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As 10 ações do Ibovespa que mais valorizaram no 1º semestre de 2022

As ações da Cielo (CIEL3) e da Eletrobras (ELET3;ELET6) tiveram as maiores altas do ibovespa

As 10 ações do Ibovespa que mais valorizaram no 1º semestre de 2022
As companhias de setores mais defensivos e as com preço bastante descontado estão entre as empresas que mais valorizaram em 2022. (Foto: Envato Elements)
  • As empresas de setores considerados mais defensivos foram as que prevaleceram entre as maiores altas do ibovespa
  • As companhias que estavam com preços descontados e com bons resultados operacionais apresentados no 1t22 também entraram na lista dos maiores ganhos do Ibovespa
  • Já o principal índice da B3 encerrou o período com uma queda de 5,9% aos 98.541,95 mil pontos.

Fechar o primeiro semestre de 2022 em alta foi um privilégio de poucas empresas listadas na Bolsa de valores. A aproximação das eleições presidenciais, a alta de juros e o risco de recessão nos principais mercados globais trouxeram ainda mais volatilidade para o mercado financeiro nos últimos meses.

O cenário pessimista impactou diretamente na performance dos ativos locais. As empresas de setores considerados mais defensivos e com preços descontados (quando o valor da ação está abaixo da média do setor que a empresa pertence ou da sua média histórica) conseguiram descolar dos pares e se destacar no acumulado do semestre.

Segundo Mário Goulart, analista da O2 Research, o resultado mostra um movimento por busca de ativos com bons retornos financeiros em momentos de volatilidade no cenário externo, causado pela guerra no Leste europeu e o temor de recessão econômica, e interno, com a proximidade das eleições. “Parece natural que o investidor busque empresas com receitas mais estáveis e que sejam boas pagadoras de dividendos”, diz.

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Nesse contexto, a Cielo (CIEL3) foi o grande destaque do Ibovespa no período. As ações da empresa de meios de pagamentos encerraram o primeiro semestre em alta acumulada de 65,9%. Melhorias operacionais reportadas nos últimos meses contribuíram para o resultado.

No balanço referente a janeiro a março deste ano, por exemplo, a companhia conseguiu reduzir os gastos em 0,5% em comparação ao primeiro trimestre do ano anterior. A Cielo também realizou a conclusão da venda da MerchantE Solutions, empresa de pagamentos nos Estados Unidos, por não atuar no seu principal segmento de mercado. O “desinvestimento” trouxe um acréscimo de R$ 1,3 bilhão no caixa e elevou o lucro líquido em quase 36% no primeiro tri de 2022, em comparação ao mesmo período do ano anterior.

“A eficiência operacional, redução de custos e aumento de margens foram os fatores que impactaram positivamente para a ação”, avalia Guilherme Ishigami, broker de renda variável da RJ Investimentos.

Outro fator que favoreceu o papel foi a entrada de capital estrangeiro no mercado doméstico nos primeiros meses do ano. Como as ações estavam bastante descontadas em virtude da entrada de novos players de meios de pagamento no mercado, como a Stone (STOC31) e a PagSeguro (PAGS34), a companhia se tornou atrativa para os investidores internacionais.

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“O fluxo externo veio primeiro para as commodities e bancos que são os principais setores da Bolsa. Depois, os investidores olharam para as empresas que estavam descontadas e interessantes. E a Cielo estava bem descontada”, explica Matheus Jaconeli, analista de investimentos da Nova Futura Investimentos,

As ações preferenciais (ELET6) e ordinárias (ELET3) da Eletrobras aparecem em sequência no ranking das maiores altas do Ibovespa, mas com rentabilidade acumulada bem distante da primeira colocada. As altas de 47% para ELT6 e de 40,8% para ELET3 foram impulsionadas com a conclusão do processo de privatização da companhia, em junho.

Com a saída do governo do controle, a expectativa do mercado é que a gigante do setor elétrico tenha uma melhora operacional, o que pode aumentar a receita da empresa no médio e longo prazo. Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos, cita a renúncia coletiva dos conselheiros administrativos da empresa como um dos primeiros passos para melhor eficiência.

“Na época da renúncia, a própria empresa indicou 10 novos nomes para o conselho. Alguns nomes são renomados no mercado e com bastante experiência”, ressalta Moura. Além disso, há um desconto dos múltiplos de preço da Eletrobras em comparação a outras empresas do setor elétrico que deve “desaparecer” nos próximos meses.

A Hypera também entrou no ranking das maiores altas por entregar 36,4% aos acionistas no semestre. A valorização reflete os bons resultados operacionais apresentados no primeiro trimestre de 2022, como o aumento de 27,6% da receita líquida em um ano. Parte desses ganhos foi impulsionado pela incorporação do portfólio de 18 produtos isentos de prescrição da Takeda, biofarmacêutica com sede no Japão, que completou um ano no último mês de janeiro.

