocação estrutural do capital global, que não teria outros destinos óbvios pelo mundo. Mas um ajuste marginal que, por si só, já seria suficiente para gerar movimentos relevantes nos preços dos ativos, especialmente aqueles nomes dos EUA que vinham das máximas históricas. O fundo tem uma operação vendida em bolsa americana via opções, contrabalanceada pela alocação comprada em emergentes, como Brasil, Argentina e China, essa última também via opções. “Enquanto os EUA operam com pouco espaço para decepção, muitos emergentes seguem negociando com bastante margem de segurança de valuation que, ao menor sinal de normalização, pode gerar assimetrias positivas.”
As posições estruturais em urânio, ouro e Argentina, que a gestora mantém há tempos, também tiveram peso importante dentro do desempenho de abril.
O entendimento é de que o país vizinho está passando por um experimento econômico e político, que traz oportunidades relevantes, mas também demanda uso de proteções nos próprios ativos. Essa tem sido a abordagem da Vista no mercado argentino nos últimos dois anos.
Em abril, o presidente Javier Milei conseguiu um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), num processo de liberalização cambial que busca corrigir distorções causadas pelas restrições de compra de dólar, repasse de lucros ao exterior e comércio internacional que vigoraram por anos no país. “Seguimos acreditando que a relevância do que está em curso na Argentina ainda é subestimada pelos mercados”, diz a Vista. “Do ponto de vista de valuation, o quadro segue favorável: as ações — especialmente do setor bancário — continuam negociando a múltiplos atrativos, abaixo dos bancos brasileiros já consolidados e muito distantes dos níveis observados durante o governo Macri, cujo impulso reformista foi consideravelmente menor do que o atual.”
Petróleo de volta ao portfólio, mas com outro viés
Para além do bom resultado, o mês de abril trouxe uma mudança na estratégia da Vista. E tem a ver com o petróleo, estratégia que a gestora carregou por muitos anos e que lhe rendeu fama e bons retornos, desempenhos muitas vezes na contramão do mercado entre 2019 e 2023.
Em 2021, o fundo macro da casa teve um dos melhores resultados da indústria apostando na alta da commodity, que subiu quase 50% naquele ano. Depois, em 2022, quando investidores apostavam que o setor de óleo e gás teria maiores dificuldades em meio à guerra na Ucrânia e uma economia global ainda em recuperação após a pandemia da covid-19, a gestora manteve a alocação comprada. E colheu bons frutos novamente. A posição comprada foi encerrada no fim do primeiro trimestre de 2023, quando o fundo teve um drawdown na casa de 30%.
Em 2025, o petróleo voltou à carteira da Vista, com uma aposta diferente: de queda dos preços. Em março, a gestora montou posições vendidas na commodity, pois via um problema de sobreoferta. E abril confirmou essa tese.
No início do mês, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Países Aliados (Opep+) surpreendeu o mercado ao anunciar que aumentaria a produção em mais de três vezes em relação ao volume planejado para maio, de 135 mil para 411 mil barris diários. “Embora o noticiário tenha sido dominado pelo chamado ‘Liberation Day’ de Donald Trump, é possível que o evento de maior relevância para os mercados no mês tenha ocorrido no dia seguinte – quando a Opep+ anunciou um aumento de produção, alterando de forma sutil, mas significativa, a dinâmica de oferta global”, diz a carta de gestão.
A incerteza em relação ao equilíbrio do mercado de petróleo já vinha no radar da gestora desde setembro de 2024, que duvidava se o acirramento do risco geopolítico seria suficiente para sustentar os preços em patamares mais altos no longo prazo. O entendimento era que o conflito do Oriente Médio, muito em pauta na ocasião como um gatilho positivo para o Brent e o WIT, apenas tirava o foco do mais importante; a estratégia que a Opep vinha adotando de cortar a produção temporariamente para retomá-la na sequência.
Para a Vista, o cartel tem se tornado menos relevante na determinação dos preços, já que o crescimento da produção vem especialmente de países não membros, como EUA e Canadá. Agora, a commodity tende a operar como outros ativos, por pressões de oferta e demanda.
“Esse tipo de dinâmica sugere que os parâmetros tradicionais para analisar o petróleo e as empresas, ligadas a ele precisam ser revistos”, diz a carta. “A nova âncora poderá ser, com probabilidade crescente, o preço que inviabiliza a produção americana e canadense. E tudo indica que esse número é significativamente mais baixo do que os níveis atuais — com risco real de um overshoot para baixo no curto prazo.”
Nesse sentido, ao longo de abril, o fundo macro da casa encerrou a exposição vendida em petróleo via opções montadas no mês anterior. Agora, detém posições vendidas em ações de empresas produtoras da commodity nos Estados Unidos. A gestora também continua vendida em Petrobras, um call que prometeu explicar nas cartas de gestão dos próximos meses.
A Vista Capital é uma gestora focada na estratégia macro, com R$ 2 bilhões de ativos sob gestão, fundada em 2014 por João Landau, hoje CIO. Desde 2020, o ex-presidente do Banco Central e do BNDES e um dos idealizadores do Plano Real, Pérsio Arida, integra o time da casa como sócio conselheiro.