- No total, a varejista deve cerca de R$ 41,2 bilhões. Deste montante, mais da metade (R$ 26,4 bilhões) seria referente a débitos com 12 instituições financeiras
- Segundo a XP Research, das 12 instituições financeiras credoras da varejista, as três mais expostas relativamente ao risco de calote são BTG (BPAC11), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11)
- Para quem tem os papéis dos bancões na carteira, a recomendação é não se desesperar ou sair vendendo as ações somente por conta da exposição à Americanas
A Americanas (AMER3) entregou para a 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (25) uma lista com uma lista de 7,7 mil credores. No total, a varejista deve cerca de R$ 41,2 bilhões. Deste montante, mais da metade (R$ 26,4 bilhões) seria referente a débitos com 12 instituições financeiras, conforme apurado pelo Estadão/Broadcast.
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No topo do ranking, aparece o alemão Deutsche Bank (DBAG34), com quem a Americanas teria uma dívida de R$ 5,2 bilhões. Entretanto, o banco seria apenas o agente responsável pela emissão dos títulos de dívida da empresa (bonds) no exterior, e não por qualquer tipo de empréstimo junto à companhia.
Em relação a outros bancos, especialistas esperam um impacto significativo de curto prazo, que pode aparecer nos resultados relativos ao 4° trimestre de 2022 ou ao 1° trimestre de 2023. Segundo a XP Research, das 12 instituições financeiras credoras da varejista, as três mais expostas relativamente ao risco de calote são BTG (BPAC11), Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11).
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A casa de análises aponta, em relatório, que os R$ 3,5 bilhões que o BTG tem em empréstimos a Americanas representam 2,4% da sua carteira de crédito e 8,3% do seu patrimônio líquido.
Já o Bradesco possui um volume de empréstimos de R$ 4,8 bilhões, nominalmente maior, mas que significa 0,5% de seu portfólio de crédito e 3,1% do patrimônio líquido. Por último, o Santander aparece com um valor total emprestado de R$ 3,6 bilhões – 0,6% do portfólio de crédito e 4,4% do patrimônio líquido.
As três instituições, segundo a XP, devem ter o lucro trimestral impactado entre 20% e 30%, considerando provisões de 30% a 50% do valor das dívidas, geralmente praticadas nestes casos.
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Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) tem exposições relativas muito menores em comparação aos pares e devem ter seus lucros impactados em 10%. O primeiro tem um volume de empréstimos de R$ 2,7 bilhões, que representa menos de 2% do patrimônio líquido e 0,2% da carteira de crédito.
A estatal possui o menor valor nominal em empréstimos, de R$ 1,3 bilhão, que representa 0,9% do equity e 0,1% da carteira de crédito.
Recomendações e perspectivas
As ações do BTF (BPAC11) caem cerca de 9% desde o dia 11 de janeiro, quando a Americanas anunciou as “inconsistências contábeis” bilionárias em seus balanços. Mesmo que o banco tome um calote de 100%, há quem veja os papéis já bastante depreciados. É o caso de Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos.
Ele alega que a possibilidade de não receber nada dos R$ 3,5 bi devidos não afeta a solidez do banco. “Não temos recomendação, mas acreditamos que as ações já caíram excessivamente”, afirma Conde. O especialista também tem recomendação de compra para Itaú e Banco do Brasil, mais resilientes ao escândalo contábil.
Ricardo Pompermaier, estrategista chefe da Davos Investimentos, também vê ITUB4 e BBAS3 como os preferidos do mercado. Não somente pela menor exposição à Americanas, mas pelos resultados mais consistentes nos últimos meses. No entanto, ele pondera que os bancos mais expostos poderão se recuperar desta eventual inadimplência e que a saúde financeira deles não está em jogo com o caso.
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“É um evento que tem impacto na rentabilidade e no lucro de curto prazo, mas que não impacta a solvência de longo prazo. Os bancos estão bem capitalizados para absorver essa perda”, ressalta Pompermaier.
Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, mantém a recomendação de compra para os papéis do BTG, mesmo com a maior exposição ao “risco Americanas”. A analista mostra que o baque das provisões no resultado trimestral dos bancos pode se dissipar quando considerado o ano cheio.
BTG, Santander e Bradesco, segundo Quaresma, devem perder cerca de 15%, 10% e 7% da linha final do resultado no acumulado de 2023, respectivamente. Na outra ponta, Banco do Brasil e Itaú devem ter de 2% a 3% do lucro anual impactado. Os cálculos têm como base uma perda de 50% do valor emprestado para a Americanas.
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No caso do BTG, ainda há uma perspectiva de que o banco possa reaver parte da dívida fora da recuperação judicial, já que entrou com recurso antes que a varejista solicitasse o processo. “Caso seja vitorioso em reaver os recursos, esse impacto de 15% poderia se reduzir para 5%. No caso de Santander e Bradesco, a situação nos parece um pouco pior, já que eles não haviam entrado com recurso judicial antes do movimento da Americanas”, afirma Quaresma. A analista da Empiricus também tem recomendação de compra para Itaú.
Vender ou manter?
Para quem tem os papéis dos bancões na carteira, a recomendação é não se desesperar ou sair vendendo as ações somente por conta da exposição à Americanas. Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, por exemplo, tem boas perspectivas para Bradesco. “Ainda achamos que o Bradesco terá um ano bom pela frente. Não será esse ponto que deve reverter as visões sobre a companhia”, afirma.
Fábio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research, ressalta que o momento de vender é antes da queda, não agora que os papéis estão sendo penalizados.“Se um banco que vale R$ 100 bilhões cair 2%, já caiu toda a dívida que tinha com a Americanas. As instituições financeiras têm capacidade de recuperar esses valores ao longo do tempo”.
Ele tem preferência por ITUB4 e BBAS3, pelos resultados apresentados até agora. “Santander e Bradesco seriam bancos para se evitar entrar agora. Mas, para quem tiver os dois na carteira, não há necessidade de vender”, afirma Sobreira.