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A compra do portfólio custou para a Hypera US$ 825 milhões, mas o investimento ajudou a farmacêutica a se tornar líder, agora com uma fatia de 20% de participação no mercado.

Segundo a Ágora Investimentos, a sinergia de aquisições recentes, assim como os investimentos realizados em marcas líderes, foram os fatores para atratividade do papel. "As vendas da Hypera dobraram em um ano após o fechamento do negócio com a Takeda", ressalta a Ágora. Para os próximos meses, a corretora também tem boas perspectivas para a companhia com o reajuste de até 10,89% no preço dos medicamentos, autorizado pelo governo federal.

A BB Seguridade entrou no ranking como a quarta colocada ao registrar uma alta de 30%. Segundo a Ágora, ao contrário de alguns ativos da bolsa, a companhia se beneficia com o ciclo de aperto monetário e, por isso, é vista pelos investidores como um bom investimento neste período de volatilidade. "O papel tem uma característica mais defensiva apropriado para o momento atual e possui uma expectativa de boa rentabilidade por meio de dividendos (dividend yield de 7-8%)", afirma a corretora.

Já os ganhos operacionais reportados no primeiro trimestre de 2022  foram os principais responsáveis por colocar a Minerva Foods nas 10 maiores altas do Ibovespa. De acordo com a companhia, as exportações de carne bovina representaram 70% da sua receita bruta. Segundo Victor Martins, analista sênior da Planner Corretora, o resultado consolida a empresa como líder na exportação de carne bovina na América do Sul, com aproximadamente 20% de market share (participação de mercado).

“As perspectivas para os próximos períodos seguem positivas, notadamente na operação de mercado externo, especialmente na Ásia, Oriente Médio e nos EUA (que já representa quase 10% das exportações consolidadas da Minerva)”, destaca Martins.

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As ações CPFL Energia e do Banco do Brasil também incorporam o ranking. Os papéis da Petrobras também entraram na lista, apesar da saída de dois presidentes da estatal neste semestre. “As ações da Petrobras pegaram carona na forte valorização do petróleo brent. A commodity registrou fortes ganhos em meio às restrições de oferta do petróleo após o início da Guerra Rússia e Ucrânia”, diz a Ágora.

Ibovespa em queda

O Ibovespa encerrou o primeiro semestre deste ano com uma queda de -5,9% aos 98.541,95 mil pontos. A queda do principal índice da B3 era esperada diante do pessimismo nos mercados globais, puxada, principalmente, pela alta da inflação. No último dia 15, o Banco Central (BC) brasileiro elevou a taxa Selic para 13,25% ao ano. O Federal Reserve (Fed), autoridade monetária dos Estados Unidos, adotou a mesma política e decidiu elevar em 0,75 ponto percentual a taxa de juros do país.

Esses movimentos tiram o apetite ao risco dos investidores que passam a ter mais cautela antes de aplicar os seus recursos. Segundo Mário Goulart, analista da O2 Reserach, isso acontece porque os investidores tendem a buscar ativos de renda fixa por terem um menor risco e, por consequência, reduzem a sua posição na Bolsa. “Se os juros estão a 13,35% ao ano, o investidor não vai correr o risco de comprar uma ação em um momento que as empresas têm mais dificuldades de fazer resultados”, explica.

Já no cenário interno, o risco no campo fiscal agrava ainda mais o problema. Com a alta do petróleo, a Petrobras realizou reajustes no preço do combustível no país ao longo deste semestres. As altas desagradaram o governo por reduzir o poder de compra dos brasileiros em um ano eleitoral.

Segundo Guilherme Martins, assessor especialista em renda variável da EWZ Capital, a situação estimulou o debate no Congresso para a adoção de medidas que possam, de algum modo, impedir ou retardar a alta do preço dos combustíveis.

“Tivemos várias discussões em relação ao preço do combustível e o governo buscando estabelecer um teto para o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - tributo que está embutido no preço final do litro do combustível vendido para o consumidor). O governo começou também a discutir um auxílio para os caminhoneiros. Todo esse contexto trouxe uma preocupação para a saúde financeira do governo”, ressalta Martins.

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O resultado desta conjuntura macroeconômica foi a queda no percentual de companhias que fecharam o semestre no campo positivo. Segundo dados da plataforma TC/Economatica, nos primeiros seis meses de 2022, apenas 36,2% das companhias que compõem o Ibovespa encerraram em alta no acumulado do período.

O percentual é inferior em comparação às performances das companhias no primeiro semestre do ano passado e de 2019. O percentual só ganha do ano de 2020 quando iniciou a pandemia de covid-19 no mundo, causando forte queda nos mercados globais.

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